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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2012 Cathy Williams. Todos os direitos reservados.

A VERDADE DAS SUAS CARÍCIAS, N.º 1466 - maio 2013

Título original: The Truth Behind His Touch

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2013

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

™ ®, Harlequin, logotipo Harlequin e Sabrina são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-2954-1

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Capítulo 1

 

Caroline abanou-se com o folheto, que agarrava como se fosse um talismã desde que saíra no aeroporto de Malpensa, em Milão, e olhou à sua volta. Em algum lugar, entre os edifícios históricos e as praças elegantes, estava aquilo que procurava. Sabia que devia dirigir-se para lá, sem ceder à tentação de beber uma bebida fresca e comer um doce, mas tinha calor, estava cansada e faminta.

– Não demorará nada – dissera Alberto. – É um voo breve, um trajeto de táxi e um passeio curto até encontrares os escritórios, e terás uma linda vista! Espetacular! Há muitos anos que não vou a Milão, mas ainda me lembro do esplendor da Galeria Vittorio.

Caroline olhara para ele com ceticismo e o idoso corara, porque aquela viagem não era um passeio turístico. De facto, tinha de estar de volta dois dias depois.

Devia localizar Giancarlo de Veto e conseguir fazer com que voltasse com ela para o Lago de Como.

– Eu podia ir, querida – murmurara Alberto, – mas o meu estado de saúde impede-me. O médico disse-me para descansar o máximo possível, por causa do meu coração.

Caroline voltou a interrogar-se como se deixara convencer para cumprir aquela missão. Na verdade, o êxito ou o fracasso daquela viagem não era um assunto dela. Era apenas o mensageiro. Dizia respeito a Alberto. Ela era unicamente uma assistente, encarregada de fazer uma tarefa estranha.

Consultou o mapa e dirigiu-se para a rua que marcara a cor de laranja.

Não estava vestida adequadamente. No lago, estava mais fresco. Em Milão, as calças colavam-se às pernas. E desejava ter vestido uma roupa sem mangas, em vez da blusa que usava. Deveria ter prendido o cabelo.

Incomodada com o calor e com aquilo que a esperava, mal reparou na bonita catedral, ao passar apressadamente ao seu lado, enquanto arrastava a mala.

Uma pessoa de temperamento menos alegre, sentir-se-ia tentada a amaldiçoar o seu velho chefe, por lhe ter pedido uma tarefa que ultrapassava os seus deveres, mas Caroline era otimista e acreditava que poderia conseguir o que esperava dela. Tinha uma enorme fé na natureza humana. Alberto, pelo contrário, era o cúmulo do pessimismo.

Ao chegar ao seu destino, observou a antiga fachada de pedra de um edifício de três andares, adornado com lindas esculturas.

Pensou que Giancarlo não podia ser uma pessoa muito difícil, se trabalhava num sítio tão bonito.

– Não posso dizer-te nada sobre Giancarlo – replicara Alberto, quando ela o pressionara para que lhe desse mais detalhes sobre aquilo que a esperava. – Há muitos anos que não o vejo. Poderia mostrar-te fotografias, mas são muito antigas. Deve ter mudado, em todos estes anos. Se tivesse um computador... Mas um velho como eu, como posso aprender a manejá-lo?

– Posso ir buscar o meu portátil – propusera, mas ele recusara.

– Não, eu não gosto desses aparelhos. Para mim, a tecnologia resume-se à televisão e ao telefone.

Caroline concordava com ele. Só usava o computador para enviar e receber e-mails.

Portanto, carecia de detalhes sobre Giancarlo, embora imaginasse que era rico, porque Alberto lhe dissera que era uma pessoa importante. As suas suspeitas aumentaram, quando entrou nos escritórios modernos. Se a fachada parecia ter saído de um guia de edifícios medievais, o interior pertencia ao século XXI.

Não a esperavam, como é óbvio. O efeito surpresa era fundamental, segundo Alberto, porque se não, iria recusar-se a recebê-la.

Demorou mais de meia hora a convencer a rececionista elegante, que falava demasiado depressa para Caroline conseguir segui-la, a não a mandar embora.

– Porque veio? Esperam-na?

– Não exatamente.

– Sabe que o senhor De Veto é um homem muito importante?

Caroline, num italiano hesitante, apresentou vários documentos que a rececionista estudou em silêncio. As coisas começaram a mudar.

Mas teve de continuar à espera.

Três andares mais acima, Giancarlo, que estava numa reunião, foi interrompido pela sua secretária, que lhe sussurrou algo ao ouvido. Ele ficou imóvel e fechou os olhos escuros e frios.

– Tens a certeza? – perguntou. Elena Carli raramente se enganava e era por isso que trabalhava para ele há cinco anos e meio. Quando ela assentiu, Giancarlo desculpou-se e deu a reunião por terminada. Depois, dirigiu-se para a janela.

Portanto, o passado, que pensava que tinha deixado para trás, voltava. O bom senso indicava que devia rejeitar aquela intrusão na sua vida. No entanto, sentia curiosidade. No seu mundo de riqueza inimaginável e enorme poder, a curiosidade não surgia com frequência.

Giancarlo de Veto conseguira chegar onde estava, graças à sua determinação feroz e à sua ambição desumana. Não pudera escolher. Alguém tinha de sustentar a mãe e, depois de uma série de amantes, o único que restara para o fazer fora ele.

Depois de acabar o curso, entrara no mundo das finanças com tanta habilidade, que depressa lhe abriram várias portas. Ao fim de três anos, já podia escolher com quem trabalhar. Ao fim de cinco, já não precisava de trabalhar para ninguém, eram os outros que trabalhavam para ele. Naquele momento, com pouco mais de trinta anos, era multimilionário, superava os seus adversários em cada nova fusão ou aquisição e estava prestes a conseguir uma reputação que o tornaria intocável.

A mãe morrera há seis anos, no banco do passageiro do carro do seu jovem amante. Como filho único, deveria ter chorado mais, mas a mãe fora uma mulher difícil, que gostava de gastar dinheiro e era difícil de agradar. Desagrava-lhe que passasse de um amante para outro, mas nunca a criticara.

Giancarlo deixou de lado as recordações, com ar de impaciência. Com os pensamentos novamente em ordem, pediu que mandassem subir a mulher que o esperava.

– Pode subir – a rececionista fez um sinal a Caroline que, se fosse por ela, teria continuado sentada no vestíbulo, com o ar condicionado, depois das horas de calor que suportara. – A senhora Carli estará à sua espera quando sair do elevador e irá levá-la ao escritório do senhor De Veto.

Caroline ficou um pouco nervosa, perante aquilo que a esperava. Não queria voltar com as mãos vazias. Alberto não estava bem de saúde e o médico recomendara muita tranquilidade.

Caroline seguiu a secretária e atravessaram escritórios cheios de executivos, que trabalhavam e mal levantaram o olhar quando passaram.

Todos estavam muito bem vestidos. As mulheres eram bonitas e magras, com o cabelo preso e fatos caros.

Em comparação, Caroline sentiu-se gorda, baixa e pouco arranjada. Nunca fora muito magra, nem sequer quando era criança. Quando se punha à frente do espelho, quase se convencia de que tinha curvas e era voluptuosa, uma ilusão que desaparecia quando se observava atentamente. Também não tinha um cabelo bonito. Nunca o usava como queria. Só conseguia domá-lo um pouco quando estava molhado. Naquele momento, o calor fizera com que se frisasse ainda mais e as madeixas escapavam da trança que fizera à pressa.

Elena abriu a porta de um escritório tão bonito que, durante alguns segundos, Caroline não reparou no homem que, junto da janela, se virava lentamente para olhar para ela.

A única coisa que viu foi o tapete persa antigo e enorme, que cobria o chão de mármore, o papel pintado das paredes, a biblioteca que ocupava uma parede e os quadros antigos, não de formas e linhas absurdas e indecifráveis, mas de bonitas paisagens.

– Ena! – exclamou, impressionada, enquanto continuava a olhar à sua volta, de forma descarada.

Por fim, o seu olhar parou no homem que a observava e sentiu uma tontura ao observar a beleza impossível daquele rosto. O cabelo preto, ligeiramente comprido e penteado para trás, emoldurava um rosto de perfeição surpreendente, de feições clássicas e sensuais. Tinha olhos escuros e impenetráveis. Umas calças caras, feitas à medida, cobriam-lhe as pernas compridas. Arregaçara a camisa até aos cotovelos e tinha braços fortes e bronzeados.

Caroline apercebeu-se de que estava diante do homem mais espetacular que já vira na sua vida. Demorou a aperceber-se de que olhava para ele de boca aberta. Pigarreou, enquanto tentava recuperar o controlo.

O silêncio prolongou-se, até ele se apresentar e a convidar a sentar-se. A voz correspondia com o aspeto. Era profunda, aveludada e muito fria.

Caroline começou a pensar que não parecia ser um homem que conseguisse convencer a fazer algo que não desejasse.

– Bom... – Giancarlo sentou-se e olhou para ela. – Porque achou que podia aparecer sem razão no meu escritório, menina...?

– Rossi, Caroline Rossi.

– Estava numa reunião.

– Lamento muito, não queria interrompê-lo. Teria esperado com prazer, até ter acabado – e sorriu. – De facto, está muito fresco no vestíbulo e soube-me bem descansar um pouco. Passei horas a andar e está muito calor – ao ver que ele continuava em silêncio, passou a língua pelos lábios, nervosa.

Ele continuou calado.

– A propósito, este edifício é fantástico.

– Vamos deixar-nos de elogios, menina Rossi. O que a trouxe aqui?

– O seu pai enviou-me.

– Eu sei e é por isso que está sentada no meu escritório. O que lhe pergunto é porquê. Passei mais de quinze anos sem ter nenhuma relação com o meu pai, por isso, gostaria de saber porque enviou uma estranha, para entrar em contacto comigo.

Caroline sentiu-se invadida por uma raiva pouco habitual, enquanto tentava relacionar aquele desconhecido frio com o idoso por quem sentia grande afeto, mas zangar-se não a ia levar a lado nenhum.

– E quem é a menina? O meu pai não é jovem. Não me diga que encontrou uma esposa jovem, para cuidar dele na velhice – recostou-se na cadeira e juntou as pontas dos dedos. – Não muito bonita, certamente – murmurou, enquanto a examinava com insolência. – Uma esposa jovem e bonita não é uma boa ideia para um idoso, nem sequer para um idoso rico.

– Como se atreve?

Giancarlo riu-se, com frieza.

– Aparece aqui sem avisar, com uma mensagem de um pai que apaguei da minha vida há anos. Sinceramente, tenho todo o direito do mundo de dizer o que quiser.

– Não sou casada com o seu pai.

– A alternativa é ainda mais desagradável e totalmente estúpida. Como pode estar com alguém com o triplo da sua idade, a não ser que seja por dinheiro? Não me diga que o sexo com ele é fantástico.

– É terrível que diga isso! – Caroline pensou como pudera ficar boquiaberta com o aspeto dele, quando era evidente que se tratava de um tipo desprezível. – A minha relação com o seu pai é profissional.

– A sério? E o que faz uma jovem como a menina, numa velha casa, junto de um lago, na companhia de um idoso?

Caroline fulminou-o com o olhar. Ainda se sentia magoada com a forma como a examinara e a chamara de «não muito bonita». Sabia que não era bonita, mas ouvir um desconhecido a dizê-lo fora muito indelicado, sobretudo, quando era tão atraente como o homem sentado à frente dela.

Teve de cerrar os dentes, para resistir à tentação de agarrar na mala e ir-se embora.

– E então? Sou todo ouvidos.

– Não tem de ser tão desagradável comigo. Lamento ter-lhe estragado a reunião, mas não estou aqui por vontade própria.

Giancarlo pensou que tinha ouvido mal. Ninguém se atrevia a acusá-lo de ser desagradável. Podiam pensar que era, mas era chocante ouvi-lo, sobretudo, tratando-se de uma mulher. Normalmente, as mulheres queriam agradar-lhe.

Examinou-a atentamente. Não era, certamente, uma das belezas anémicas que as revistas elogiavam. E, embora tentasse não o demonstrar, era evidente que o último sítio onde desejava estar era no seu escritório e ser submetida a um interrogatório.

Uma pena.

– Suponho que o meu pai a manipulou, para fazer o que ele quer. É a governanta? Porque contrataria uma governanta inglesa?

– Sou a secretária – reconheceu Caroline, contrariada. – Conhece o meu pai. O seu pai esteve um ano destacado em Inglaterra, como professor universitário. O meu pai foi um dos seus alunos. O seu pai foi mentor do meu e mantiveram-se em contacto quando regressou a Itália. O meu pai é italiano – indicou. – Não fui para a universidade, mas os meus pais pensaram que seria bom que eu aprendesse italiano, visto que era a língua materna do meu pai. Ele perguntou a Alberto se podia ajudar-me a encontrar um emprego em Itália, durante uns meses. Portanto, estou a ajudar o seu pai a registar as suas memórias e também me encarrego da administração dos seus assuntos. Não quer saber como está? Não se veem há muitos anos.

– Se quisesse vê-lo, não acha que teria entrado em contacto com ele?

– Sim, mas às vezes, o orgulho impede-nos de fazer aquilo que desejamos.

– Se tenciona começar com jogos psicológicos, a porta é ali.

– Não estou a fazer isso – insistiu ela. – Só me parece que... Bom, sei que quando os seus pais se divorciaram, a situação para si não deve ter sido muito agradável. Alberto não fala muito sobre isso, mas sei que quando a sua mãe se foi embora, levando-o com ela, tinha apenas doze anos de idade.

– É incrível o que ouço! – querendo proteger a sua privacidade, Giancarlo, recusava-se a acreditar que alguém estivesse a falar de um passado que guardara num armário, para depois o trancar.

– De que outra forma posso enfrentar esta situação? – perguntou Caroline, perturbada.

– Não costumo falar do meu passado!

– A culpa não é minha. Não lhe parece que é saudável falar daquilo que nos preocupa? Nunca pensa no seu pai?

O telefone tocou e ele disse à secretária para não lhe passar as chamadas. De repente, invadido por uma energia que parecia não conseguir controlar, levantou-se e olhou pela janela. Depois, virou-se para ela.

Parecia uma mosca morta. Demasiado jovem e inocente. E parecia que se compadecia dele, o que o irritou imenso.

– Sofreu um enfarte – comunicou ela, bruscamente, enquanto os seus olhos se enchiam de lágrimas. Tivera de o levar para o hospital e enfrentar aquela situação horrível, sozinha. – Um enfarte muito grave. Esteve à beira da morte – abriu a mala para tirar um lenço de papel, mas ele ofereceu-lhe um de pano, de brancura imaculada.

– Desculpe – sussurrou ela, – mas não sei como pode ficar aí, como uma estátua, sem sentir nada.

Olhou para ele com os seus grandes olhos castanhos, de forma acusadora, e Giancarlo corou, o que o incomodou porque não tinha motivo algum para se sentir culpado. Não tinha uma relação com o pai. De facto, as lembranças da sua vida na casa junto do lago eram de discussões constantes, entre pai e filho.

Alberto casara com Adriana, a sua jovem e bela esposa, quando estava prestes a fazer cinquenta anos. Era vinte e cinco anos mais velho que ela.

O casamento prolongara-se, contra todos os prognósticos, mas fora terrivelmente difícil para a sua esposa exigente.

A mãe de Giancarlo não se reprimira ao contar-lhe tudo o que não funcionara na relação, assim que o menino fora suficientemente crescido para perceber os pormenores.

Alberto era egoísta, frio, mesquinho, desdenhoso e, provavelmente, segundo a mãe, teria tido outras mulheres, se não carecesse das habilidades sociais necessárias para se relacionar com o sexo oposto. Deixara-os, a ela e ao filho, sem um cêntimo. Por isso, seria de estranhar que ela precisasse, de vez em quando, de um pouco de álcool e de outras substâncias para se animar?

Havia tantas coisas que Giancarlo não podia perdoar ao pai...

Ele mantivera-se à margem, enquanto a sua mãe delicada, sem nenhum tipo de preparação académica e unicamente com a sua beleza, andara de amante em amante, à procura de um que a amasse e ficasse com ela. Quando morrera, era uma sombra daquilo que fora.