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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

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© 1994 Miranda Lee

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Casamento e milagres, n.º 1097 - julho 2017

Título original: Marriage and Miracles

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

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Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9170-247-4

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

A estreia das novas peças de teatro de Nathan Whitmore tornara-se um verdadeiro acontecimento em Sidney nos últimos anos.

Gemma observava os rostos famosos que havia no hall com uma sincera falta de interesse. A fama não a impressionava. Porque haveria de o fazer? Há muito pouco tempo atrás, não teria sido capaz de reconhecer nenhuma das pessoas que estava ali aquela noite.

– Sorria, senhora Whitmore – pediu-lhe um fotógrafo. – E você também, menina Campbell.

– Sorri, Gemma – sussurrou-lhe Celeste. – Isto foi ideia tua, lembras-te? Eu avisei-te para não vires, mas, agora que já estás aqui, tens de sorrir.

As duas mulheres sorriram e Gemma perguntou-se o que diria o fotógrafo se soubesse que, na verdade, estava a tirar a fotografia de uma mãe com a filha.

Não havia dúvida de que a notícia causaria um grande tumulto em Sidney, sobretudo se também se soubesse que o sogro de Gemma, Byron Whitmore, também era o seu pai biológico.

A longa inimizade entre a atraente chefe das Jóias Campbell e o bonito chefe da Whitmore Opals alimentara muitas disputas ao longo dos anos. Frequentemente, tinham corrido rumores de que os dois empresários tinham tido uma aventura no passado, mas ninguém teria adivinhado as circunstâncias extraordinárias que rodeavam o nascimento de Gemma, a sua infância nas mãos de um homem que a roubara a pensar que era o seu pai e o seu regresso à vida dos seus verdadeiros progenitores, vinte anos depois.

Gemma só descobrira a verdade há três dias, mas já criara um laço com o seu pai e a sua mãe. Na sua opinião, eram ambos pessoas formidáveis. Não eram santos, como é claro, mas eram boas pessoas e só queriam o melhor para a sua filha, a qual tinham encontrado depois de tanto tempo. Além disso, o facto de finalmente irem casar-se deixava Gemma feliz.

O seu próprio casamento era outro assunto…

Gemma sentiu um nó no estômago. O seu plano para voltar a conquistar Nathan parecera-lhe bom na teoria. Na prática, era perigoso e arriscado, e estava a consumir-lhe os nervos. Mas não tinha alternativa. Amava Nathan mais do que a sua própria vida e tinha a certeza de que, apesar de tudo, ele também a amava. Não podia permitir que um mal-entendido e o azar acabassem com o seu casamento. Sobretudo, não naquele momento, quando havia a possibilidade de que estivesse grávida.

– Porque Byron demora tanto? – perguntou, preocupada, quando o fotógrafo partiu. – Espero que não esteja a tentar fazer de intermediário entre mim e Nathan. Pedi-lhe que não o fizesse.

– Por favor, Byron nunca faria algo do género, Gemma! Ele sabe que neste momento tem pouca influência sobre Nathan, pois não gostou de descobrir que Byron foi para a cama comigo estando ainda casado. E quando lhe disse que íamos casar-nos… – Celeste revirou os olhos. – Acho que Nathan olhou para ele como se pensasse que estava louco.

– Pobre Byron! Não merece essa reacção da parte de Nathan.

– Francamente, Gemma, ninguém merece a reacção de Nathan. O que me surpreende é que tu continues a amá-lo. O facto de não te ter contado que eu era tua mãe parece-me desprezível, mas…

– Prometeste-me que não voltaríamos a falar disso. Sabes muito bem que Nathan estava fora de si quando o fez. Se eu consegui perdoá-lo e esquecer, porque não o fazes também?

– Desculpa, mas não suporto que os homens tratem as mulheres com violência. No entanto, não voltarei a mencioná-lo. É a tua vida e sei que estás decidida a tentar salvar o teu casamento.

– E tu prometeste ajudar-me.

– Só Deus sabe porquê…! – murmurou Celeste.

– Porque me amas? – perguntou Gemma, tocando-lhe carinhosamente no pulso.

Celeste ficou surpreendida ao ver-se invadida por aquele amor maternal, que fez com que os seus olhos se enchessem de lágrimas. Pestanejou rapidamente e assentiu, enquanto apertava a mão da sua filha.

– Terei de acreditar em ti quando dizes que vale a pena lutar por Nathan e que não é o cretino mais frio e cínico que já conheci.

– Lenore acha que vale a pena – respondeu Gemma. – E ela esteve doze anos casada com ele.

– Apesar dos seus erros, é evidente que esse homem sabe inspirar lealdade nas suas esposas.

– Só teve duas!

– Até agora! Se se divorciar de ti, como diz, um dia poderá haver uma terceira.

– Não vamos divorciar-nos! – replicou Gemma. – E não haverá uma terceira!

– E como pretendes fazê-lo mudar de ideias?

– Utilizando todos os meios que estejam à minha disposição.

– Hum… Hum! Entendo. Não querias vir à peça, mas à festa que há depois.

Gemma corou, mas recusou-se a envergonhar-se do seu plano. Afinal, Nathan era o seu marido. Além disso, não estava vestida de forma tão provocante como Celeste se vestira noutras ocasiões. Muito bem, usava um vestido vermelho muito justo e, sim, com um decote que deixava intuir que não usava sutiã, mas isso não era nenhum crime.

– Só quero falar com ele – mentiu. – Não conseguirei nada se não falar com ele.

– Quem brinca com o fogo queima-se! – avisou-a Celeste. – Já me aconteceu.

– E acabaste com o homem que amas. Essa também é a minha intenção.

Celeste surpreendeu-se ao ver a dureza com que a sua filha lhe falava. Afinal, os seus pais eram ambos muito teimosos. Quase sentiu pena de Nathan.

– Ah…! Byron já chegou – disse Celeste, sorrindo e dando-lhe o braço. – Pensávamos que te tinhas perdido. Como estão as coisas nos bastidores?

– Toda a gente está muito nervosa. Excepto Nathan, é claro, que tem nervos de aço.

«Tal como o coração», pensou Celeste, mas não o disse em voz alta.

– Disse-te algo de mim? – quis saber Gemma.

– Nem uma palavra.

– Sabe… Sabe que estou aqui e que depois vou à festa?

– Mencionei-o de passagem, mas não pareceu importar-lhe. Sinceramente, surpreende-me que continue a querer divorciar-se. Nunca o tinha visto tão inflexível, tão insensível. Parece que pôs uma couraça impossível de penetrar.

– É só uma fachada por detrás da qual se esconde! – garantiu-lhe Gemma ou, pelo menos, assim esperava.

– Está na hora de entrarmos, não está? – sugeriu Celeste, para mudar de assunto. Vira Gemma magoada e esperava que aquele canalha não voltasse a fazer-lhe mal, senão, ela seria capaz de o matar com as suas próprias mãos.

– Ainda não tocou o gongo – respondeu Byron, – mas, sim – rectificou ao ver o olhar persuasivo de Celeste, – é melhor entrarmos.

Um fotógrafo tirou uma fotografia aos três enquanto entravam no teatro. Celeste e Byron sorriram. Gemma, por seu lado, parecia muito triste. Começava a perder a fé no seu plano e em que Nathan a amava.

Sentou-se e olhou para o programa que Byron lhe dera ao chegar, com o fim de acalmar a ansiedade que sentia no estômago.

Sobressaltou-se ao ver a fotografia a preto e branco do seu marido, que parecia olhar para ela e que emanava uma dureza da qual ela não tivera consciência até então. Para ela, sempre fora como um deus. Tinha um rosto perfeito, uma boca sensual e uns olhos cinzentos lindos. O olhar daquela fotografia era gélido e o sorriso era cínico.

Gemma sempre odiara que lhe sorrisse assim, como se houvesse muitas coisas no mundo que ela ainda não conhecesse. Nathan sempre dissera que o mundo estava podre. Falava da raça humana com cinismo, sobretudo do sexo feminino, provavelmente devido ao facto de as mulheres que conhecera na sua infância terem sido mulheres depravadas e más.

Primeiro, fora a sua mãe, uma rapariga rica e mimada, que partira de casa na adolescência e tivera uma vida dissipada, que se drogara e abusara de tudo. Aparentemente, colocara-o num colégio interno quando Nathan tinha oito anos e tirava-o de lá cada vez que um amante a deixava, para voltar a colocá-lo quando encontrava outro novo. Morrera de uma overdose quando Nathan tinha dezasseis anos e ele vivera na rua. Quando Byron o encontrara, vários meses mais tarde, Nathan estava a viver com uma mulher com idade para ser sua mãe. Byron tornara-se seu amigo e, mais tarde, adoptara-o.

Gemma tremeu ao pensar no que teria acontecido a Nathan se Byron não o tivesse acolhido.

Se bem que, sob a tutela de Byron, Nathan tinha continuado a ter os seus problemas, sobretudo com o sexo oposto. Segundo o que Gemma ouvira, as relações que mantivera com as mulheres da sua família adoptiva tinham sido, no mínimo, duvidosas e o seu casamento rápido com Lenore também não tivera sucesso. Quando Gemma o conhecera, no princípio daquele ano, em Lightning Ridge, Nathan já era um divorciado de trinta e cinco anos que estava enfastiado da vida.

Ao vê-lo, Gemma gostara muito da sua beleza madura, do seu estilo e da sua sofisticação, e ele parecia ter-se entusiasmado com a beleza jovem, a inocência e a inexperiência dela com os homens. Ao princípio, Gemma não quisera ter nada a ver com um homem divorciado e muito mais velho do que ela, mas não demorara a ser seduzida e a casar-se com ele.

Tinham ido de lua-de-mel com imensos avisos a respeito de Nathan. Até ao momento, o sexo sempre fora muito importante nas suas relações. Embora o que incomodasse mais Gemma fosse o facto de ser ciumento e possessivo, e que tivesse o hábito de a tratar como se fosse uma menina inocente. O seu cinismo extremo era outro ponto de discórdia entre ambos, para além da sua falta de capacidade para se comunicar com as mulheres a qualquer nível que não fosse o físico.

Mas nada disso significava que não a amasse. Simplesmente, não sabia como expressar o seu amor, nem confiar nele. Gemma pensava que, com o tempo, poderiam chegar a ter a relação que ela queria. Com o tempo e com amor. Não estava disposta a desistir ao primeiro obstáculo.

Apesar da importância do obstáculo. Nem todas as mulheres perdoariam os seus maridos se estes as acusassem falsamente de infidelidade e, depois, quase as violassem. Mas Gemma também o acusara de infidelidade sem que fosse verdade. E com respeito à violação… entendia por que razão e como acontecera, e perdoava-o.

Nathan ficara louco ao encontrá-la no quarto de Damian Campbell. E perdera o controlo. Talvez, se Gemma tivesse resistido, em vez de ter ficado deitada, paralisada pelo horror, Nathan tivesse parado. Era evidente que estava arrependido. E ela acabara por compreender tudo.

Felizmente, porque era possível que tivesse engravidado naquela tarde. Nathan esquecera-se de que dissera a Gemma para parar de tomar a pílula.

A maioria das mulheres teria sentido repugnância perante a ideia de engravidar na consequência de uma violação, mas, depois de perdoar Nathan, Gemma começara a sentir-se bem. Além disso, talvez isso a ajudasse a recuperar o seu marido. Ele não se casara com Lenore porque ficara grávida? Certamente, voltaria para a mulher que amava se soubesse que esperava um filho seu.

Por isso, naquela noite Gemma iria à festa que haveria depois da estreia, com a intenção de seduzir o seu marido, ir para a cama com ele e, assim, libertá-lo da culpa de a ter engravidado naquela tarde horrível. Porque, embora ela o tivesse perdoado, era evidente que ele não se perdoara. Gemma tinha a certeza de que este era um dos motivos pelos quais insistia em divorciar-se.

– Lenore não está muito favorecida na fotografia, pois não? – comentou Celeste, olhando por cima do ombro de Gemma.

Ela concentrou-se no programa que tinha nas mãos e examinou aquela que não só era a ex-mulher de Nathan, como também a protagonista da peça.

Celeste tinha razão. A fotografia não fazia justiça a Lenore, que era muito bonita em carne e osso. Era ruiva e tinha uns olhos verdes magnéticos que gritavam «Olhem para mim!». Gemma imaginou que, assim que entrasse no palco, todos os olhares ficariam enfeitiçados com ela.

Apesar de já ter trinta e cinco anos, Lenore parecia muito mais jovem. A sua figura era tão espectacular como o seu rosto, era alta, magra e de porte elegante. Gemma sempre se sentira trôpega em comparação com ela. Por muito que as pessoas lhe dissessem que tinha uma cara bonita e uns olhos bonitos, por muito que elogiassem as suas curvas voluptuosas, Gemma sentia-se inferior à ex-mulher de Nathan.

Se tivesse tido mais fé no amor do seu marido, teria ficado e ter-se-ia dado conta de que o que ouvira fora o ensaio da peça de teatro, e não uma discussão acerca do seu devaneio da noite anterior. Em vez disso, Gemma refugiara-se em casa dos Campbell, o que fizera com que Nathan a agredisse.

A única coisa boa que lhe acontecera na semana anterior fora descobrir a identidade da sua mãe e descobrir que o homem horrível que considerara o seu pai até então não o era.

– Byron disse-me que Lenore tem um caso com Zachary Marsden – sussurrou Celeste. – Aparentemente, planeiam casar-se no ano que vem, quando ele se divorciar.

– Sim, já sabia.

– Lenore não é um perigo para o teu casamento, Gemma.

– Sim, também sei disso. Agora.

– Mais vale tarde do que nunca.

– É assim que te sentes em relação ao teu casamento com Byron?

– É claro! Estou desejosa.

– Quando será o grande dia?

– O mais depressa possível. Não quero ir de branco, nem nada disso. Quero apenas uma cerimónia simples. A única coisa que desejo é que Byron me ponha a aliança no dedo.

– E a única coisa que eu desejo é voltar a ter o meu Nathan.

– Tens a certeza de que o teu amor por esse homem não é cego, Gemma? Sabes o que estás a fazer? Eras muito jovem quando te casaste com ele. Tinhas vinte anos. E agora és apenas alguns meses mais velha.

– E tu só tinhas dezassete anos quando te apaixonaste por Byron.

– Isso foi diferente.

– Em quê?

– Porque não param de mexericar as duas? – sussurrou Byron. – Vão levantar o pano.

– Não te zangues, querido – disse-lhe Celeste, dando-lhe uma palmadinha no braço.

– Claro que sim! Investi muito dinheiro nesta peça.

– Não te preocupes, se fracassar, venderei o iate e dar-te-ei o que me pagarem por ele.

– Talvez tenhas de o fazer.

– Chiu! – exclamou alguém atrás deles, quando se levantou o pano.

Pouco depois, toda a gente estava em silêncio, atenta ao que se passava no cenário.

Em seguida, Gemma entendeu porque a peça se intitulava A mulher de preto. A protagonista, interpretada por Lenore, era uma viúva de cerca de trinta e cinco anos, cujo marido, mais velho do que ela, acabava de falecer. O sinistramente atraente enteado da protagonista apresentava-se no funeral e criava uma atmosfera de tensão sexual. Depressa se tornou óbvio que tivera uma aventura com a sua madrasta e que esta tivera um filho dele, embora o seu marido tivesse achado que era dele e lhe tivesse deixado toda a sua fortuna em herança.

A meio do primeiro acto, a viúva voltava a correr o perigo de ser seduzida pelo seu enteado. Ele entrava no seu quarto na noite do funeral e conseguia atá-la pelas mãos e pelos pés à cama. Estava prestes a cortar-lhe a camisa de dormir com uma tesoura quando caiu o pano.

– Meu Deus! – comentou Celeste, a tremer e a olhar, surpreendida, para Gemma. – E o homem que escreveu isto é o homem que amas?

– É só uma peça de teatro, Celeste – defendeu-se Gemma, embora corada. – Não é real!

– No entanto…

– Vai ser um êxito! – exclamou Byron. – Olhem para o público. Está toda a gente a falar da peça. Ao ler o argumento soube que seria uma peça comovedora, um drama erótico, mas vê-la representada…! – abanou a cabeça, com admiração e incredulidade. – E Lenore está muito bem, não está? E o herói é simplesmente incrível!

– Não é nenhum herói – comentou Celeste, secamente.

– Sabes o que quero dizer. Além disso, aposto que não há nenhuma mulher em todo o teatro que o rejeitasse.

– Nisso, talvez tenhas razão – respondeu ela e Byron olhou para ela como se sentisse ciúmes.

– Nesse caso, depois não te levarei à festa. De certeza que ele vai. Gemma pode ir sozinha!

– Não acho que ela se importe – murmurou Celeste. Talvez Gemma não quisesse que o seu pai visse o que ia fazer. Apesar de ser um homem apaixonado, Byron era à moda antiga. Para ele, era o homem quem devia dar o primeiro passo.

Portanto, talvez fosse boa ideia levar Byron para casa depois da peça. Não lhe custaria nada.

Apoiou a mão com aparente inocência na sua perna.

– Não sejas tolo, Byron! Toda a gente espera que vás à festa. Pelo menos, um pouco. Mas podemos escapulir-nos logo. Se Gemma quer falar com Nathan, pode voltar depois para Belleview de táxi.

– És má! – resmungou ele, mas não afastou a perna.

Celeste limitou-se a sorrir. Uma mãe era capaz de tudo pela sua filha.

– Querem beber algo, meninas? – propôs, com voz um pouco trémula.

– Boa ideia, querido! – respondeu Celeste. – Champanhe. Temos coisas para celebrar.

– Vou buscar.

– O que temos para celebrar? – perguntou Gemma, quando Byron partiu. Não estivera a ouvir o início da conversa.

– O sucesso da peça.

– Suponho que devia estar contente por Nathan – comentou, fazendo uma careta, – mas nunca gostarei desta peça. Como poderia gostar, se é a causa do fim do meu casamento?

– A peça não tem a culpa do fim do teu casamento. O culpado é Nathan, que se recusou a ouvir-te, que fechou os olhos e os ouvidos ao teu amor.

Celeste tinha razão. Porque Nathan virara as costas ao seu amor? Porque quisera provocar o divórcio, confessando-lhe que sabia a identidade da sua mãe? Um homem que estivesse realmente apaixonado seria capaz de fazer algo do género?

Tentou encontrar uma resposta, mas não gostou da conclusão a que chegou. Nathan não podia amá-la. Talvez nunca a tivesse amado. Talvez toda a gente tivesse razão quando dizia que o que sentia por ela era só luxúria. Talvez Nathan já tivesse encontrado uma terceira esposa, como Celeste sugerira…

Sentiu pânico ao recordar que talvez estivesse grávida. Poderia permitir-se pensar coisas negativas, mesmo que fossem lógicas? O amor não era lógico. Talvez fosse a vergonha e a culpa que tivessem feito com que Nathan utilizasse a sua única arma. Aquele relatório. Ele amava-a. Tinha de a amar! Porque se não a amasse…

– Não tens de ir à festa – disse Celeste, em voz baixa.

Gemma pestanejou e disse para si que, se houvesse alguma possibilidade de Nathan a amar, tinha de a aproveitar.

– Vou – respondeu ela, mais tranquila. – Não tenho escolha.

Celeste sentiu-se tentada a contrariar a sua filha, mas depois recordou todas as tolices que ela fizera por amor. Duvidava que alguém tivesse conseguido dissuadi-la naquela época.

Portanto, ficou em silêncio e Byron voltou com o champanhe. Depois, a peça recomeçou. O segundo acto foi tão surpreendente como o primeiro. E, finalmente, os três partiram do teatro para assistirem à festa.

Capítulo 2

 

– Porque não deste esta festa em Belleview? – perguntou Celeste a Byron, enquanto saíam do estacionamento subterrâneo. – Embora não me queixe, Double Bay fica muito mais perto do que St. Ives.

– Essa é precisamente a resposta à tua pergunta. Os actores têm mais dois espectáculos amanhã, dado que é sábado, e a maioria vive perto da cidade. Por isso, aceitei quando Cliff me ofereceu a sua casa.

– Quem é Cliff? Um dos teus amigos de negócios?

– Quem me dera! É um produtor americano que quer comprar os direitos da peça de Nathan. Quando Cliff a leu, veio disparado. Tem muita lábia e pensa que os australianos nasceram ontem no que se refere ao negócio do cinema. Embora, de certo modo, seja verdade.

– Não lhe cedas os direitos da peça por menos de dois milhões, Byron – recomendou-lhe Celeste. – Ouvi dizer que é o que vale um bom argumento hoje em dia.

– Dois milhões, eh? Não te parece excessivo?

– Absolutamente! A peça será um sucesso, seja no palco ou no grande ecrã.

– Tens razão! É provável que valha dois milhões. Pedir-lhe-ei três.

– Assim é que eu gosto! – Celeste riu-se.

Gemma, que ia sentada na parte de trás do Jaguar de Byron, ficou em silêncio e agradeceu que os seus pais estivessem a conversar tão animadamente. Assim, evitava pensar na noite que a esperava, na sua missão impossível. Perguntou-se como seria a casa que aquele magnata americano arrendara. Supunha que um apartamento enorme ao lado do porto. Ou umas águas-furtadas.

Quando Byron entrou numa rua tranquila e parou à frente de uma mansão branca enorme de estilo mediterrânico, os olhos de Gemma quase saltaram das órbitas. Nunca teria achado que pudesse haver uma casa que pudesse fazer sombra a Belleview, mas estava enganada. Então, deu-se conta de que, com dinheiro, não podia comprar-se tudo, mas muito!

Celeste deve ter pensado algo parecido.

– Se pode permitir-se um lugar como este, Byron – comentou, enquanto saíam do carro, – então três milhões não serão nada para ele.

Um segurança confirmou a sua identidade à porta e deixou-os passar.

Gemma observou o jardim tropical, com fonte incluída, que havia à frente da casa, depois subiram alguns degraus que davam para um pórtico enorme. As floreiras de cerâmica que estavam alinhadas no corredor coberto também eram muito grandes e deviam ter custado uma pequena fortuna.

Byron tocou à campainha, enquanto Gemma se virava para admirar a fonte.

– Se «Ma» visse este lugar… – murmurou.

– Já lhe falaste de mim? – perguntou-lhe Celeste, ao ouvi-la mencionar a sua vizinha de Lightning Ridge.

– Escrevi-lhe ontem à noite. Vai ficar petrificada quando descobrir que Byron é o meu pai. Eu acho que sempre gostou dele.

– Sim? Parece-me que terei de pôr fim a essas viagens de Byron em busca de opalas. Nunca gostei da história de que a ausência é para o amor como o vento é para o fogo. Os homens acreditam mais em «olhos que não vêem, coração que não sente».

– «Ma» deve ter uns setenta anos, Celeste. Não tens de te preocupar com ela.