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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2013 Allison Lee Johnson

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Promessas do coração, n.º 34 - Outubro 2014

Título original: A Weaver Vow

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Bianca e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5842-8

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

Capítulo 1

 

Foram os gritos que chamaram a sua atenção.

Murphy. Era tão fácil reconhecer aquela voz... Sobretudo, quando gritava tão alto.

Isabella Lockhart sentiu um nó no estômago. Pousou o pano no balcão do Ruby’s Café e correu para a porta.

Fechada.

Como podia não estar? Fechara-a há trinta minutos. Voltou para trás, para procurar as chaves que Tabby Taggart lhe deixara. Estavam na mesa de aço inoxidável da cozinha, onde as deixara, depois de ter fechado a porta das traseiras.

Correu novamente para a entrada principal e, depois de lutar com o ferrolho durante alguns segundos, finalmente, conseguiu sair. Os gritos mantinham-se e eram cada vez mais estridentes.

Estava a acontecer no meio de Main Street, à frente do café. Havia uma carrinha azul, enorme, estacionada junto da calçada.

«Murphy, por favor, não te metas em mais confusões», pensou.

A súplica silenciosa começava a repetir-se muito. Supostamente, tudo iria mudar em Weaver.

Correu para a carrinha, para o sítio de onde vinham os gritos. Um rapaz muito magro enfrentava um tipo alto e grandalhão.

O que mais a preocupava, contudo, era o taco de basebol que Murphy agarrava com força. Tinha os nódulos dos dedos brancos.

– Claro que sabias o que estavas a fazer! – a voz do homem era violenta e ameaçadora.

– Foi um acidente! – gritou Murphy. – Disse-te isso mil vezes!

– Murphy! – Isabella interpôs-se entre eles.

Agarrou no taco de basebol, no momento em que Murphy o elevava no ar. Tinha apenas onze anos, mas já media mais de um metro e cinquenta. Ela era mais alta, mas só porque tinha saltos. Puxou o taco de basebol com força, apertando a mão contra o peito. O menino, no entanto, não o soltava.

– Larga!

Os olhos castanhos, irreverentes, iguais aos do pai, estudaram-na. Os nódulos estavam cada vez mais brancos, à volta da madeira.

– Não!

Ouviu o homem a resmungar alguma coisa e, então, sentiu uma mão enorme que se fechava sobre a dele.

– Dá-me isso, antes que magoes alguém – indicou o indivíduo, tirando-lhe o taco de basebol.

Pô-lo dentro da carrinha e fechou a porta.

Murphy começou a dizer palavrões que a envergonhavam.

– É o meu taco de basebol! Não podes ficar com o meu taco de basebol!

– Acabei de o fazer – agarrou no rapaz pelo ombro e afastou-o de Isabella. – Fica quieto – acrescentou.

Isabella olhou para ele com atenção, pela primeira vez. Usava um boné castanho muito velho e uns óculos de aviador que lhe escondiam os olhos.

– Tira as mãos de cima de mim!

Independentemente daquilo que tivesse acontecido, aquele homem não tinha o direito de tocar nele.

– Quem pensa que é?

– O homem em quem o seu filho quase acertou com uma bola de basebol – o queixo estava escondido sob a barba de alguns dias.

– Eu não fiz isso! – gritou Murphy.

Isabella fez uma careta e fulminou-o com o olhar.

– Vai-te embora e senta-te – apontou para o banco de madeira que estava na calçada, à frente do café. A cabeça parecia que ia rebentar.

Como pudera pensar que podia ser mãe de Murphy? O menino precisava de mais do que uma mulher que não suportava. Precisava de uma figura masculina, do pai. Mas só se tinham um ao outro.

– Vai-te embora.

Furioso e rebelde, Murphy afastou-se do homem com um movimento brusco e dirigiu-se para o banco.

Isabella olhou para o homem.

– Não sei o que aconteceu aqui...

– Mas... Porque se pôs à frente dele, quando tinha o taco na mão?

Isabella controlou o seu temperamento. Não era boa ideia deixar-se levar pelo calor do momento.

– Murphy não me teria magoado – respirou fundo e virou-se para sentir a brisa, para aquele vento que acariciava e que nunca parecia acabar em Weaver, no Wyoming. – Sou Isabella Lockhart.

– Sei quem é.

Isabella ficou em silêncio por um instante. Só estava há algumas semanas em Weaver, mas devia ser uma vila pequena porque as pessoas já a conheciam, mesmo que ela não as conhecesse. Lucy dissera-lhe isso. Avisara-a. Weaver não tinha nada a ver com Nova Iorque e era ali que residia a sua esperança a respeito de Murphy. Talvez fosse essa a solução para os seus problemas, desde que fosse capaz de o controlar.

Reparou no rosto do indivíduo, no que conseguia ver por baixo do boné e dos óculos.

– Certamente, podemos resolver o que aconteceu, seja lá o que for – começou por dizer, naquele tom que costumava usar com as bailarinas furiosas. – Mas, podíamos falar num sítio que não seja Main Street, senhor...?

– Erik Clay. Não há trânsito, portanto, não sei o que a preocupa. Mas sinto muita curiosidade em saber como vamos resolver isto.

Normalmente, era um homem tranquilo mas, tendo em conta tudo o que acontecera, Erik tinha vontade de agarrar no taco de basebol e destruir algumas coisas com ele.

Olhar para a mulher que tinha à sua frente era muito mais seguro do que olhar para aquele demónio de cabelo preto que se sentara no banco. De repente, ela pôs uma madeixa de cabelo, tão loiro que era quase branco, atrás da orelha. Devia pintá-lo. Aqueles olhos castanhos, quase pretos, não pareciam condizer de forma natural com um cabelo tão claro. A forasteira de Weaver não o deixava indiferente.

– Lamento – declarou. – Seja o que for que aconteceu, certamente, poderei compensá-lo.

– A sério? – esticou o braço em direção à parte de trás da carrinha, convidando-a a ver. – Como?

Olhou para ele com olhos inquietos. O desconforto dela era evidente. Dirigiu-se para o veículo e olhou para trás.

– Oh... Meu Deus... – sussurrou.

Erik tirou uma bola de beisebol de entre o monte de vidros coloridos, partidos em mil pedaços. A igreja de Weaver ficara sem o seu vitral.

– O seu rapaz atirou a bola de propósito.

– Eu não fiz isso! – gritou Murphy, atacando Erik, novamente. – E não sou o... – resmungou um palavrão, que saiu da sua boca com facilidade.

Erik levantou a mão e afastou Isabella do caminho. O menino parou.

– Murphy! – Isabella soltou-se com violência e agarrou o menino pelo braço. Levou-o de volta para o banco, contrariado. – Disse para te sentares – inclinou-se para ele e sussurrou algo que Erik não conseguiu ouvir.

A mensagem surtiu efeito. O menino acalmou-se imediatamente, cruzou os braços e ficou à defesa.

Isabella alisou a saia cor-de-rosa do uniforme de empregada de mesa e endireitou-se. Virou-se e dirigiu-se para Erik. Ele percorreu a curva do traseiro dela com o olhar e continuou a subir.

– Parece que era algo muito valioso – observou, olhando para o vitral partido.

O vitral com uma paisagem de Weaver fora um presente inesperado e não desejado. Contudo, para ele, o valor da peça não podia ser calculada em dólares, sobretudo, porque a artista que o pintara era uma mulher que já não via, alguém que lhe daria com a porta no nariz quando lhe pedisse uma réplica. Porém, não tinha outro remédio. Exibir aquela obra de arte num rancho velho não fazia muito sentido, portanto, doara-a à igreja e já estavam a contar com ela.

– Era.

Suspirou. Os seios subiram e desceram, apertando-se contra o tecido do uniforme durante uma fração de segundo.

– Se me disser o valor que perdeu, posso pagar-lhe.

Erik desviou o olhar daqueles olhos quase pretos, cheios de sinceridade. A raiva começava a acalmar.

– Não foi a menina que atirou a bola. Foi ele – e apontou para o menino. – No meu tempo, quando fazíamos uma destas, acabávamos na esquadra, com o xerife.

Ficou branca como a cal. Quase sem se aperceber daquilo que fazia, agarrou-o pelo braço, como se acreditasse que ia diretamente para a esquadra.

– Por favor, não vá à polícia.

– Porquê?

– Ele não queria causar estragos.

Erik soprou. Era uma pena que uns olhos tão bonitos revelassem tanto pânico.

– A sério? Pegou no taco de basebol e apontou diretamente para a minha carrinha. Vi com os meus próprios olhos.

– É apenas um menino. Nunca cometeu um erro, quando era criança?

Erik sentiu um calor que lhe subia pelo braço. Começava onde ela lhe tocava com os dedos.

– Calma... – e olhou para Murphy.

O menino observou-o, com rebeldia.

– Ele pode trabalhar para reparar os estragos.

Talvez fosse essa a sua cruz. Partira o coração a uma boa mulher, que lhe dera um vitral que nunca quisera e, em troca, teria de suportar um pequeno demónio.

– Em minha casa.

Isabella não mostrou sinal algum de relaxar.

– Em sua casa? Em que está a pensar, exatamente?

– Querida, isto não é uma grande cidade, cheia de pervertidos. Tenho um rancho, o Rocking-C. O rapaz pode trabalhar para mim.

– O rapaz tem nome.

– Murphy pode pôr as selas, carregar feno e limpar os estábulos. Pode ir todos os sábados de manhã, até ao fim do verão.

– Nem pensar – Murphy levantou-se. – Não vou desperdiçar o sábado para o ajudar.

Isabella estava a perder a paciência.

– Senta-te, Murphy. Falo a sério – esperou que lhe obedecesse e olhou para o homem. – Senhor Clay, eu...

– Não há necessidade de tanto formalismo, querida. Chama-me Erik.

– Muito bem.

Era evidente que chamava «querida» a todas as mulheres e Isabella queria pedir-lhe para parar com isso, sobretudo, porque nunca gostara que lhe chamassem «querida», mesmo que tivesse amado um homem que lhe chamava assim. No entanto...

– Agradeço a tua boa intenção. A sério.

O tal senhor Clay não sabia como era importante que Murphy não tivesse mais problemas com a lei.

– Mas, não te conhecemos. É-me indiferente se és da cidade ou da vila. Não posso mandar Murphy para casa de um perfeito desco...

– Fala com Lucy – sugeriu ele. Não parecia incomodado, mas o tom de voz também não era amistoso.

O rosto dele relaxou um pouco. Isabella reparou na covinha que se formava no queixo.

– Ela pode dar-te boas referências.

– Lucy Ventura? – Isabella cruzou os braços e olhou para ele, pensativa.

Era alto, mais alto do que Jimmy, que media mais de um metro e oitenta. Tinha costas muito largas, mas também não tinha de reparar nessas coisas. Só tinham passado nove meses desde...

– Conheces?

– Digamos que sim. É minha prima.

– Oh! – Isabella baixou os braços e afastou o cabelo da cara. Saber que era parente de Lucy abria um novo caminho. O problema podia ser solucionado.

Lucy e ela tinham trabalhado juntas em Nova Iorque, tinham partilhado um apartamento. No entanto, isso fora antes de Jimmy Bartholomew aparecer na sua vida.

– Toma – Erik deu-lhe a bola suja.

Claramente, era de Murphy. Reconhecia a sua assinatura. Escrevera o nome nela, quando Jimmy lha oferecera. Queria fazer-se de importante à frente dos amigos vândalos.

Isabella pegou na bola e deslizou o polegar pelas costuras. Recordava-se muito bem do dia em que Jimmy lha dera. Era como se tivesse sido no dia anterior.

Uma onda de desespero ameaçou embargá-la.

Para ela, Jimmy fora como um vendaval. Fizera-a perder a cabeça com todos aqueles ramos de flores e excentricidades românticas. Declarara-se à frente de todos, no quartel dos bombeiros, mas o casamento nunca chegara a acontecer.

Três meses mais tarde, estava morto.

Olhou para Murphy. Com a morte do pai, ficara órfão. E só a tinha a ela. Tinham-lhe concedido a tutela, provisoriamente.

– Obrigada – sussurrou. E levantou a bola de basebol. – Esta bola significa muito para Murphy.

– Então, não deveria atirá-la contra os carros que passam.

Também podia culpá-la por isso. Fora ela que dissera a Murphy para sair, pensando que conseguiria fechar o restaurante mais depressa, sem ter de suportar as queixas contínuas e a impaciência dele por ir para casa.

Queria acreditar que não fizera de propósito, mas a experiência dizia-lhe outra coisa. Olhou para a rua. Havia muitos carros estacionados junto da calçada, à frente dos muitos negócios que havia em Main Street. Contudo, não passara um único veículo desde que saíra. Queria um sítio diferente na cidade e encontrara-o. Em Weaver, não havia aquelas cafetarias modernas que serviam bebidas em copos de papel. Só havia cafés acolhedores e tradicionais, como o Ruby’s.

Apontou para a porta da entrada.

– Queres entrar? Podemos tratar dos detalhes. O mínimo que posso fazer é oferecer uma chávena de café – conseguiu esboçar um sorriso, embora sentisse vontade de esconder a cabeça e chorar.

– Bom, comeria uma fatia de bolo, se tiveres – rodeou a carrinha e dirigiu-se para a porta do condutor. – E falaremos. Mas, primeiro, tenho de tirar o carro do meio da rua.

Murphy levantou-se do banco, quando o viu a entrar na carrinha.

– E o meu taco de basebol?

Isabella mandou-o calar.

– Não te preocupes com o teu taco de basebol – guardou a bola no bolso e agarrou-o pelos ombros. Fê-lo virar-se para a porta de entrada do café. – Tens sorte por não ter chamado a polícia.

Lá dentro, apontou para a mesa onde estavam os livros da escola.

– Senta-te e faz os trabalhos de casa.

O professor do sexto ano, o senhor Rasmussen, adorava trabalhos de casa. Murphy tinha muitos, todos os dias.

– Já acabei os trabalhos de casa. Lembras-te? – Murphy revirou os olhos e dirigiu-se para um canto.

Como poderia esquecer? Era por isso que queria ir para casa. Porém, ainda tinha coisas para fazer no café e não podia deixá-lo sozinho.

– Então, faz outra vez – replicou. Nunca se sentira tão cansada em toda a sua vida. – Senta-te aí e fica quieto, enquanto tento resolver toda esta confusão.

– Não estava a fazer nada de mal.

– A sério? – Isabella fulminou-o com o olhar. – E também não estavas a fazer nada de mal, quando te apanharam com as mãos na massa, a destruir uma casa da vizinhança?

Murphy sentou-se e ignorando-a.

Isabella suspirou e pôs-se atrás do balcão, para ligar a cafeteira. Depois, foi ao frigorífico e tirou o bolo de maçã. Cortou uma fatia grande e pô-la no micro-ondas, para a aquecer um pouco. Se ia tentar suborná-lo com uma fatia de bolo e um café, seria melhor esforçar-se. Quando ia pôr uma bola enorme de gelado de baunilha em cima do bolo, entrou Erik. Era tão grande que, durante uma fração de segundo, tapou o sol do entardecer. Tirou o boné e passou a mão pela cabeça.

Tinha cabelo loiro, escuro e abundante. Usava-o muito curto. Isabella engoliu em seco, baixou o olhar e continuou aquilo que estava a fazer.

– Posso comer uma fatia? – perguntou Murphy, quando a viu a pôr o prato em cima do balcão.

Isabella assentiu e virou-se para o frigorífico.

– Por favor – ao ouvir a voz grave de Erik, deteve-se e olhou para trás.

No entanto, não estava a olhar para ela. Estava a olhar para Murphy.

– Por favor – repetiu.

Murphy fez uma careta.

– Não és o meu pai – resmungou.

– Ena... – murmurou Erik. – Se fosse, usarias as palavras «por favor» quando deves usá-las e não dirias palavrões à frente de uma menina.

Fez-se silêncio durante alguns segundos. Isabella estava prestes a dizer alguma coisa, mas Murphy desistiu.

– Por favor, posso comer uma fatia de bolo? – pediu. O tom de voz era sarcástico.

Isabella empurrou o prato que preparara para Erik.

– O gelado está a derreter – pôs um guardanapo de papel e talheres, e serviu-lhe uma chávena de café. – Açúcar ou natas?

– Nada. Obrigado – olhou para Murphy pela última vez e sentou-se no banco. – Assim está bom, obrigado.

Abriu o guardanapo e pô-lo no colo.

Tinha o boné manchado e parecia ter lama nas calças de ganga. A camisa de manga curta estava encharcada em suor e cheirava a feno. Ou, pelo menos, era o que parecia...

Isabella cortou uma fatia de bolo para Murphy, aqueceu-a uns segundos e juntou o gelado. Nem sequer considerou a possibilidade de lhe dizer para ir buscá-la. Não queria que se aproximasse muito de Erik, portanto, levou-a para a mesa, juntamente com um copo de leite.

– Tens de jantar, daqui a pouco.

Murphy não respondeu, mas olhou para ela por um instante.

– Obrigado – murmurou. E começou a comer.

Isabella pôs a mão no bolso do uniforme e começou a brincar com a bola de basebol. O vestido cor-de-rosa era simples e estava limpo. Estava contente por o usar, porque tinha trabalho. Com isso e com as aulas que dava no estúdio de dança de Lucy, mantinha um teto, embora com muita dificuldade.

– De nada – e voltou a ficar atrás do balcão.

Era mais seguro.

– Muito bem – acrescentou, soltando um suspiro. – De quantos sábados e de quantas horas estamos a falar?

Murphy ainda tinha alguns meses de aulas, antes das férias do verão, e se as suas notas continuassem a ser tão más, teria de ir a aulas de apoio, no verão, se as houvesse. Caso contrário, não teria outro remédio senão pagar a um professor particular. E também tinha de ir à psicóloga, todos os meses. Fora a condição que o tribunal impusera, antes de lhe dar a tutela. No entanto, tudo isso poderia acabar dentro de sete semanas, quando a assistente social fizesse a sua avaliação final.

Isabella bloqueou esse pensamento. A última coisa de que precisava, naquele momento, era de outra preocupação.

– Bom, é uma pergunta justa – Erik bateu na superfície do prato com o garfo e parou de comer.

Tirou os óculos de sol, lentamente, e olhou para ela nos olhos.

Violeta. Tinha olhos cor de violeta, como Elizabeth Taylor.

– Podes levá-lo no próximo sábado – indicou. – Esta semana não. Estou a tratar do gado, com o meu tio. Mas poderemos começar na semana que vem. Quatro horas. Veremos como corre. Se trabalhar arduamente, talvez não tenha de me deleitar com a sua presença agradável durante toda a primavera e verão. Talvez possamos deixá-lo em paz dentro de alguns meses. Se não... – encolheu os ombros e voltou a agarrar no garfo.

Isabella mordeu o lábio, por dentro. Estavam no fim de março. Esperava que Murphy continuasse ao seu lado, no fim do verão.

– Mas, se trabalhar arduamente, saldará a dívida? Mesmo no fim do ano escolar?

Não parou de olhar para ela.

– Não vou chamar o xerife, se é isso que te preocupa.

– Sim. É isso – queria desviar o olhar, mas não conseguia.

– Tens uma caneta?

Isabella tirou uma caneta do bolso e deu-lha de forma automática. Ele inclinou-se sobre o balcão e tirou um guardanapo. Sem pestanejar, voltou a sentar-se no banco e escreveu alguma coisa.

Sentindo um calafrio, Isabella virou-se e fingiu que estava ocupada com a cafeteira. Fugindo do olhar dele, agarrou no pano e começou a limpar os bancos de vinil. Quando chegou ao de Erik, deteve-se e leu o que escrevera.

 

Quatro horas, todos os sábados, até ao final do ano ou do verão, por ter partido um vitral.

 

Assinara e escrevera a data.

– Queres que assine também?

Ele abanou a cabeça e apontou para Murphy com a caneta.

– Mas ele tem de assinar.