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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2001 Miranda Lee

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Caminho do amor, n.º 5 - Avril 2014

Título original: Just a Little Sex…

Publicada originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

Publicado em português em 2003

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Paixão e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5164-1

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

1

 

Zoe não fazia a mais pequena ideia do que se avizinhava quando saiu do edifício de escritórios onde trabalhava para sair com Drake. A vida parecia-lhe maravilhosa, finalmente.

Passaram cinco anos desde que chegou a Sidney, vinda do campo, como uma jovenzinha ingénua e balofa de vinte anos, carregada de esperanças e sonhos. Quantas coisas aprendeu durante aqueles anos! No entanto, entristecia-se quando recordava algumas das coisas que se passaram. A sua pior recordação era Greg; era incrível como alguém podia conseguir ser tão canalha.

Mas sobreviveu e já tinha conseguido superar essa etapa com a determinação absoluta de conseguir ter êxito na vida e de se transformar na mulher que sempre quis ser.

Na realidade, foram precisos quatro anos de privações, de esgotantes dias de trabalho e intermináveis noites de estudo, dietas e exercícios extenuantes no ginásio.

Mas valeu a pena, dizia para si mesma, enquanto descia a George Street até ao porto. Tinha um físico incrível, um trabalho interessante, uma casa fabulosa e, melhor do que tudo isso, tinha um namorado fantástico.

Drake era o homem com que sempre sonhou; não só era alto, moreno e atraente, como também tinha um trabalho de sucesso e muito dinheiro. Porém, o que ela mais gostava nele era o facto de estar louco por ela. Às vezes até lhe custava a acreditar.

Conheceram-se há quatro meses, quando Drake vendeu à chefe de Zoe um luxuoso apartamento no centro da cidade. Era esse o trabalho de Drake, vender os apartamentos dos altos edifícios que floresciam na zona comercial de Sidney. Drake ganhou uma fortuna com as comissões e pôde dar-se ao luxo de comprar um desses apartamentos.

Convidou Zoe para sair no próprio dia em que a conheceu e, pouco tempo depois, confessou-lhe que tinha sido amor à primeira vista. A princípio, Zoe mostrava-se um pouco receosa, e definitivamente envergonhada, mas Drake não tardou muito a tornar-se o centro da vida dela. Graças a ele, Zoe despediu-se dos longos fins-de-semana e dos momentos de depressão, durante os quais se perguntava o que é que estava a fazer com a sua vida, e perdeu o medo de experimentar o amor e o romantismo com que tantas jovens sonhavam.

Zoe olhou para o relógio quando o semáforo ficou vermelho. Eram doze e vinte e três minutos, e franziu o sobrolho.

Normalmente não demorava mais de dez minutos a ir do escritório de advogados em que trabalhava ao restaurante do porto, onde se encontrava regularmente com Drake para almoçar. O Rockey era o restaurante favorito de Drake, um estabelecimento da moda situado no andar superior de um antigo armazém do molhe.

Drake tinha combinado com ela ao meio-dia e meia, porque só tinha uma hora para almoçar.

Drake odiava ter de esperar, mesmo que fossem apenas uns minutos. Zoe supunha que a impaciência dele se devia ao seu carácter perfeccionista e organizado. Ela também era um bocadinho assim.

Teve a sensação de que tinham passado décadas até o semáforo mudar. Zoe correu pela rua, com o coração a bater violentamente, com medo de chegar tarde, mas conseguiu chegar ao restaurante com três minutos de avanço.

Felizmente, Drake ainda não tinha chegado, o que lhe permitiu meter-se no lavabo para se arranjar. O seu reflexo no espelho mostrou-lhe uma testa coberta de suor e um cabelo revolto pelo vento. Era esse o problema de ir a pé.

Depois de alguns retoques no cabelo, conseguiu que ele voltasse a tornar-se a cabeleira de meia altura, tingida de castanho, que lhe emoldurava o rosto. O penteado que usava foi feito num dos melhores cabeleireiros de Sidney e, embora lhe tivesse custado uma fortuna, dava o dinheiro por bem empregue. Na realidade, todas as manhãs tinha de se levantar quase uma hora antes, para se pentear. Secar e alisar a sua cabeleira encaracolada não era uma tarefa fácil, bem como disfarçar qualquer pequeno defeito com maquilhagem, conseguindo um ar natural, e sem precisar de retoques ao longo do dia, embora, quando corria rua abaixo pela George Street, acabasse sempre por ter de o fazer. Espalhou uma ligeira camada de pó translúcido, para disfarçar o suor, retocou a pintura dos lábios e ficou pronta.

Uma olhadela ao relógio indicou-lhe que, oficialmente, estava um minuto atrasada. Quando saiu para a sala e descobriu Drake, sentado numa mesa e tamborilando com os dedos sobre a toalha branca com impaciência, gemeu desesperada.

Maldita, maldita fosse!

Esboçando um sorriso radiante, correu para ele. Drake voltou-se para ela com ar de reprovação, e Zoe não conseguiu evitar algum desespero, porque, quem o visse, acharia que estava à espera há meia hora, no mínimo, em vez de dois minutos.

Abriu a boca, disposta a desculpar-se, mas imediatamente, o sobrolho franzido de Drake metamorfoseou-se num sorriso de admiração, enquanto os seus olhos vagueavam por aquele corpo esculpido no ginásio e encerrado num elegante vestido preto e branco de seda.

A tensão interna de Zoe arrefeceu num instante. Adorava que Drake olhasse para ela assim, como se fosse a mulher mais bonita do mundo, embora soubesse que não o era, que apenas trabalhou o corpo e aprendeu a tirar o melhor partido de si mesma.

Percebeu, com uma perspicácia repentina, que Drake também era um caso do género; mesmo sendo atraente, tinha alguns defeitos que aprendeu a disfarçar e que passavam despercebidos quando soltava todo o seu encanto, como estava a fazer naquele momento.

O sorriso resplandecente e a intensidade do seu olhar, faziam Zoe, quando olhava para ele, esquecer completamente que tinha o nariz demasiado grande e os lábios excessivamente finos. Os fatos caríssimos que usava faziam com que os seus ombros parecessem mais largos do que eram na realidade, e embora fizesse levantamento de pesos no ginásio, Drake não estava em grande forma física.

Mas Zoe não se importava; de facto, ela nunca avaliaria ninguém unicamente pelo seu aspecto físico.

– Valeu a pena esperar – saudou-a Drake, ao mesmo tempo que se levantava e lhe oferecia uma cadeira.

– Eu cheguei a horas – respondeu ela, enquanto se sentava. – Mas o vento deu-me cabo do penteado.

– Parece-me óptimo – contrapôs Drake, enquanto voltava a sentar-se e olhava para ela com admiração. – Tu pareces-me sempre óptima.

Zoe deu uma gargalhada.

– Devias ver-me quando acordo.

– Mas já vi, e posso garantir-te que ainda ficas mais bonita.

Zoe sorriu, um pouco envergonhada. Drake podia dizer isso, porque ela corria sempre para a casa de banho antes de ele acordar e arranjava-se antes de voltar para a cama.

O medo de Drake a ver sem estar arranjada era muito forte, e provavelmente também irracional, porque ele amava-a muito, mas não conseguia evitá-lo.

– É por isso que dizem que o amor é cego.

– Não creio, pelo menos no meu caso. Quando olho para ti, sei exactamente o que estou a ver: a mulher perfeita. És bonita, inteligente, sexy, mas o melhor de tudo é que sabes o que queres e estás disposta a trabalhar duramente para o conseguires. Não imaginas o quanto eu admiro isso – estendeu a mão para acariciar os dedos de unhas bem pintadas de Zoe. – Estou completamente louco por ti.

– E eu estou louca por ti – respondeu suavemente.

– Então porque é que não vens viver comigo?

Zoe dissimulou um suspiro. Já era a segunda vez que Drake lhe propunha isso.

A oferta era tentadora, supunha, mas não era o que Zoe queria naquele momento da sua vida. Acabara de descobrir o que era um relacionamento romântico e não queria renunciar a ele. Sabia o que sucedia quando as pessoas viviam juntas, ou se habituavam demasiado rapidamente à presença uma da outra e começavam a discutir por problemas domésticos. No fim, a rapariga acabava a ocupar-se da casa e ressentida com o namorado, e Zoe já fora doméstica em casa do pai, durante anos, e não estava na disposição de repetir a experiência.

Mas não podia dizer isso a Drake; era muito egoísta da sua parte.

– Drake, olha, desculpa. Gosto de ti loucamente, mas de momento preferia deixar as coisas como estão. Conhecemo-nos há pouco tempo e irmos viver um com o outro é um passo muito importante.

Drake apertou os lábios e Zoe por um momento sentiu-se em pânico. O que é que se estava a passar? Estaria disposto a abandoná-la por não querer ir viver com ele?

Drake inclinou a cabeça para o lado e sorriu, receoso.

– Estás outra vez a brincar ao «fazer-me de difícil»?

– O que queres dizer? – perguntou Zoe, surpreendida.

– Bom, levei dois meses para conseguir que fosses comigo para a cama, até já começava a pensar que eras frígida.

Zoe suspeitava que a sua recusa em ir para a cama com Drake avivou o interesse dele, mas não foi um jogo de sedução. Na realidade, foi a relação que teve com Greg que a deixou cheia de insegurança e com uma opinião muito pobre a respeito do seu aspecto físico. Entretanto, conseguiu uma figura que a maioria das mulheres invejaria, mas precisou da incessante persistência de Drake e dos seus constantes mimos, para se sentir suficientemente confiante para se expor a ele.

Por fim, Drake conseguiu seduzi-la, com a ajuda de duas garrafas de vinho, um jantar e duas horas de preliminares e declarações de amor incondicional.

Mas o assunto da frigidez tocou-a.

Claro, admitia que não era uma fera na cama, mas como é que podia ser, se a sua única experiência foi com um homem a quem só lhe interessava aliviar-se? Felizmente, as técnicas de Drake ajudaram-na a abrir os olhos, e quando na primeira noite chegou ao orgasmo, teve a sensação de ter chegado à lua, mas infelizmente, com o tempo, os orgasmos voltaram a ser tão escassos como os bombons na sua dieta.

A culpa não era de Drake, ele era um amante magnífico, atento, terno e romântico, e fazia e dizia sempre o que devia. Era dela, que quando se despia ficava demasiado dependente do aspecto que tinha. O exercício e a dieta ajudaram-na a livrar-se da gordura e da flacidez, mas não dos complexos que se escondiam na sua cabeça, e ter pensamentos derrotistas a seu respeito podia tornar-se uma obsessão.

Quando Drake começou a sentir-se incomodado pela sua falta de orgasmos, Zoe fez o que qualquer mulher sensata e apaixonada faria no seu lugar: começou a fingir. Mas afinal porque Drake tinha de se sentir culpado se a culpa era dela?

Talvez um dia, quando se sentisse completamente relaxada, e quando todas as suas dúvidas e temores se tivessem dissipado, pudesse voltar a funcionar com a precisão de uma máquina de relojoaria. Até lá, não ia deixar-se pressionar por essa pequena imperfeição da relação deles.

– Já pediste? – perguntou-lhe, mudando bruscamente de assunto.

– É a primeira coisa que faço quando chego.

Então, apareceu o empregado com um copo de Chardonnay gelado para Zoe e uma garrafa de água mineral para Drake, que nunca bebia quando tinha de voltar ao trabalho.

– Já pedi para os dois – acrescentou Drake, quando Zoe pegou na ementa.

– Oh!

Zoe tentou não se sentir irritada, porque mais uma vez a culpa era dela. Das primeiras vezes que saiu com Drake, delegou nele e nos seus magníficos conhecimentos de gastronomia a escolha do que iam comer, e a partir daí, ele pedia muitas vezes por ela.

– Não podia esperar que chegasses – explicou-lhe, apercebendo-se da irritação dela. – Tinha-te dito que não tinha muito tempo, porque combinei encontrar-me com um cliente na Hyatt à uma e meia. É um executivo de Hong-Kong, e quer alugar um apartamento de cobertura, no centro de Sidney, e para ele dinheiro não é problema.

– Boa, parece um bom negócio.

– Claro. Desde a realização dos jogos olímpicos que Sidney ganhou uma grande notoriedade, o que suponho que seja lógico, porque se trata de uma das melhores e mais bonitas cidades do mundo.

– Não precisas de me vender Sidney – comentou Zoe. – Adoro esta cidade, olha para esta paisagem.

De onde estava sentada, Zoe via a Casa da Ópera à direita e a ponte à esquerda e, mesmo em frente a ela, um navio branco que deslizava nas águas azuis do mar.

Estava a beber um gole de vinho e a apreciar a paisagem, quando ouviu a respiração ofegante de Drake, como se tivesse acabado de ter uma surpresa. Voltou-se para ele e viu-o a olhar fixamente para qualquer coisa, ou alguém, e a murmurar.

Zoe voltou-se na cadeira, tentando descobrir o objecto do nervosismo de Drake. Era uma mulher ruiva e dirigia-se para eles.

Zoe não a reconheceu, e tê-la ia reconhecido se alguma vez a tivesse visto, porque ruivas com quase dois metros e curvas sinuosas eram difíceis de esquecer.

– Viva – comentou a ruiva, com um sorriso açucarado, quando se deteve junto à mesa deles. – Aqui está o mesmíssimo Drake Crason, aquele que é capaz de quebrar rapidamente as suas promessas. Disseste que me telefonavas! Desculpa se interrompo, querida – disse a Zoe, – mas eu e Drake temos um assunto pendente. Disseste que me telefonavas, não foi, amor? Sei que apenas passaram duas semanas, depois da conferência, mas quase que cheguei a pensar que me consideravas alguém especial. Ou és um desses canalhas que mentem para levar uma mulher para a cama? Um desses que acha que pode fazer tudo o que quer e que lhe apetece, quando está longe da mulherzinha que o espera em casa, sem se preocupar com as consequências?

Drake fulminou-a com os olhos, mas não disse nada.

Zoe sentia-se como se tivessem aberto um buraco debaixo da cadeira dela e estivessem prestes a devorá-la.

Duas semanas antes, Drake foi a uma conferência sobre o mercado de imobiliária que se realizou em Melbourne, e telefonou-lhe todas as noite para lhe dizer que estava cheio de saudades dela.

Zoe olhou fixamente para ele, querendo acreditar que aquela mulher estava louca de ciúmes e fazia aquilo com intenção de romper a relação deles, mas era impossível ignorar o ar culpado de Drake.

– Oh, afinal és um desses canalhas, não é? – escarneceu a ruiva. – Boa, nunca teria imaginado! Tens sorte de eu não ser uma bruxa vingativa, como a rapariga do filme... como é que se chamava? Atracção Fatal? Quando descubro que um tipo é mentiroso, não quero ter mais nada a ver com ele – voltou-se para Zoe. – Caramba, querida, estás um bocado pálida. Não me digas que és a mulher que o esperava em casa! Que pena, pareces muito simpática, pobrezinha. Enfim! Adeus, Drake, tem um bom dia.

Zoe observava, com a boca seca, a ruiva que se afastava em direcção à recepção, onde um homem a esperava.

Drake não disse uma só palavra, mas os seus olhos diziam tudo.

Zoe sentia-se doente, surpreendida e destroçada.

– Dormiste com ela, não foi?

– Não foi como ela contou – murmurou ele, sem a olhar nos olhos.

– Então foi como? – ouviu-se Zoe a perguntar em voz baixa para si mesma.

Não conseguia acreditar no que lhe estava a acontecer pela segunda vez. Podia jurar que Drake não era como Greg, achava que o amava e que a relação deles não era apenas uma brincadeira cruel.

Drake levantou o olhar e o pânico esvoaçava nos seus olhos.

– Meu Deus, Zoe, não olhes assim para mim; amo-te, querida. A sério.

– Fazer amor com outra mulher é uma estranha forma de o demonstrares.

– Mas com ela não fiz amor. Tu és a única mulher que eu amo, aquilo foi só sexo, não significou nada e ela não significa nada para mim.

Zoe detestava homens capazes de dizerem coisas como aquela.

– Pelo menos, ela pensava que sim – assinalou com amargura. – Caso contrário, não tinha ficado tão magoada.

– Não acredites nisso – contradisse-a, com as faces inflamadas pelo descontentamento. – Algumas mulheres são verdadeiras bruxas. Acredita, ela sabia perfeitamente que se tratava de uma aventura de uma só noite, e não sei porquê, mas estava a fingir que era mais qualquer coisa.

Zoe abanou a cabeça; estava tudo a andar à roda.

– Mas como é que é possível estares apaixonado por mim e ires para a cama com outra mulher? Como?

– Já te disse como, foi só sexo, há uma grande diferença. O amor e o sexo nem sempre andam juntos, Zoe, eu pensava que já soubesses. Já não és uma menina, tens vinte e cinco anos, tenta compreender – passou as mãos pelo cabelo, e estava a tremer. Pela primeira vez, e desde que aparecera a ruiva, Zoe pensou que Drake talvez a amasse de verdade. – Desculpa – continuou ele precipitadamente, – mas não foi como ela disse, foi apenas uma fragilidade passageira. Tu és a única mulher que eu amo, talvez demais. Não conseguia evitar sentir a tua falta e desejava-te loucamente, não parava de pensar em ti e estava muito excitado. Aconteceu tudo na última noite do congresso, e já estávamos bem bebidos.

– Tu nunca bebes quando estás a trabalhar – recordou-lhe Zoe, com uma onda de enfado.

Não queria que Drake a acalmasse com desculpas, ou com explicações. Ele não percebia o que tinha feito? Podia chamar-lhe o que quisesse, mas teve uma relação íntima com outra mulher, e sussurrara-lhe palavras doces ao ouvido enquanto o faziam.

Talvez fosse isso que a magoava mais, inclusivamente, mais do que a traição física. As coisas que podia ter-lhe dito.

– O congresso já tinha terminado, não tinha de conduzir, nem de trabalhar. Olha, ela atirou-se praticamente para os meus braços. No final da noite, seguiu-me até ao elevador e quase me violou. Depois de ter acontecido, odiei-me por isso, mas o que queres que te diga? Não sou um santo, sou só um homem que cometeu um erro e que está profundamente arrependido. Não queria fazer-te mal, pensava que nunca saberias.

– Evidentemente – já não conseguia olhar para ele, apenas conseguia pensar na ruiva a fazer amor com ele no elevador.

– Não sejas assim, Zoe, tenta compreender-me.

– Não creio que consiga.

O que significava que a única coisa que restava era terminar com ele. Depois de ter acabado com Greg, prometeu a si mesma que nunca mais sairia com um homem capaz de a trair, e tinha sido por essa razão que passou quatro anos sem sair com ninguém.

Mesmo assim, a ideia de voltar a ficar sozinha aterrava-a; não queria voltar a estar sozinha de novo. Até a esse momento, não acreditava que fosse possível, pensava que teria sempre Drake. Imaginava que, depois de alguns anos de namoro, acabassem por se casar, ter filhos e formar uma linda família.

Um soluço escapou da garganta de Zoe e Drake gemeu.

– Não chores, querida. Por favor, não chores. Se conseguires perdoar-me – procurou as mãos dela pela mesa, – não voltará a acontecer.

Zoe afastou a mão, apanhada por uma onda de amargura.

– E o que acontece da próxima vez que fores a uma conferência e uma ruiva se atirar nos teus braços?

– Sei o que é que arrisco e não farei nada.

Zoe olhou para ele, confusa.

– Mas continuarias a querer fazê-lo, não é verdade?

– Por amor de Deus, Zoe, só tenho trinta anos, sou um homem com sangue nas veias e instintos sexuais. O facto de estar apaixonado por ti, não significa que não me possa sentir fisicamente atraído por outra pessoa. Isso é tão surrealista como pouco natural, mas tens a minha palavra de que nunca me deixarei levar por essa minha atracção.

Zoe olhou fixamente para ele. Queria acreditar nele, de verdade, mas pensou no que a ruiva disse antes de se ir embora: «pobrezinha».

– Acho que preciso de ar fresco e de tempo para pensar.

– Por favor, Zoe, não te vás embora. Fica comigo, vamos falar.

Zoe abanou a cabeça. Ficar e falar com Drake era a última coisa que devia fazer. Drake tinha demasiada lábia, era um excelente vendedor e, talvez, um óptimo mentiroso.

– Podemos resolver isto – insistiu ele, – tenho a certeza de que conseguimos. Não quero perder-te, querida, amo-te e sei que tu me amas.

Zoe fulminou-o com o olhar.

– Sim, mas a tua ideia de amor e a minha são completamente diferentes. Sei que eu nunca faria o que tu fizeste, fosse em que circunstâncias fosse.

– Não há nada que eu possa dizer para me compreenderes?

– Agora não.

– E mais tarde?

– Deixa-o por hoje, Drake.

– Não consigo. Passo por tua casa depois do trabalho, não penso deixar-te afastares-te de mim, Zoe.

– Eu sei – respondeu ela.

E essa era uma das razões por que precisava de se afastar dele, porque temia que Drake conseguisse convencê-la de que lhe desculpava, porque sabia que o amor era um sentimento que a debilitava.

Levantou-se no momento em que chegou o empregado com a comida e, por um instante, pensou ficar e saborear cada bocado daquela comida deliciosa. A tristeza fazia-lhe sempre fome, mas se engordasse sentia-se pior, assim, soube que naquela mesa não havia nenhum consolo para ela, e muito menos a presença de Drake. Queria estrangulá-lo por lhe ter feito aquilo, por ter estragado tudo, por se ter comportado como um homem qualquer. Ela pensava que ele era diferente.

– Tenho de me ir embora – disse com a voz despedaçada, e partiu.