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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2006 Cathy Williams

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Do escritório ao quarto, n.º 1045 - abril 2017

Título original: The Italian Boss’s Secretary Mistress

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9655-0

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Ainda não era sete e meia e Gabriel Gessi já estava na sua mesa de trabalho. Era a sua rotina diária. Meia hora de corrida no ginásio, meia hora de piscina, um duche rápido, barbear-se e ir para o escritório, pronto para enfrentar a dureza da sua vida diária. As únicas interrupções da sua rotina de exercício físico eram constituídas pelas suas frequentes viagens transoceânicas, embora costumasse fazer todos os possíveis para começar o dia em plena forma física.

Nos três meses anteriores, não se desviara da sua rotina, mesmo apesar de os seus costumes se verem alterados por uma série de problemas que nunca pensara que teria de enfrentar.

Gabriel Gessi vivia no mundo reduzido da riqueza suprema e não costumava ter de lidar com os problemas vulgares da vida. Os seus aumentos de adrenalina eram provocados por operações, aquisições e negócios agressivos, não pelas alterações prosaicas da rotina que marcam o ritmo normal de vida da maioria das pessoas.

A primeira alteração surgira em forma de uma trabalhadora temporária que superara o processo de selecção sob a fachada de rapariga eficiente, mas que, depois de uma semana, se transformara numa espécie de caos emocional. Ela passava a maior parte do tempo a soluçar discretamente e a murmurar desculpas fracas sobre um problema com um namorado.

Gabriel não tinha tempo para mulheres com problemas com os seus namorados e muito menos para mulheres que choravam. Tivera de se livrar dela, mas as que tinham aparecido depois eram medíocres. Não conseguia imaginar como as incompetentes que apareciam à frente dele tinham conseguido alguma vez na sua vida um trabalho lucrativo.

Livrara-se da última na sexta-feira anterior com um audível suspiro de alívio. De qualquer forma e contra todo prognóstico, esta última durara mais de quinze dias, embora tivesse de reconhecer que fora apenas porque ele engolira a sua irritação. Com uma paciência admirável, tolerara a sua tendência insuportável de se encolher de medo cada vez que ele falava e o facto de se dirigir a ele num tom de voz tão baixo que tinha sempre de lhe pedir para falar mais alto. E cada vez que lhe dizia para falar mais alto, ela dava um salto e deitava algo abaixo. Café, água, a sua chávena de chá. Algo em estado líquido parecia estar sempre à espera perto dele para ser derrubado de modo acidental.

Toda essa situação fora extremamente cansativa e estava contente com a ideia de a sua vida voltar à normalidade. Pela primeira vez em três meses, olhara através dos vidros fumados dos seus quatro andares de escritórios sem franzir o sobrolho.

Rose voltaria naquele dia. A vida voltaria para o seu curso normal, dando-lhe tempo para criar um império sem ter de se preocupar com os aspectos práticos e aborrecidos da vida.

Ainda não eram oito horas e, embora esperasse que ela aparecesse entusiasmada por voltar, também não podia razoavelmente pensar que aparecesse, como ele, ao amanhecer. Certamente, estaria a recuperar-se dos efeitos da mudança de hora. Voar desde a Austrália era suficiente para destruir o viajante mais experiente e Rose não era experiente. Embora uma parte importante do seu negócio estivesse relacionada com a indústria do ócio, incluindo uma boa lista de hotéis luxuosos espalhados por todo o mundo, o conhecimento que ela tinha do estrangeiro era limitado. Nos quatro anos que trabalhara na sua empresa, só viajara com ele algumas vezes e sempre na Europa. Tanto fazia. Precisava dela de volta ao escritório para ter a certeza de que durante as suas ausências as coisas funcionavam bem.

Era a hora de os empregados começarem a chegar, tempo que costumava dedicar a rever os e-mails que tinham entrado durante a noite. Porém, naquele dia, Gabriel aproximou a cadeira da janela enorme e olhou para a agitação da selva de edifícios de betão que se desenhava contra o céu de Maio.

Os últimos três meses tinham-no feito ver como confiava em Rose. Pagava-lhe, mas estava a considerar aumentar-lhe o salário. Ou dar-lhe um carro da empresa, embora não conseguisse imaginá-la a conduzir para o emprego. Quem o fazia? Até ele apanhava um táxi ou vinha com o seu motorista para evitar o trânsito horroroso de Londres.

De repente, Gabriel percebeu que sabia muito pouco da vida de Rose. Tinha um talento especial para fugir das perguntas pessoais

Teria carta de condução? Supunha que todos tinham, mas talvez ela não tivesse.

Só percebeu que eram nove horas quando a viu de pé na porta que separava o seu escritório do dela.

Durante alguns segundos, sentiu uma emoção fora do comum, depois olhou para o relógio e virou a cadeira.

Rose respirou fundo e expirou muito devagar. Isso tranquilizava-a. Apesar de o ver todos os dias, tinha um efeito desestabilizador sobre ela. Três meses sem o ver faziam com que o efeito multiplicasse até fazer com que se sentisse confusa, embora o seu rosto permanecesse tão agradavelmente inexpressivo como sempre.

– São nove horas – indicou Gabriel, franzindo o sobrolho. – Normalmente, chegas às oito e meia.

A brusquidão do tom fez com que ela abandonasse a sua imobilidade e se dirigisse para a cadeira que havia em frente da mesa de Gabriel.

– Vejo que não mudaste, Gabriel – comentou, seca. – Continuas a evitar as regras de cortesia. Não vais perguntar-me pela viagem à Austrália?

– Não é preciso. Sei pelos teus e-mails que te divertiste muito. Estás mudada. Perdeste peso.

Rose não conseguiu evitá-lo. Corou.

Tentou recordar o que a sua irmã lhe dissera sobre afastar-se da rotina em que se encontrava e abandonar a sua fantasia com um homem que era um perigo para a saúde quando se aproximava das pessoas do sexo oposto.

Mas era tão incrivelmente atraente. Era impossível não sentir um formigueiro subir desde as pontas dos pés quando olhava para ele.

– Sim – admitiu, baixando o olhar para a carta que tinha no seu colo. – Estava muito calor. Vivi à base de saladas. Lamento que tenhas tido tantos problemas com a minha substituição – redarguiu, mudando de assunto. – Sinceramente, pensava que Claire trabalharia melhor, senão não a teria contratado. Qual foi exactamente o problema?

Gabriel, no entanto, continuava chocado com a mudança. Não sabia se gostava do que estava a ver. Lembrava-se da Rose gordinha que vira da última vez com um fato azul-marinho e uma blusa branca de gola redonda. No seu lugar, havia uma Rose muito magra e bronzeada com uma saia preta que deixava ver uma parte da coxa e uma t-shirt justa da mesma cor que revelava uns seios que eram bastante maiores do que um punho. A única coisa sensata nela era os sapatos rasos.

– Não sabia que tinhas pernas – reflectiu, em voz alta.

– Claro que tenho pernas, Gabriel. Como achas que me desloco de um lado para o outro? Com asas?

– Mas sempre as escondeste… – endireitou-se na cadeira, apoiando-se na mesa e olhou para ela, calculista. – São muito atraentes, mas devias observar um pouco mais de decoro no emprego – Rose ficou boquiaberta de indignação devido ao tom das observações. – O que fizeste ao cabelo? Parece diferente.

– Não fiz nada ao cabelo, Gabriel. Podemos mudar de assunto? – brincou com a carta sem saber ainda como ia dar-lha e resistir ao processo de o ver a lê-la.

– Porquê? Estou fascinado com a transformação. Pensava que ias ajudar a tua irmã com o seu novo filho. Não sabia que ias fazer uma transformação completa.

– Fui ajudar Grace!

– E durante o processo decidiste fazer uma dieta de choque, cortar o cabelo e passar o dia em biquíni para ficares morena…?

Rose contou até dez e perguntou-se o que via num homem tão arrogante.

– Estiveste alguma vez na companhia de um recém-nascido, Gabriel?

– Não, é algo que sempre tentei evitar…

– Sim, porque devias saber que o choro de um bebé e os passeios de biquíni para ficar morena não encaixam.

– De certeza que a tua irmã não precisava que tratasses da coisa a toda a hora.

– Não é uma coisa. É um bebé. Um menino lindo. Chama-se Ben – o seu tom de voz suavizou ao recordar o que sentia ao vê-lo tão pequeno entre os seus braços. Uma sensação que fizera com que tomasse a decisão de mudar o rumo da sua vida.

Grace, dois anos mais velha do que ela, parecia incrivelmente feliz. Ao lado dela, Rose tivera uma visão muito desagradável da sua própria vida e das suas limitações tristes. Dentro de dois anos faria vinte e oito anos, a mesma idade da sua irmã. Será que embalaria um bebé ao lado de um marido carinhoso ou será que continuaria a fazer o mesmo de sempre: trabalhar para um homem para quem era apenas uma secretária eficaz? Ou seria a eterna profissional que dedica a vida a melhorar a sua casa, o seu nível de vida e mais nada? Nenhuma das duas coisas valia muito a pena. Notava-se uma certa nostalgia no seu tom de voz enquanto lhe contava a sua experiência na Austrália. O marido de Grace, Tom, era cirurgião e precisava de descansar de noite para poder operar com segurança. Por isso, o apoio de Rose fora algo mais do que um luxo. Assumira a sua parte de se levantar à noite e deitar o menino depois de comer, mas desfrutara de cada minuto.

Gabriel mal ouvia a sua conversa sobre o bebé. Estava muito interessado na mulher bronzeada que tinha à sua frente. Uma mulher bronzeada com seios abundantes para onde os seus olhos se sentiam repentinamente atraídos.

Para evitar o risco de parecer pateticamente lascivo depois de experimentar uma indesejada sensação na barriga, Gabriel recostou-se na cadeira e tentou concentrar-se no que Rose dizia sobre o bebé. Nunca vira aquele olhar suave nos seus olhos.

– Espero que esta viagem não tenha metido ideias estranhas na tua cabeça – declarou, interrompendo-a a meio de uma frase. Rose pestanejou.

– Desculpa?

– Viagem? Ideias? A tua cabeça?

– Não sei do que estás a falar – replicou Rose, sem rodeios.

– Estou a falar do facto de a minha secretária perfeita ter decidido, de repente, que chegou a hora da maternidade. O assunto das crianças pode ser contagioso. Eu sei por experiência própria.

– Oh, a sério, Gabriel… – Rose sentiu que a raiva crescia dentro dela e teve de fazer um grande esforço para não levantar o tom de voz. – E como sabes?

– Tenho duas irmãs e um irmão. As minhas duas irmãs têm filhos, quase da mesma idade. Sei que muitas mulheres se sentem afectadas por sentimentos maternais assim que estão perto de um recém-nascido…

Rose olhou para o rosto perigosamente atraente que tinha à sua frente e não se surpreendeu com o tom que usava quando se referia a bebés, à paternidade e a tudo o que isso implicava. Era um homem que nem sequer pensava na possibilidade de assentar. Porque havia de complicar uma vida completamente satisfatória? Conseguia as mulheres que queria, porque havia de escolher só uma e depois cometer o erro de ter um filho com ela? Um bebé exigente que destruiria a todas as suas possibilidades de mobilidade?

– Não estou a pensar em ser mãe por enquanto – declarou Rose, com frieza. – Acho que é necessário ter um namorado estável antes de tomar uma decisão assim.

Só com aquela frase, Gabriel viu mais do interior de Rose do que alguma vez vira. Pensara sempre que não havia nenhum homem, mas só porque ela nunca o mencionara e as mulheres normalmente não conseguiam evitar falar do homem da sua vida. Naquele momento, confirmara-o e sentiu-se agradado.

– E não há nenhum homem na tua vida? – arriscou-se, apesar de a cara dela mostrar claramente o seu desejo de abandonar o assunto.

Rose corou ao perceber que mostrara uma falha na sua armadura. Mantivera a sua relação num plano estritamente profissional mediante o sistema de se certificar de que não revelava aspectos da sua vida privada. Pensara que assim não percebera o que ela sentia por ele. É claro já não importava. Estava a perder a cabeça devido ao calor do momento. O facto de o perceber deu-lhe a força de que precisava e sorriu, despreocupada.

– Vêm e vão – respondeu ela, num tom engraçado. – Sabes como é – a pequena mentira valera a pena só para ver a expressão dos olhos dele. Contente, Rose sorriu ao ver que ele acabara de perceber que ela tinha uma vida fora da empresa. – Tanto faz… – acariciou a carta, nervosa. – E agora que te contei sobre a viagem à Austrália, há algo que tenho de te entregar… – inclinou-se para a frente e depositou o envelope branco em cima da mesa enquanto uma repentina onda de nervosismo lhe percorria o corpo.

Mas recordou-se que estava a fazer o devido. Falara com Grace e só o facto de dizer os seus próprios pensamentos em voz alta fora suficiente para perceber que precisava de o fazer, que precisava de fugir da rede poderosa que Gabriel tecera ao redor dela durante anos e do modo como estava sempre a pensar nele, a todas as horas. Daí a outros quatro anos, estaria tão presa a ele que seria incapaz de encontrar nenhum outro namorado que resistisse à comparação.

Receoso, olhou para a carta, mas tirou-a finalmente da mesa, abriu-a e reviu o conteúdo. Várias vezes. Obviamente, pensava que interpretara algo mal. Finalmente, quando Rose pensava que não ia aguentar mais, disse com muita suavidade:

– O que está a acontecer aqui, Rose? – o choque e a incredulidade brilhavam nos seus olhos.

Rose encolheu-se ao sentir que a sua atitude positiva habitual a abandonava.

– É a minha carta… de… demissão…

– Sei o que é! Sei ler! O que não entendo é porque estou a lê-la! – a antecipação prazenteira com que começara o dia ao pensar que a sua vida voltaria à normalidade parecia parte de um passado muito longínquo.

Primeiro, ela chegara mais tarde do que o habitual com uma mudança de imagem que faria com que qualquer homem se virasse para olhar para ela e, como se isso não bastasse, pousara uma carta de demissão na sua mesa sem nenhum tipo de preliminares.

Gabriel sentiu uma espécie de sensação de traição, para além de fúria e de confusão.

– Só sinto…

– Quero dizer sem prévio aviso – interrompeu, sacudindo a folha de papel no ar. – Apareces aqui a esta hora…

– Um quarto para as nove – objectou Rose. – Quinze minutos antes da hora a que tecnicamente começa o meu dia de trabalho.

Gabriel decidiu ignorar as suas alegações.

– E, de repente, dizes-me que vais abandonar-me!

– Não vou abandonar-te – Rose pigarreou e obrigou-se a olhar para ele nos olhos. – Estás a ser melodramático…

– Não te atrevas a acusar-me de ser melodramático! – gritou Gabriel, fazendo com que ela chegasse a recear que todo o escritório fosse ver o que se passava.

Gabriel levantou-se e apoiou as duas mãos na mesa.

– Deixei-te ir para a Austrália – queixou-se, – e foi um inconveniente enorme para mim…

Rose, embora não quisesse abanar um pano vermelho à frente de um touro, também não ia permitir que Gabriel sugerisse que se fora embora durante três meses e o abandonara. Na verdade, podiam contar-se pelos dedos de uma mão o número de vezes que não estivera disponível. Trabalhara mais tardes do que se lembrava, comera na mesa de trabalho e cancelara encontros.

– Encontrei alguém perfeito para me substituir – indicou ela, com tranquilidade.

– Encontraste uma pessoa para vir para cá no meio de uma crise emocional! Uma mulher que me deixou à beira de um ataque de nervos! Essa não é minha ideia de uma substituta perfeita.

– E o resto? – Rose estava a conter o seu aborrecimento com dificuldade.

– Inúteis. Surpreende-me que tenham conseguido encontrar um emprego. Não sei como é que as agências as têm nos seus arquivos.

– Talvez devesses ter lido os relatórios – sugeriu Rose, num murmúrio tão ténue que ele não conseguiu ouvir.

– O que estás a dizer? – gritou. Rose deu um salto e olhou por cima do ombro, nervosa.

– Nada! – exclamou ela, para o acalmar.

Gabriel deu um empurrão à cadeira e deu a volta à mesa para chegar perto dela. Ela estava recostada na cadeira com as mãos no colo.

– Está bem! – exclamou ele, inclinando-se à frente da cadeira de Rose até pôr o rosto à altura do olhar dela.

Sabia que a sua carta de demissão não ia encontrar uma recepção favorável. Era boa no seu trabalho e Gabriel habituara-se a ela com o passar dos anos. Ao contrário das secretárias anteriores, Rose nunca tivera medo dele. Presenciara os seus ataques de raiva devido a alguns episódios de incompetência dos seus empregados e conseguira sempre manter-se calma. Habitualmente, seguindo o método de ignorar os ataques.

A sua imperturbabilidade, ela sabia, significava muito para ele. E Gabriel sabia que a demissão dela traria uma enorme quantidade de mudanças na sua rotina. A vida privada podia ser animada e cheia de mudanças, mas Gabriel queria que a sua vida profissional fosse organizada e sabia que conseguia fazê-lo com a conduta previsível dela.

– Estou à espera!

– Não vou dizer nenhuma palavra até… Pára de te inclinar sobre mim, Gabriel! Estás a fazer-me sentir… ameaçada…

– O que achas que vou fazer? – de forma involuntária os seus olhos pararam nos seios dela, apreciando o decote que conseguia ver devido ao «V» da gola da t-shirt.

Ao ver que ela não respondia, afastou-se e, cheio de frustração, passou os dedos pelo cabelo preto. Imediatamente, Rose sentiu que recuperava um ritmo respiratório próximo da normalidade.

– Não podiam ser assim tão inúteis, Gabriel – olhou por cima do ombro e encontrou os olhos dele. – Intimidas as pessoas. Certamente, assustaste-as.

– Eu? Intimido as pessoas? – apoiou-se na mesa para olhar para ela. – Talvez uma vez ou outra – admitiu, resistente. – Mas no mundo dos negócios intimidar um pouco pode ser uma boa táctica. É por isso que te vais embora? Porque não gostas de trabalhar comigo? – Gabriel franziu o sobrolho. Estava contente com o seu emprego quando fora para a Austrália.

Naquele momento, estava ali, entusiasmada com a ideia de procurar melhores pastos. Como se existissem. No que lhe dizia respeito, ela fazia um bom trabalho. Com um salário adequado, seria difícil conseguir um igual noutra empresa de Londres. Certamente, em todo o país.

Perguntou-se o que a irmã dela lhe teria dito sobre o trabalho. De certeza que, como vivia em qualquer buraco no campo, encorajara Rose a optar por uma situação semelhante. De certeza que lhe dissera para abandonar o ritmo endiabrado da cidade e para procurar algo mais tranquilo.

– A tua irmã tentou convencer-te a saíres de Londres? – franziu o sobrolho enquanto as peças do quebra-cabeças começavam a encaixar na sua cabeça. – Não me digas que és suficientemente estúpida para considerares mudar-te para a Austrália! – o choque misturado com algo mais percorreu Gabriel como uma descarga eléctrica. – Só porque o teu único parente vivo reside lá! E se ela decidir ir para outro lado? E se eles forem transferidos para um lugar menos agradável? Arrancarás as tuas raízes e segui-los-ás? – deu uma gargalhada de cepticismo.

– Se sou tão estúpida, porque te importas tanto comigo?