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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2010 Abby Green

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Passado indelével, n.º 1342 - julho 2018

Título original: In Christofides’ Keeping

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9188-525-2

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Epílogo

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Capítulo 1

 

 

 

 

 

Rico Christofides tentava conter a sua irritação e prestar atenção à mulher com que estava a jantar. O que se passava? Estava num dos restaurantes mais exclusivos de Londres, a jantar com uma das mulheres mais bonitas do mundo. Mas era como se alguém tivesse baixado o som e só conseguisse ouvir os batimentos do seu coração.

Via Elena a gesticular e a falar com uma alegria que lhe parecia exagerada enquanto mexia o cabelo ruivo e sedoso por cima do seu ombro, deixando o outro a descoberto. Fazia-o para o seduzir, mas não estava a conseguir.

Ele conhecia todos aqueles gestos. Vira muitas mulheres a fazê-los durante anos e sempre adorara. Mas naquele momento não sentia nenhum desejo por aquela mulher e lamentava o impulso de lhe telefonar quando soubera que estaria em Londres durante alguns dias.

Curiosamente, sentia-se arrebatado por uma lembrança interessante. Rico olhou para uma das empregadas e, imediatamente, alguma coisa na sua maneira de se mexer levou-o para trás no tempo, há dois anos exactamente. Deu por si a pensar na única mulher que não era como as outras, a única que conseguira quebrar o muro rígido de defesas que construíra à volta de si próprio.

Por uma noite.

Rico cerrou os punhos sob a mesa. Estava a pensar nela porque voltara a Londres pela primeira vez desde aquela noite, mas obrigou-se a sorrir em resposta a alguma coisa que Elena dissera. E, felizmente, ela continuou a falar.

Na noite em que conhecera Gypsy, se é que era o seu nome verdadeiro, estivera prestes a dizer-lhe quem era, mas ela pusera uma mão sobre a sua boca.

– Não quero saber quem és.

Rico olhara para ela, céptico. Certamente, sabia quem era, já que aparecera nos jornais durante toda a semana… Mas era tão jovem, tão bonita, tão encantadora, tão pura. E, pela primeira vez na sua vida, afastara o seu cinismo e as suas suspeitas, os seus companheiros constantes, e respondera:

– Muito bem, sedutora… E se dissermos os nossos nomes próprios?

Antes de ela poder responder e ainda a pensar de maneira arrogante que sabia quem era, ofereceu-lhe a sua mão:

– Rico… Ao teu serviço.

Ela apertara a sua mão, mas hesitara um segundo antes de dizer:

– O meu nome é Gypsy.

Um nome inventado, é claro. Tinha de ser. Rico rira-se e, mesmo naquele momento, dois anos depois, recordava como aquela gargalhada lhe parecera estranha.

– Como queiras, mas agora estou interessado em mais do que o teu nome…

Alguém deu uma gargalhada na mesa do lado, devolvendo Rico ao presente. Mas mesmo assim, sentiu uma pontada de desejo ao recordar o toque da sua pele, os seus corações a bater em uníssono, o abraço íntimo, tão ardente que teve de fazer um esforço para manter o controlo. E depois ela deixara escapar um gemido, fechando-se à volta dele, com o seu corpo sacudido pelos espasmos, e ele perdera a cabeça como nunca perdera antes.

– Rico, querido… – Elena estava a fazer beicinho com aqueles lábios demasiado vermelhos. – Estás a quilómetros daqui. Por favor, diz-me que não estás a pensar no teu trabalho enfadonho.

Rico tentou sorrir. O seu trabalho enfadonho e os milhões que ganhava no processo faziam com que mulheres como Elena o perseguissem. Apesar disso, mexeu-se, incomodado, na cadeira, pensando que estava excitado não com a mulher que o acompanhava, mas com a lembrança de outra, um fantasma do passado. Porque esse fantasma era a única mulher que não caíra aos seus pés.

Pelo contrário, Gypsy tentara afastar-se dele. E depois, na manhã seguinte, afastara-se definitivamente. Claro que ele a deixara sozinha na suíte. Sentia remorsos por o ter feito e Rico Christofides não tinha remorsos.

Novamente, tentou sorrir enquanto apertava a mão de Elena. E ela praticamente ronronou.

Rico ia pedir mais vinho à empregada quando o seu corpo reagiu de maneira inexplicável, como se sentisse alguma coisa que o seu cérebro ainda não registara.

Era a empregada em que reparara antes, a que despertara uma corrente de lembranças.

Estaria a ficar louco? À sua volta sentia-se um cheiro evocador… Algo que ficara no ar, atrás dela.

– Que perfume usas, Elena?

– Poison, da Dior – respondeu ela, inclinando-se sedutoramente. – Gostas?

Não, não era o seu perfume. Rico levantou o olhar novamente para procurar a empregada, que estava a apontar um pedido numa mesa próxima. Aquele cheiro evocador fazia-o pensar em…

Abruptamente, Elena levantou-se da cadeira.

– Vou à casa de banho. E, com um pouco de sorte, quando voltar não estarás tão distraído.

Apesar do tom de recriminação, Rico não se incomodou em levantar o olhar. Ficara hipnotizado com a empregada que estava a alguns metros. Tinha uma figura muito bonita de nádegas firmes e definidas sob o uniforme, que escondia umas pernas bem torneadas e uns tornozelos magros.

Rico olhou para a camisa branca, para o cabelo castanho-escuro, mas que, certamente, pareceria mais claro à luz do sol. Era muito encaracolado e tinha-o preso num coque, mas conseguia imaginá-lo quando estivesse solto. Quase como o cabelo de…

Então, abanou a cabeça. Porque é que a lembrança de Gypsy era tão vívida naquela noite?

A jovem virou-se um pouco para falar com um cliente e só então é que Rico pôde ver o seu perfil. Um nariz pequeno, recto, um queixo decidido e uma boca de lábios grossos…

Tinha de ser ela. Não estava a ficar louco.

Tudo pareceu acontecer em câmara lenta quando finalmente a jovem se virou na sua direcção. Estava a olhar para o seu caderno, anotando alguma coisa enquanto passava ao seu lado e, sem pensar, Rico levantou-se para a segurar pelo braço.

 

 

Gypsy virou-se ao sentir a mão no seu braço e, de repente, encontrou uns olhos cinzentos. Uns olhos cinzentos que ela conhecia bem.

E os seus pulmões deixaram de funcionar.

Não podia ser ele. Tinha de estar a sonhar… Ou era um pesadelo. Estava tão cansada que não estranharia nada se tivesse adormecido enquanto trabalhava.

Mas estava a olhar para uns olhos da mesma cor que os de… Era ele. O homem que aparecera nos seus sonhos durante quase dois anos. Rico Christofides, meio grego, meio argentino, empresário multimilionário, uma lenda.

– És tu – disse ele, num tom rouco.

Gypsy engoliu em seco. Uma vozinha dizia-lhe para se ir embora, para fugir dali.

Mas sentia-se como se estivesse sob a água. A única coisa que conseguia ver era os seus olhos, da cor do céu durante uma tempestade, fixos na sua alma. O cabelo preto, o nariz ligeiramente torcido, as sobrancelhas escuras, o queixo marcado… Tudo era tão familiar. Só que os seus sonhos não lhe tinham feito justiça.

Era tão alto e os seus ombros eram tão largos que não conseguia ver o que havia atrás dele.

Absurdamente, recordou a tristeza que sentira de manhã, ao ver que se fora embora e deixara um bilhete que dizia: O quarto está pago. Rico.

Alguém pigarreou ao seu lado, mas Rico não se mexeu e Gypsy não conseguia desviar o olhar. O seu mundo estava a destruir-se à sua volta.

– Rico? Passa-se alguma coisa?

Era uma mulher, uma voz que confirmava o que Gypsy não quisera saber. E devia ser a ruiva impressionante que vira há alguns minutos. Não podia acreditar que passara ao lado de Rico sem o ver…

Mas ele não parava de olhar para ela.

– És tu.

Gypsy abanou a cabeça, tentando dizer alguma coisa que fizesse sentido, alguma coisa que a tirasse daquele estupor estranho. Afinal de contas, fora apenas uma noite, algumas horas. Como é que um homem como ele podia recordá-la? Porque quereria recordá-la? E como podia sentir aquele desejo feroz?

– Lamento, deve ter-me confundido com outra pessoa.

Gypsy soltou o seu braço e dirigiu-se para a sala de empregados, receando começar a vomitar ali mesmo. Respirando fundo sobre o lavatório, a única coisa que desejava era fugir.

Desde que descobrira que estava grávida, soubera que algum dia teria de dizer a Rico Christofides que tinha uma filha. Uma filha de quinze meses com os olhos da mesma cor que os do seu pai.

Gypsy voltou a sentir náuseas, mas tentou controlá-las.

Recordava o terror que sentira com a ideia de se transformar em mãe e, ao mesmo tempo, a ligação imediata e profunda com o bebé que crescia no seu interior.

Vira como Rico Christofides tratava as mulheres que se atreviam a acusá-lo de ser o pai dos seus filhos e não tinha o menor desejo de se expor a essa humilhação pública. Embora tivesse a certeza de que conseguiria provar que ele era o pai.

Grávida e sentindo-se extremamente vulnerável face à possível reacção de Rico Christofides, Gypsy tomara a difícil decisão de ter Lola sem lhe dizer nada. Queria estar numa boa posição quando entrasse em contacto com ele. Trabalhar como empregada de mesa, embora fosse num restaurante de luxo, não era a situação ideal para lidar com alguém tão poderoso como ele.

E se não se fosse embora dali imediatamente, Rico Christofides lembrar-se-ia da mulher que sucumbira à tentação de ir para a cama com ele.

Tomando uma decisão, embora soubesse que o fazia impulsionada pelo pânico, Gypsy lavou a cara e foi procurar o seu chefe.

 

 

– Tom, por favor – suplicou. Ela odiava mentir, especialmente usando a sua filha para isso, mas não tinha alternativa. – Tenho de ir para casa. Lola ficou doente…

O seu chefe passou uma mão pelo cabelo.

– Sabes que hoje temos pouco pessoal. Não podes esperar uma hora?

Gypsy abanou a cabeça.

– Não, lamento, Tom. A sério, se pudesse ficar…

– Eu também lamento. Não quero fazê-lo, mas chegaste atrasada todos os dias durante as últimas duas semanas.

Gypsy ia protestar, dizer alguma coisa sobre as horas inflexíveis da pessoa que cuidava de Lola, mas o seu chefe interrompeu-a:

– És uma boa empregada, mas se te fores embora, receio que não tenhas um emprego para o qual voltar. É simples.

Gypsy recordou então o que sentira ao descobrir que o homem com que passara a noite era um dos homens mais poderosos do mundo e voltou a sentir uma onda de náuseas.

A ideia de voltar para a sala e tentar trabalhar com normalidade era inconcebível, de modo que Tom a despediria de todas as formas porque acabaria por deixar cair a sopa sobre algum cliente ou entornar o vinho…

Gypsy abanou a cabeça, antecipando o horror de ter de procurar outro emprego e agradecendo em silêncio por ter algumas economias no banco. Pelo menos, conseguiria subsistir durante algumas semanas…

– Lamento muito, mas tenho de ir.

O seu chefe encolheu os ombros.

– Eu também lamento porque não me dás outra opção.

Com um nó na garganta, Gypsy pegou na sua mala e saiu para o beco escuro e húmido na parte traseira do restaurante luxuoso.

 

 

Mais tarde, Rico estava na sala das suas águas-furtadas com as mãos nos bolsos das calças. O seu coração continuava acelerado e não tinha nada a ver com a bonita mulher de que se despedira depois do jantar, mas com a bonita empregada que desaparecera de repente.

Da primeira vez também desaparecera, mas então fora culpa dele.

Continuava a surpreendê-lo ter baixado a guarda daquela maneira com ela e recordava-se a vê-la dormir, atónito com a profundidade do seu desejo e com a resposta apaixonada dela.

Isso e o desejo avassalador de a proteger tinham feito com que saísse do quarto como se os cães do inferno o perseguissem. Ele nunca se sentia protector ou possessivo com as mulheres. Mas naquela noite, assim que a reconhecera, o desejo nascera novamente, como se não tivesse passado o tempo. E ela fugira outra vez.

Rico tirou um papel do bolso das calças. O gerente do restaurante dera-lhe o seu nome e os seus empregados já a tinham localizado. Agora tinha a morada de Gypsy Butler… Porque, aparentemente, era o seu nome verdadeiro.

E em breve descobriria o que achava tão atraente na mulher com quem fora para a cama uma noite, há dois anos, e porque Gypsy sentia a necessidade de fugir dele.

 

 

Na manhã seguinte, enquanto Gypsy voltava para casa do supermercado, empurrando o carrinho de Lola, continuava angustiada com o que acontecera na noite anterior.

Vira Rico Christofides e perdera o seu emprego.

As duas coisas de que tinha mais medo tinham acontecido ao mesmo tempo. Mas não tivera outro remédio senão ir-se embora porque não estava em condições para lidar com Rico Christofides. Tremeram-lhe as pernas ao recordar o seu rosto e o efeito instantâneo que tivera nela.

Continuava a ser tão devastadoramente bonito como no dia em que o conhecera na discoteca, há dois anos.

A noite em que conhecera Rico fora uma noite especial, totalmente nova para ela. Apanhara-a no princípio de uma vida nova, quando tentava esquecer anos de dor. Estava num momento muito vulnerável e fora presa fácil para um sedutor como Rico Christofides, embora então não soubesse quem era: um magnata e playboy conhecido no mundo inteiro.

Se estivesse vestido como os outros, com uma camisa engomada e umas calças à medida, teria sido fácil não reparar nele. Mas não fora assim. Vestia uma t-shirt e umas calças de ganga gastas que se ajustavam às suas pernas de um modo que era quase indecente. Alto e moreno, tinha um ar de sexualidade perigosa que fazia com que todos os outros homens parecessem anémicos por comparação.

Isso só o transformava num homem espectacular, mas fora mais alguma coisa. Fora a intensidade do seu olhar… fixo nela.

Naquela noite estava a celebrar uma coisa importante na sua vida. Finalmente, livrara-se do seu pai e do seu legado corrupto. Quando morrera, seis meses antes, sentira mais vazio do que pena pelo homem que nunca mostrara afecto.

Mas quando o bonito estranho se aproximara dela na discoteca, as más lembranças e as mágoas tinham desaparecido.

Era demasiado bonito, demasiado sexy… Demasiado tudo para alguém como ela. E a sua forma de olhar para ela enquanto se aproximava dera-lhe pânico.

Mas, como se estivesse colada ao chão devido a um feitiço, não fora capaz de se mexer. Era quase como se houvesse alguma coisa elementar entre eles, alguma coisa primitiva. Como se aquele homem estivesse a reclamá-la como sua. E era totalmente ridículo sentir algo parecido numa sexta-feira qualquer numa discoteca no centro de Londres.

– Porque paraste de dançar? – perguntara ele.

Tinha sotaque, de modo que era estrangeiro…

Gypsy sentira um formigueiro de excitação ao ver os seus olhos cinzentos em contraste com a sua pele morena. Era uma coisa tão estranha para ela que quis afastar-se… Mas então alguém a empurrara sem querer e ele segurara-a.

Imediatamente, sentira um calafrio nas costas. Gypsy levantara o olhar, perplexa, e sentira verdadeiro medo ao olhar para os seus olhos… Não medo pela sua segurança, mas um medo irracional do desconhecido.

– Na verdade, já me ia embora…

– Mas acabaste de chegar.

Estivera a observá-la desde que entrara na discoteca e Gypsy engolira em seco ao pensar como estivera a dançar, como se ninguém conseguisse vê-la.

– Se insistires em ir-te embora, irei contigo.

– Mas não podes… Nem sequer me conheces.

– Então, dança comigo.

O facto de não estar bêbado, de não estar a seduzi-la como faziam os outros homens, fizera com que o pedido fosse irresistível.

Gypsy voltou para a realidade quando teve de parar num semáforo. Não precisava de recordar a sua tentativa patética de resistência antes de aceitar, basicamente para que a deixasse em paz.

Mas tivera o efeito contrário. Depois de dançar com ele, tão perto que o seu corpo se cobrira de suor, o estranho inclinara-se para lhe dizer ao ouvido:

– Continuas a querer ir-te embora?

Ela abanara a cabeça, sem parar de olhar para ele nos olhos, fascinada. Desejava-o com uma força totalmente desconhecida para ela.

Deixara que segurasse a sua mão para sair da discoteca, vendo-o como um símbolo dos eventos daquele dia. O dia em que, finalmente, se livrara de tudo o que a unira ao seu pai.

Deixara-se seduzir por ele… E, na manhã seguinte, encontrara-se sozinha no quarto do hotel, como lixo. Recordava o bilhete que deixara sobre a mesa-de-cabeceira e como se sentira mal… Como se a única coisa que faltasse fosse um monte de notas sobre a cama.

Emitindo um suspiro de raiva por ter deixado que um homem como ele, um homem poderoso como o seu pai, a seduzisse, Gypsy atravessou a rua quando o semáforo ficou verde. Com um pouco de sorte, Rico Christofides ter-se-ia distraído com a ruiva com que estava a jantar e ter-se-ia esquecido dela.

«Mas lembrava-se de ti depois de dois anos.»

Qualquer outra mulher se teria sentido lisonjeada por um homem como ele não a ter esquecido, mas Gypsy só sentia medo. Porque é que um homem como Rico Christofides recordava uma mulher como ela?

Pouco depois, chegou a sua casa, um bloco de apartamentos baratos com um grupo de rapazes mal encarados sentado nos degraus. Embora tivesse desfrutado da sua liberdade depois da morte do seu pai e embora não se importasse se só tivesse de se preocupar com ela própria, incomodava-a que a sua casa fosse na pior zona de Londres. Até o parque próximo estava devastado pelos vândalos.

Gypsy suspirou. Se não fosse pela sua decisão de rejeitar o dinheiro do seu pai, naquele momento estaria a viver num sítio muito melhor. Mas ela não conseguiria ter vivido do dinheiro de John Bastion e nunca pensara que ficaria grávida depois de passar uma só noite com um…

O seu coração parou durante uma décima de segundo e não por causa dos rapazes que estavam sentados nos degraus, mas pelo desportivo estacionado na porta.

O carro preto e luxuoso, com vidros fumados, poderia ser de algum gangster do bairro, mas Gypsy soube imediatamente que não era assim. Os gangsters da zona só podiam sonhar com um carro como aquele.

E o seu coração pareceu prestes a sair do seu peito ao ver um homem alto, moreno e atlético a sair do carro.

Rico Christofides.