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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2013 Maisey Yates

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

O casal que enganou toda a gente, n.º 1553 - Agosto 2014

Título original: The Couple who Fooled the World

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5382-9

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Epílogo

Volta

Capítulo 1

 

– Pelo seu design e facilidade de utilização, o novo sistema operativo está muito acima de qualquer concorrente – Julia Anderson virou-se para o ecrã de alta definição que tinha atrás dela, no qual se estava a projetar a interface do seu computador, para que os milhares de pessoas que constituíam o público e os milhões que estavam a ver essa mesma apresentação pela televisão e pela Internet, em todos os cantos do mundo, a vissem. – Tem um design impecável, é fácil de utilizar e esteticamente agradável, algo que, como todos sabemos, também é importante. Em matéria de tecnologia, não importa apenas os cabos, o que importa são as pessoas.

Sorriu para as câmaras, segura do seu bom aspeto. Ainda bem que tinha um estilista pessoal e uma equipa que se certificava de que estava perfeitamente penteada e maquilhada, porque sem ajuda seria um desastre. Já lho tinham dito muitas vezes. Contudo, com a equipa que se assegurava de que ficava apresentável, via-se capaz de enfrentar o mundo inteiro, literalmente, com total confiança.

– Mas o design não é tudo – respirou fundo e voltou a olhar para o computador. – Também tem de haver uma boa segurança. O novo firewall que incluímos é o mais seguro que há, neste momento, no mercado. É capaz de identificar e bloquear as ameaças mais sofisticadas, por isso, poderão ter a tranquilidade de saber que os vossos dados estarão protegidos.

Naquele momento, viu a imagem do monitor a piscar e apareceu um vídeo que depressa ocupou o ecrã inteiro. Julia ficou gelada, pois todos tinham os olhos postos nela e no ecrã gigante que havia atrás dela, onde podia ver-se o mesmo que tinha no seu computador.

– De certeza? Não me parece, senhora Anderson. Talvez nos proteja dos poucos piratas informáticos que utilizam o Anfalas, porque qualquer um que use o programa Datasphere poderá entrar no sistema sem nenhum problema.

Sentiu um suor frio na nuca. As faces ardiam. Ferro Calvaresi era um autêntico pesadelo que a perseguia. Embora, para ser justa, também o fosse para ele. E os dois eram um pesadelo para Scott Hamlin. Ou seja, tinham o hábito de se incomodarem uns aos outros, mas aquilo era demasiado.

O rosto de Ferro, tão bonito que era enervante, tinha invadido o ecrã e, portanto, a sua apresentação. Aquele sorriso petulante era a prova de uma falha na segurança, da qual Julia nada sabia.

– Qualquer um não, senhor Calvaresi – rebateu, tentando manter a calma, porque sabia que a sua humilhação estava a ser vista em todo o mundo. O lançamento do seu novo sistema operativo era a notícia do dia, tal como acontecia cada vez que saía qualquer produto da Anfalas. E Ferro acabava de estragar tudo. – Quase é preciso ter um doutoramento em tecnologia, para se saber utilizar o Datasphere. No entanto, os computadores Anfalas são pensados em função do utilizador.

– Pois, o utilizador acaba de sofrer um ataque. Talvez haja um dado bancário ao qual possa aceder...

Fez sinal a um dos técnicos, para que cortasse a ligação entre o computador e o ecrã, que ficou preto, ao mesmo tempo que desaparecia também o som. A voz e o rosto de Ferro continuavam no seu computador.

– Acabou-se! – disse, lançando-lhe um olhar fulminante. Em seguida, olhou para o público. – Peço desculpa por esta interrupção. Sabem como é a concorrência. Deve estar a tentar compensar certas carências... – o público desatou a rir.

Os membros da imprensa estavam impacientes, mas sabiam que não deviam bombardeá-la com perguntas antes do momento certo. Julia era muito exigente e não gostava que as suas apresentações sofressem uma interrupção.

Que raiva!

Levaram-lhe outro computador e pôde retomar a sua apresentação. Estava bem claro que a parte em que falava da segurança do novo sistema tinha de desaparecer, portanto, optou por falar da alta definição dos novos monitores e mostrar os programas de edição de imagem e som, duas coisas que causavam sempre muito impacto nos seus clientes.

Quando terminou, decidiu evitar a imprensa. Saiu a toda a pressa do palco, pôs os óculos de sol e arrancou a mala das mãos do seu assistente.

– O carro?

– Pela porta de trás. Estacionámos outro à frente da porta principal, para enganar a imprensa.

– Obrigada – disse Julia.

Apetecia-lhe abraçá-lo e chorar, mas Thad iria censurá-la por estragar a maquilhagem. De qualquer forma, jamais mostraria semelhante fraqueza. Os fracos não sobreviviam, não venciam na vida, nem nos negócios, por isso, nunca revelava sinais de vulnerabilidade. Por experiência, sabia que não devia fazê-lo.

Iria para casa, para a sua mansão com vista para o mar, olharia pela janela e comeria uma caixa de gelado. Sim, iria entregar-se à ingestão de calorias. E depois... Depois, planearia uma boa vingança contra o maldito Ferro Calvaresi!

Saiu do edifício pela porta das traseiras, entrou na limusina que já a esperava e fechou rapidamente a porta, para se ir embora dali o quanto antes.

– Olá.

Assim que virou a cabeça, ficou boquiaberta. Ali estava Ferro, com o seu sorriso trocista.

– Que raio...? O que fazes no meu carro?

– Este é o meu. As limusinas são todas iguais.

– Então, o que fizeste ao meu carro?

– Disse ao motorista que podia ir-se embora, porque já tinhas carro. E disse que tinhas uma reunião... Comigo.

– Para poder dar-te um murro na cara, pelo espetáculo que montaste durante a minha apresentação?

– Parece que te esqueceste daquilo que aconteceu no meu último lançamento...

Julia reprimiu um sorriso.

– O quê?

– Os sacos que demos aos convidados, no lançamento do novo telefone da Datasphere, continham o teu OnePhone. Além disso, projetaram o vosso slôgane na parede.

– «O OnePhone pode com todos» – recordou, rindo-se. – «Não passa de moda».

– Não estou de acordo.

– O problema é que a tua apresentação não era nada, comparada com a minha. Na tua, só havia um grupo de informáticos. As minhas apresentações são um acontecimento.

– Porque cada vez que lanças um produto novo, o transformas num espetáculo.

– Esse é o meu estilo e as pessoas gostam. Lanço tendências, Calvaresi.

– Ah, sim? As tendências passam. Lembra-te das calças de ganga rasgadas...

– Eu nunca deixo de evoluir – replicou. – Os meus produtos não perdem importância – o carro arrancou. – Para onde vamos?

– Para o meu escritório.

– O meu dia de trabalho já acabou.

– Não, Julia. A não ser que queiras perder a oportunidade da tua vida.

– Acabei de a ter, lá dentro – e olhou para as mãos. Aquelas unhas não pareciam ser suas, com aquela manicura tão cuidada. Embora nem tudo fosse assim tão simples. Com a maquilhagem e a roupa cara podia esconder a rapariga dos computadores, mas ela continuava lá. Contudo, não deixaria que o mundo voltasse a ver essa rapariga fraca e vulnerável. – Deparo-me constantemente com as oportunidades da minha vida – voltou a olhar para ele. – Oportunidades com as quais a maioria nunca se depara. Porquê? Porque trabalho muito e porque sou um génio. O que significa que, se perder essa oportunidade, surgirá outra antes do jantar.

– Eu não apostaria nisso.

– Pareces muito seguro do que estás a dizer.

Ferro olhou fixamente para ela e esboçou um sorriso.

– A Barrows entrou em contacto contigo.

– Como sabes?

O sorriso aumentou nos lábios dele.

– Não tinha a certeza, até agora. Também entrou em contacto comigo. E com Hamlin. Estão a sondar-nos, para desenharmos o novo sistema de navegação dos seus carros de luxo.

– Ah, sim? – perguntou num tom neutro.

Aquela oferta era a coisa mais importante que lhe acontecera, desde que o OnePhone se convertera no telemóvel mais vendido nos Estados Unidos. A possibilidade de milhões de carros virem a ser equipados com os seus sistemas de navegação era algo incrível. Impressionante. Mas parecia que tinha concorrência.

– Sim. E, se quiseres vencer, eu posso ajudar-te.

– Não preciso da tua ajuda.

Ferro não se alterou.

– Claro que precisas. Acabei de fazer com que parecesses tremendamente vulnerável e pouco preparada. Parece que precisas mais da minha ajuda do que pensas.

Julia cerrou os dentes. Não havia nada que odiasse mais do que a palavra «vulnerável».

– Qual é a contrapartida, Calvaresi?

– Terás de me ver mais vezes – replicou, exibindo um grande sorriso triunfante.

Meu Deus! Era tão irritante! E bonito. O que o tornava ainda mais irritante.

– Para quê? Se tiveres a intenção de fazer mais cenas como a de hoje, não vou gostar de te ver.

– A maioria das mulheres alegrar-se-ia, por me ver com mais frequência.

– A maioria das mulheres não disputa contigo o mercado, nem a liderança da melhor empresa de tecnologia do mundo.

– Nem me causa tantos incómodos. Mas estou disposto a deixá-lo passar, por um bom motivo.

– Que motivo?

– Vou ser sincero. Não posso candidatar-me a esse projeto, mas tu também não. Careço da... Simplicidade dos teus produtos.

– Certamente, os teus não são pensados em função do utilizador.

– Porque não quero empobrecê-los, só para vender mais, a menos que seja necessário.

– És um snobe.

– Bom – continuou, – a questão é que não temos a tecnologia necessária, para que o sistema de navegação seja fácil e acessível a todos. Mas sabes que os meus processadores são melhores e mais duradouros do que os teus. Hamlin é capaz de oferecer uma versão medíocre do meu processador e da tua interface. Nenhuma dessas duas coisas seria tão boa como o original, mas é verdade que o processador dele é melhor do que o teu e que a interface é melhor do que a minha.

– Como sabes tudo isso?

– Graças à espionagem industrial, como é óbvio.

– Isso não é correto!

– Sim, claro, como se tu nunca o tivesses feito...

Julia fingiu espirrar e aproveitou para olhar pela janela. Ao fim de sete anos, continuava a impressionar-se com a paisagem da costa californiana. Começara ali uma nova vida, do zero. Reinventara-se por completo.

Naquele momento, tinha de descobrir uma forma de fugir por um instante de Ferro, das suas perguntas, dos seus sorrisos e daquele aroma masculino, e não era nada fácil, num ambiente tão reduzido como o interior da limusina.

Muitos informáticos cheiravam como se acabassem de ter saído de uma caverna e, inclusive, tinham as costas um pouco curvadas, por estarem muitas horas ao computador. Se não tivesse contratado o assessor de imagem, talvez também tivesse acabado assim, porque a verdade era que os códigos binários eram muito mais importantes na sua vida do que o aspeto que pudesse ter. Sempre que tinha tentado arranjar-se sozinha, tinha ficado com um ar ridículo. Sem um assessor, seria um desastre.

Ferro, no entanto, não era assim. Tinha uma elegância e uma componente sexual a que raramente as pessoas com a sua inteligência, incluindo ela, prestavam atenção.

Julia não conseguiria ter semelhante cariz sexual, nem sequer com ajuda, mesmo que quisesse.

– Deduzo que o teu silêncio significa que estás de acordo – disse ele, com secura. – Não quero que Hamlin consiga o projeto, quero-o para mim. E tenho a certeza de que se passa o mesmo contigo.

– Sim – admitiu, sem desviar o olhar da paisagem. Ao ver que a limusina fazia um desvio, virou-se para Ferro. – Pensei que íamos para o teu escritório.

– Sim, para o da minha casa.

Julia franziu o sobrolho.

– Porquê?

– Não quero que a nossa aliança se torne pública, até saber como apresentá-la ao mundo.

– Falas demasiado no singular, para quem está a propor que trabalhemos juntos.

– Tens algum problema com isso? – perguntou, desafiante.

– Não se pode pensar no singular, quando se trabalha em equipa, Ferro. Não sei se sabes isso...

– Odeio clichês.

– Por alguma razão se tornam clichês. Porque são verdadeiros.

– Não necessariamente.

O veículo parou junto de um controlo de segurança. Ferro baixou o vidro, pôs o polegar num scâner e pediu a Julia que fizesse o mesmo.

– Não vai reconhecer a minha impressão digital.

– Eu sei. Também não servirá para abrir o portão, mas guarda o registo.

– Tens um registo de impressões digitais! Que paranoico!

– Achas desnecessário?

Julia encolheu os ombros e deu-lhe razão, contrariada. Certamente, era um dos motivos pelos quais Ferro era tão paranoico, pois tentava, com frequência, descobrir todos os seus segredos profissionais. Mas ele também o fazia.

– É a tua vez – disse ele.

Olhou para a janela do seu lado.

– O que queres? Que passe por cima de ti, para mostrar a mão?

Nos olhos dele, apareceu um brilho.

– Sim.

Julia sentiu as faces a arder, mas teve o cuidado de não o olhar nos olhos e de não parecer nervosa. Estava habituada aos homens e às suas insinuações, a ponto de já não a afetarem. Especialmente, quando usava a sua couraça, a imagem que oferecia ao mundo. Só tinha de voltar a comportar-se como a executiva fria e agressiva de sempre e recordar-se de que Ferro Calvaresi só pretendia intimidá-la. E jamais se deixaria intimidar por um homem.

Assim sendo, respirou fundo e esticou o corpo, por cima do dele. Ao roçar-lhe no peito, o coração disparou e sentiu algo tremendamente inquietante por todo o corpo. Algo que a deixou trémula e sem fôlego.

Ali estava aquele aroma, outra vez. De perto, podia apreciar todos os elementos. Sentiu o aroma intenso da loção de barbear e um mais suave, do gel de banho. Ambos cobriam aquela pele limpa, sedosa, masculina...

Não estava muito familiarizada com os aromas masculinos, portanto, não sabia se tinha acertado na sua interpretação. Mas também não deveria estar a pensar no cheiro de Ferro Calvaresi...

«Põe o dedo no scâner e afasta-te dele!», ordenou a si mesma.

Voltava a ser a adolescente triste e solitária que fora noutra época. A rapariga que não encaixava em lado nenhum e que, por fim, deixara de tentar. Mas os pais tinham tentado por ela e fora ainda pior, porque tinha descoberto o que acontecia quando se era vulnerável, ingénua e crédula.

Afastou essa lembrança da sua mente, esticou-se mais um pouco para chegar ao scâner e tentou não sentir o roçar do braço dele no peito. Só voltou a respirar quando ouviu o som que confirmava que a máquina tinha registado a sua impressão digital e pôde sentar-se no seu lugar.

Tinham avançado apenas alguns metros, quando apareceu outro portão.

– Não pode ser... – murmurou.

– Este abre-se com um código – esclareceu ele, enquanto escrevia algo no teclado do telefone.

– Ah...

– Não tens o telefone sincronizado com o sistema de segurança da tua casa?

– Não. Mas tenho imensos jogos, muito sofisticados.

– Como é possível que os teus telefones se vendam mais do que os meus? – perguntou, franzindo o sobrolho.

– Não acabaste de ouvir as palavras «jogos» e «sofisticados»? É por isso que se vendem tanto.

– Mas isso não tem nenhuma utilidade prática.

– É possível. Mas a maioria das pessoas não tem sistemas de segurança dignos de paranoicos.

– Como é o teu?

– Tão paranoico como o teu, mas não preciso de o controlar por telefone.

– Deves reconhecer que isto também é muito sofisticado.

– Está bem.

O carro parou à frente de uma casa enorme, que fazia lembrar um palazzo italiano. Ferro saiu, com um sorriso enorme nos lábios, abriu a porta a Julia e ofereceu-lhe a mão. Ela voltou a sentir o coração a disparar, ao apreciar outra vez o cheiro dele.

– Deixa-te disso, Calvaresi. Isto é uma reunião de negócios – saiu do carro sozinha e fechou a porta, tendo o cuidado de não roçar nele. – Não faças nada que não fizesses com outro rival profissional.

– Não me esquecerei de que ficas nervosa quando te tocam.

– Nervosa? Nada disso. Apenas não quero joguinhos. Diz-me o que queres, para que possa voltar para casa. A esta hora do dia, preciso urgentemente de um bom copo de vinho.

– Então, entra e bebe-o aqui, porque não vai ser uma reunião breve.

– Claro que vai, porque sinto que não vou gostar daquilo que me vais propor.

– Não vais gostar, mas não és tola. E, por isso, vais ouvir-me.

– Ah, sim?

– Sim. Sabes que tens algo de que necessito e eu tenho algo de que tu necessitas. A única maneira de o conseguir, é unindo as nossas forças.

– Prefiro arder no inferno!

– Ótimo, mas isso não te ajudará a conseguir o negócio. Trabalhar comigo já o fará.

– Não, só conseguirei metade.

– Metade é melhor do que nada. E é melhor do que ser Hamlin a consegui-lo.

– E porque achas que prefiro que consigas tu o negócio e não Hamlin? – perguntou.

Julia sabia que Scott Hamlin era um cretino e nunca tinha ouvido nada de bom sobre ele. Na sua empresa, havia pessoas que tinham trabalhado para ele e que não descreviam o ex-patrão com palavras bonitas. Contudo, talvez os seus antigos empregados também falassem mal dela e da Anfalas. Também tinha contratado alguns ex-funcionários de Ferro e tinha ouvido com frequência a palavra «tirano».

Mas a verdade era que ela e Ferro nunca tinham sido acusados de assédio sexual. Hamlin era um machista asqueroso, que carecia por completo de escrúpulos. Se havia algo que odiava, era homens que se achavam no direito de abusar de uma mulher, só pelo facto de serem homens, de pagarem um salário a essa mulher ou qualquer outra razão absurda.

Sim, a verdade era que preferia que Hamlin fracassasse. Mas não queria parecer demasiado entusiasmada.

– Conheço-te bastante bem e não tenho muito afeto por ti – viu as horas no seu relógio exclusivo e ligou o cronómetro. – Tens um minuto para me convencer a entrar. Se não o fizeres, vou-me embora.

– Lamento, cara mia, mas eu não faço as coisas assim.

– Então, nem sequer vais tentar?

– Só posso dizer uma coisa. Não sou assim tão mau...