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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2007 Carole Mortimer. Todos os direitos reservados.

A VINGANÇA DO SICILIANO, N.º 16 Setembro 2012

Título original: The Sicilianís Ruthless Marriage Revenge

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em portugués em 2012.

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

™ ®, Harlequin, logotipo Harlequin e Sabrina são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-0639-9

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Prólogo

 

Perdido.

Tudo perdido.

O dinheiro gastara-se há muito tempo. Tinha vendido o apartamento de Londres, a propriedade em França, o Ferrari vermelho...

Perdera tudo na roleta.

Era uma doença. Ele sabia-o. Uma doença que parecia não ter cura.

Na noite anterior, tinha perdido a única coisa que jurara nunca apostar no jogo e deixara a sua família numa situação económica verdadeiramente difícil.

Oh, meu Deus!

As suas mãos apertavam o volante do veículo que conduzia, um carro alugado. Não tinha sequer dinheiro para comprar um. Tinha escolhido instintivamente a estrada da montanha, salpicada de curvas tortuosas, para sair de Monte Carlo. O azul-celeste do Mediterrâneo parecia chamá-lo tentadoramente lá em baixo. Era um caminho que conhecia muito bem, um caminho pelo qual, apesar da sua elogiável força de vontade, regressaria naquela noite, quando a febre o dominasse e o vencesse o fascínio pelas mesas de jogo.

Como poderia enfrentar o seu pai e Robin, e dizer-lhes o que fizera? Como poderia sequer explicar-lhes que os tinha traído?

Não, não podia.

Como poderia fazê-lo depois de todos os sofrimentos que já lhes tinha causado?

E, lá em baixo, estava o mar azul que parecia convidá-lo a...

Possivelmente, o melhor que podia fazer era dar uma guinada no volante na primeira curva.

Talvez fosse a resposta, a solução para a doença de que padecia, aquela febre que o conduzia sempre à deusa Fortuna.

Uma deusa que o tinha abandonado por completo...

 

 

Tudo.

Acabara tudo.

Todas as esperanças e sonhos já não significavam nada, agora que sabia que Pierre nunca a amara, que nunca tivera a mínima intenção de deixar a mulher por ela.

Um ano antes, tinha acreditado nele quando lhe dissera que a amava, não lhe tinha importado que fosse um homem casado, só quisera estar com ele, sentir-se amada por ele e amá-lo.

Acreditara que o filho que tinham tido três meses antes seria o incentivo que necessitava para deixar a esposa. Mas, em vez disso, o covarde tinha decidido confessar tudo à sua mulher e pedir-lhe perdão para continuar ao seu lado.

Pobre bebé!

O seu Marco.

Ela levara a vergonha e a desonra à sua família dando à luz. E tudo para nada. Pierre não a amava. Tinha passado a última noite nos braços dele depois de fazerem amor. Tinha-lhe pedido que ficasse com ela e com o menino, mas ele dissera-lhe a verdade, que nunca a amara, que ela fora uma simples diversão, mais uma conquista de uma longa lista de aventuras.

As lágrimas caíam pelo seu rosto enquanto conduzia pela estrada da montanha em direção a Monte Carlo, para o chalé que a sua família tinha ali. Para o seu menino, o seu pequeno e maravilhoso filho sem pai.

Que conveniente seria para ele se ela desaparecesse!

Se ela morresse, o seu irmão Cesare cuidaria de Marco, protegê-lo-ia da desonra do seu nascimento, cuidaria dele como do seu próprio filho, defendendo-o para que nada nem ninguém pudesse fazer-lhe mal.

Conseguiria fazê-lo? Conseguiria pôr fim à dor pelo abandono de Pierre?

As mentiras dele tinham-na levado ao desespero. Sentia o seu amor traído, o amor que ela tinha achado tão maravilhoso, tão perfeito...

Sim, era o melhor, era a solução. Era o que pensava enquanto olhava para as águas rutilantes do Mediterrâneo, convidando-a tentadoramente como um diamante lá em baixo. Sim, conseguia fazê-lo. Conseguiria sair da estrada para a beira do precipício e pôr fim a tanta dor de uma vez por todas...

 

 

Ele não se apercebeu de que vinha um carro em direção contrária. Nenhum dos dois tentou virar o volante para se desviar. Os veículos chocaram, fundindo-se num rangido de metais. E, depois, o vazio, nada.

Ele ainda se virou para olhar para o condutor do outro veículo e contemplar a beleza da jovem mulher. Ela devolveu-lhe o olhar com os seus cativantes olhos pretos.

Em seguida, os dois carros começaram a cair, precipitando-se, como atraídos por um íman, para as profundidades do Mediterrâneo...

Capítulo 1

 

– A mulher que está com Charles Ingram, sabes quem é? – perguntou Cesare, com aspereza.

 

– Desculpa? – perguntou, confuso, Peter Sheldon, o homem que o acompanhava.

Cesare mordeu o lábio. Apesar de ser um jantar de beneficência, os dois homens tinham mantido uma conversa de negócios durante a qual Cesare estivera distraído, cativado pela mulher que passeava pela sala com Charles Ingram.

Ao lado do pior inimigo de Cesare!

– Simplesmente, estava a perguntar-me quem seria aquela mulher tão bela que acompanha Charles Ingram – disse, com voz calma e tom de indiferença.

Charles Ingram já estava a caminho dos sessenta anos, tinha o cabelo grisalho e ainda era um homem atraente. Numa sala cheia de mulheres belas, com joias luxuosas e vestidos de marca, e de homens elegantes e refinados, com fatos de gala feitos à medida, a figura esbelta e alta da mulher que estava com Charles Ingram destacava-se pela singularidade extraordinária da sua presença.

O seu cabelo cor de mel caía em ondas brilhantes até meio das costas e os seus olhos, inclusive ao longe, eram de um violeta intenso.

Estava a rir-se de algo que Charles Ingram lhe dizia naquele momento. A sua pele era cremosa, a sua boca era uma tentação, o seu pescoço era comprido e suave, e os seus seios marcavam-se sob o vestido branco simples que se cingia na perfeição às suas curvas sedutoras.

Uma das suas mãos finas, que podiam, sem dúvida, acariciar um homem até o levar à beira da loucura, repousava plácida e possessivamente no braço do seu acompanhante.

– É uma beldade, não é? – murmurou Peter Sheldon, com admiração. – Bela, mas inalcançável.

– Quer dizer que é propriedade exclusiva de Ingram? – perguntou Cesare.

– Não, absolutamente – esclareceu o seu companheiro, com tom divertido. – A dama em questão é Robin Ingram, a filha de Charles – acrescentou, com indiferença.

Robin Ingram? A filha de Charles Ingram?

Nos últimos três meses, Cesare tinha reunido toda a informação que conseguira sobre Charles Ingram, queria saber tudo o que pudesse sobre o seu inimigo declarado. O segundo filho de Ingram fora incluído na investigação, mas Cesare tinha suposto, erroneamente, que Robin era o filho mais novo de Charles Ingram e, portanto, de menos interesse.

– Pensava que Robin era um nome masculino – comentou Cesare.

– É um daqueles nomes que podem usar-se indistintamente para um ou outro sexo.

Portanto, o segundo filho de Charles Ingram era uma mulher... Uma mulher maravilhosa, sensual e sedutora.

Isso mudava o rumo da vingança que Cesare tinha planeado contra a família Ingram.

 

 

– Papá, conheces aquele homem? Não, não olhes agora – rogou Robin ao seu pai, em voz baixa, quando viu, fascinada, que o homem se virara para a olhar fixamente. – Há um homem na sala, um homem moreno, de olhos pretos.

– Um homem atraente, moreno e de olhos pretos? – brincou o pai.

– Bom... Sim – admitiu ela, com uma careta. – Mas não estava a olhar para ele por isso.

– Não? – o seu pai sorriu com indulgência.

– Não – insistiu ela. – Esteve a olhar para mim nos últimos dez minutos.

– Eu também estaria a olhar para ti se não fosses minha filha – afirmou Charles, com um sorriso. – Estás verdadeiramente bonita, Robin. Fico feliz por me teres convencido a vir contigo esta noite. Tinhas razão, não podemos esconder-nos de toda a gente simplesmente porque podem falar de Simon.

Robin desviou os olhos do homem que a olhava tão intensamente do outro lado da sala e fixou o olhar no seu pai, reparando nas rugas de tristeza que ainda lhe sulcavam a testa e se prolongavam pelo nariz e pela boca.

Os últimos três meses não tinham sido fáceis para nenhum deles. A morte inesperada do seu irmão Simon num acidente de trânsito tinha suposto um golpe duro nas suas vidas.

Fora uma perda que nenhum deles conseguira assimilar e que possivelmente nunca conseguiriam aceitar por completo. Mas ela tinha convencido o seu pai a ir com ela naquela noite ao jantar de beneficência.

– Esqueçamos isso por agora e voltemos ao teu desconhecido atraente de olhos pretos – disse o seu pai, com diversão. – Onde está? – perguntou, virando-se para dar uma olhadela à sala cheia de celebridades.

– Salta à vista – replicou Robin, fixando novamente o olhar naqueles olhos quase pretos. – É aquele muito alto, o moreno de trinta e muitos anos de cabelo comprido – disse ela, sentindo um calafrio pelas costas perante o brilho do seu olhar. – O que está com Peter Sheldon... O que se passa, papá? – perguntou ela, virando-se com preocupação para o seu pai ao notar sob os dedos a tensão repentina do braço dele.

– Quero que te mantenhas afastada daquele homem, Robin – aconselhou-lhe com gravidade, enquanto se colocava de forma protetora diante dela.

– Mas quem é? – perguntou Robin, olhando para o seu pai, desconcertada.

– Chama-se Cesare Gambrelli – disse Charles, secamente.

Gambrelli... Porque é que aquele nome lhe era tão familiar?

Só o nome, certamente, até então nunca o vira.

– Italiano, sem dúvida – continuou o seu pai. – Milionário, bilionário. Entre outras coisas, é proprietário da cadeia hoteleira Gambrelli.

Essa devia ser a razão pela qual o seu nome lhe era tão familiar. Robin conhecia a categoria dos hotéis Gambrelli. Estivera em alguns deles. Quem nunca tinha ouvido falar dos estabelecimentos luxuosos e exclusivos espalhados por todo o mundo? Ou da cadeia de meios de comunicação Gambrelli? Ou dos estúdios de música e de cinema?

E aquele homem, o homem que estivera a olhá-la com tanto descaramento, era o proprietário de tudo aquilo. Embora isso não explicasse a aversão que o seu pai parecia sentir por ele.

– Não entendo – disse ela, desconcertada. – Mas... Não olhes agora, papá – disse-lhe ela, em voz baixa. – Parece-me que vem para aqui.

– Charles – disse Cesare, cumprimentando-o com frieza, sem lhe estender a mão, enquanto se colocava entre ele e a filha. – Suponho que deva ser a tua maravilhosa filha...

– Sim, é Robin – respondeu Charles Ingram, inquieto. – Surpreende-me ver-te num evento de beneficência, Gambrelli.

– Achas que sou assim tão desumano, Charles? – perguntou, desafiante, enquanto olhava de cima a baixo para Robin.

Robin já se apercebera da opinião que o seu pai tinha dele e essa impressão não demorou a confirmar-se em poucos minutos. Sem dúvida, era um homem perigoso! E também o homem mais atraente que jamais vira. Os olhos eram tão escuros que pareciam pretos, o nariz era aquilino, os lábios esculturais eram duros e cruéis, o queixo era quadrado e terminante, e o cabelo escuro penteado para trás ressaltava a brancura do colarinho da camisa de gala. Os ombros eram largos e musculosos. Mas, sem dúvida, era o homem atraente mais perigoso que já conhecera.

A forma como a olhara até àquele momento, com aqueles olhos pretos, escrutinara cada traço da sua cara antes de parar nos seus seios, tão sugestivamente marcados sob o vestido branco sem alças, mas aquela forma tão especial de a olhar também a deixara alerta quanto às intenções dele.

– Absolutamente – respondeu o seu pai a Cesare, com indiferença. – Mas este jantar serve uma causa solidária britânica, não italiana.

– Charles, eu não sou italiano, sou siciliano.

Robin notou a reação de nervosismo do seu pai às palavras de recriminação de Cesare, tal como se deu conta de que por detrás do tom lânguido se escondia uma ironia desafiante. O que estava a acontecer ali? Havia algo sob aquela aparente conversa superficial entre os dois homens. Havia uma fricção, um duplo sentido em todas as frases, que fazia supor que não estavam a falar simplesmente de um jantar de beneficência, mas de algo muito mais importante.

– Peço desculpa, enganei-me – sussurrou o seu pai em resposta ao comentário anterior de Cesare.

Mas Cesare fazia pagar os erros. Os sicilianos não eram muito dados ao perdão. Cesare ainda não tinha perdoado aos Ingram por lhe terem tirado a sua irmã, a mãe de Marco.

– Está a divertir-se, menina Ingram? – perguntou-lhe Cesare.

Ele concentrou toda a sua atenção nela, pois notava pelo aumento súbito dos seios, turgentes sob o tecido suave do vestido, que, embora se apercebesse da hostilidade do pai, se sentia sexualmente atraída por ele.

«Ainda bem», pensou Cesare, com grande satisfação.

Ainda não tinha decidido o plano a seguir, mas sabia que o alvo da sua vingança já não era Charles Ingram.

– Sim, obrigada – respondeu ela, secamente.

Humilde, recatada, tímida... Mas sabia bem que Robin Ingram não era nenhuma daquelas coisas.

Peter Sheldon conhecia Robin bastante bem.

Tinha vinte e sete anos, era dez anos mais jovem do que ele, mas fora casada durante três anos com o filho de um lorde, embora não tivessem chegado a ter filhos. Depois do divórcio, há um ano, tinha voltado a usar o sobrenome Ingram e não tinha mostrado a mínima intenção de repetir a experiência.

– O meu amigo Peter Sheldon disse-me que dedicou muito tempo à organização desta noite – disse Cesare. – Os meus mais sinceros parabéns – acrescentou.

– Obrigada – repetiu ela. – Mas, dado que ainda nem sequer serviram o jantar, parece-me que os parabéns possam ser prematuros – acrescentou, sorrindo.

Cesare olhava-a, pensativo. Tinha-o contrariado saber que já fora casada e que era divorciada, embora entendesse que com vinte e sete anos fosse natural que já não fosse virgem. Não obstante, interessava-lhe muito saber quem se divorciara de quem e por que razão.

– Infelizmente, não poderei ficar para o jantar – disse ele, muito amavelmente. – Tenho compromissos pessoais que reclamam a minha presença noutro lugar – acrescentou.

– A sério? – perguntou ela, com perspicácia.

Cesare conteve um sorriso ao notar o desencanto dela. Pelo tom dela, percebia a interpretação óbvia, mas errada, que dera aos seus compromissos pessoais.

– Sim, lamentavelmente – confirmou ele, com tom zombador. – Mas acredito que o resto da noite seja um verdadeiro sucesso.

– Eu também o espero – respondeu-lhe Robin, incomodada consigo mesma pela forma como deixara a sua imaginação voar ao ouvi-lo a mencionar os compromissos pessoais.

Não tinha saído para jantar com mais nenhum homem para além do seu pai desde o seu divórcio, já há mais de um ano, e muito menos se sentira atraída sexualmente por um homem... Apenas ao olhar para ele! Ainda sentia a sensação de agitação nos seios, a humidade entre as coxas e a atração sexual que lhe despertava qualquer coisa que tivesse a mínima relação com Cesare Gambrelli.

– Acho que o banquete já vai começar – disse ela, vendo com alívio que os perto de trezentos convidados começavam a atravessar a sala a caminho das salas de jantar. – Foi um prazer conhecê-lo, senhor Gambrelli – acrescentou, com cortesia.

A sua figura tirava-a do sério. A forma tão descarada como a olhava tirava-a do sério. E as advertências do seu pai contra Cesare Gambrelli, apesar do sucesso indiscutível nos negócios, tiravam-na ainda mais do sério.

– Um prazer? – Cesare voltou à carga, olhando-a com insistência e descaramento. – Nesse caso, devíamos voltar a ver-nos, Robin – acrescentou.

Robin sentiu um nó na garganta.

– Muito em breve – disse, com muita calma, antes de fazer uma reverência ao seu pai e afastar-se a passos largos.

– Robin, quero que te mantenhas afastada daquele homem – repetiu o seu pai, com alguma palidez no rosto.

– Porquê?

– Confia em mim. Por favor, fica longe dele. Aquele homem é perigoso.

A voz do seu pai parecia fazer eco dos pensamentos que ela mesma tivera a respeito de Cesare Gambrelli apenas alguns minutos antes.

Mas, depois dos sentimentos que Cesare tinha despertado no seu coração e no seu corpo, teria realmente intenção de se manter afastada dele?