Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.
Núñez de Balboa, 56
28001 Madrid
© 2009 Teresa Southwick. Todos os direitos reservados.
UM AMOR PARA RECORDAR, N.º 1409 - Dezembro 2013
Título original: The Doctor’s Secret Baby
Publicado originalmente por Silhouette® Books.
Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.
Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.
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I.S.B.N.: 978-84-687-3773-7
Editor responsável: Luis Pugni
Conversão ebook: MT Color & Diseño
Dizer a um antigo namorado que tinha uma filha que não conhecia era uma maneira horrível de começar o dia.
E a sala de urgências do Centro Médico Misericórdia onde ele trabalhava era um lugar horrível para lho dizer, mas Emily Summers sabia que o encontraria lá. O doutor Cal Westen era especialista em urgências pediátricas, por isso, tinha de lá estar. Passava sempre pela sala de médicos de urgências trinta minutos antes de começar o turno para beber um café. Pelo menos, era o que costumava fazer. Emily já não estava a par dos hábitos dele, desde que tinham acabado há mais de um ano.
Emily abriu a porta e sentiu um aperto no coração ao vê-lo. Algumas coisas não mudavam, incluindo a sua reação física perante aquele médico carismático e encantador.
– Olá! – cumprimentou-o, levantando a mão.
Cal sorriu imediatamente assim que a viu.
– Emily Summers em pessoa...
Ela entrou na sala e parou ao lado da mesa que havia no centro.
– Como estás, Cal?
– Bem.
Tinha bom aspeto. Como sempre. Era alto, bronzeado e musculado. Aquele homem conseguia fazer com que a bata sem forma parecesse sensual. Emily tinha um passado de atrações por homens altos, morenos e bonitos, mas Cal mudara isso. Tinha o cabelo loiro e despenteado, e uma covinha profunda suavizava-lhe o queixo.
– É bom ver-te – os olhos azuis dele brilharam com alegria autêntica, mas isso mudaria depois de lhe dizer o que queria. Cal deixou a chávena de café na mesa que os separava. – Há quanto tempo não nos víamos?
Emily estava de quatro semanas quando o vira pela última vez e, desde então, a sua vida decorrera numa nebulosa de gravidez e bebé.
– Há cerca de dois anos.
– Parece que foi ontem – indicou Cal, abanando a cabeça.
Ela não podia dizer o mesmo, porque a sua vida mudara profundamente durante esse tempo. Desde que a bebé se mexera dentro dela, sentira um amor maior do que qualquer outro que sentira antes. A sua filha era a única razão por que estava agora ali, pois ver Cal novamente era a última coisa que desejava. Partira-lhe o coração.
Cal olhou-a de cima a baixo e sorriu.
– Tens o cabelo mais curto.
– Assim é mais confortável – declarou, tocando no cabelo.
– Fica-te bem. Muito bem – havia aprovação nos olhos dele. – Perdeste peso?
– Sempre tão encantador... – troçou Emily. Durante o primeiro trimestre da gravidez, não deixara de vomitar e o resto da gravidez também fora complicado. Depois do parto, estivera muito ocupada e não recuperara os seis quilos que perdera.
– A sério, estás diferente.
Tinha uma filha, a filha de Cal, mas não queria dizer-lho de repente. Ainda que não soubesse porque devia preocupar-se com os sentimentos dele quando desprezara os dela.
– Continuo a ser a mesma.
Cal cruzou os braços enquanto a observava e Emily reparou no contorno dos músculos dele. Parecia que fora no dia anterior que acariciara os pelos suaves do peito dele.
Ele contornou a mesa e parou à frente dela, suficientemente perto para sentir o calor do seu corpo.
– Estás fantástica, Emily. Qual é o teu segredo? Nunca soube para onde foste quando deixaste o Centro Médico Misericórdia.
Isso significava que tentara descobri-lo? Quando Emily pensava que tinha o coração sob controlo, voltava a acelerar, mas não queria voltar a sofrer como sofrera por ele.
– Fui para o Centro Médico Amanhecer.
– Continuas a ser assistente social? – perguntou Cal.
– Sim. E também faço outras coisas.
– Seja o que for, faz-te bem.
Emily quisera ser mãe desde a primeira vez que ficara grávida, mas era demasiado jovem para ficar com o bebé. Entregar o filho para que outra mãe tomasse conta dele deixara um vazio no seu interior que fora impossível de preencher.
– Como estão a correr as coisas, Cal? – perguntou, mudando de assunto.
– Muito bem.
Emily achou notar demasiado entusiasmo na voz dele. Ou queria pensar que Cal desejava convencê-la de que estava muito bem desde que tinham acabado?
– Como estiveste, Emily?
Já não podia continuar a adiá-lo. Emily suspirou.
– Tenho um alto no peito.
O rosto de Cal toldou-se com uma expressão preocupada.
– Não há razão para temer o pior. Já foste ao médico?
– Tenho uma consulta, mas...
– Lindquist é especialista. Conheço-o muito bem. Posso ligar-lhe e...
– Não, não é disso que queria falar. Não estou preocupada comigo, mas com a minha filha.
– A tua filha? Não sabia que...
– A nossa filha. Tem onze meses. Chama-se Ann Marie. Annie.
– Ann é o segundo nome da minha mãe – concluiu Cal, como se não soubesse o que dizer.
– E Marie é o da minha mãe. Pareceu-me justo – embora não fosse, depois do que a sua mãe a obrigara a fazer.
Cal passou a mão pelo cabelo.
– O que estás a dizer? Porque devia acreditar em ti, Emily? Tu é que te foste embora. E, antes disso, não mencionaste que estavas grávida.
– Não me deste oportunidade.
– Isto é culpa minha? – Cal levantou dois dedos. – Duas palavras: «Estou grávida.» Era a única coisa que tinhas de dizer.
– Não era assim tão fácil – não depois da experiência horrível que sofrera quando era apenas uma criança.
– E desculpa-me por o perguntar, mas porque mo contas agora?
– Por causa do alto – esclareceu, sem hesitar. – Se me acontecesse alguma coisa, Annie não teria ninguém.
Cal semicerrou os olhos com desconfiança.
– Porque devia acreditar em ti depois de todo este tempo? O que queres, Emily? O que queres de mim?
Emily pensava que não poderia sofrer mais do que na noite em que tentara falar com Cal Westen sobre o bebé, mas enganava-se. A segunda rejeição era igualmente dolorosa, pois incluía Annie. Como podia rejeitar uma menina tão doce?
– Foi um erro não to contar na altura – admitiu, – mas espero que não castigues a tua filha pelo meu erro.
– Não tenho motivos para pensar que é minha filha. Sempre usei proteção quando estivemos juntos. Eu não me arrisco.
– Eu também não – acedeu. O erro que cometera há tanto tempo tornara-a muito cautelosa. – Não sei o que dizer, exceto que suponho que o preservativo se rasgou.
Naquele momento, entrou Rhonda Levin. Emily vira algumas vezes a chefe de enfermeiras de urgências quando trabalhava lá. A mulher robusta olhou para ela com os olhos semicerrados e depois fixou o olhar em Cal.
– Tens trabalho. Estão a trazer as vítimas de um acidente de viação. Um deles é um menino de onze meses com um golpe na cabeça. Têm três minutos – avisou Rhonda, olhando para eles com dureza antes de sair.
– Dizes que o preservativo se rasgou? Vá lá, consegues inventar uma coisa melhor... – segundo parecia, Cal tencionava usar os três minutos para a interrogar. – Vou perguntá-lo mais uma vez. Porque devia acreditar em ti?
Olhou fixamente para ele.
– Se mo perguntas, está claro que não me conheces. Eu nunca te mentiria, Cal, e muito menos sobre algo parecido.
Emily sentiu que já vivera aquela situação quando se virou para se ir embora, mas daquela vez também tinha o coração partido por Annie.
Dois dias depois de Emily Summers virar o seu mundo de pernas para o ar, Cal estava sentado numa cafetaria de Eastern Avenue, a perguntar-se se ela apareceria. Se mudasse de número de telemóvel, não seria capaz de a contactar. Já não vivia na morada a que fora buscá-la tantas vezes para saírem para jantar e onde depois tinham feito amor. Sentira saudades dela quando desaparecera.
Quando fora procurá-lo à sala de urgências, ele tivera de sair para tratar do bebé. Por sorte, fora apenas um gole sem importância na cabeça que suturara com alguns pontos e que, provavelmente, o menino não recordaria, mas ele não tinha tanta sorte, não conseguia esquecer as palavras de Emily: «A nossa filha». Tinha onze meses. Sabia que Emily não era mentirosa e parecia zangada e surpreendida ao ver que ele não acreditava.
Cal bebeu um gole de café e olhou para o relógio pela enésima vez. Eram seis e um quarto e já quase escurecera. Emily escolhera o ponto de encontro, território neutro, porque não queria dar-lhe a sua morada.
Levantou o olhar e viu Emily a avançar para ele. Depois de todos aqueles meses e daquela confusão em que tentava envolvê-lo, como era possível que sentisse um aperto no coração ao vê-la? Tinha uma boca feita para beijar. Aqueles lábios carnudos tinham-no excitado mais vezes do que podia contar.
– Senta-te – convidou, quando ela se aproximou. Tinha uma t-shirt amarela de alças e calças brancas. Estava muito sensual.
– Do que queres falar? – perguntou. – Deixaste a tua posição muito clara. No que me diz respeito, não há mais nada a dizer.
– Eu ainda não tinha acabado quando te foste embora no outro dia – esclareceu Cal, levantando o olhar para ela. – Se é minha filha, porque não me disseste que ia ser pai?
Emily deixou escapar um suspiro e olhou pela janela. Havia muito trânsito na Eastern. Ali dentro estava fresco, mas na rua estariam mais de quarenta graus. Estavam em Las Vegas e era julho.
– Lembras-te da última vez que estivemos juntos? – perguntou, sentando-se à frente dele.
– Sim – era óbvio que se lembrava. – Era tudo perfeito e, de repente, disseste que tínhamos acabado. Um homem não esquece isso facilmente.
Emily sorriu, mas sem vislumbre de humor.
– É difícil esquecer algo parecido porque és sempre tu que acabas as relações. Comigo não foi assim e isso incomodou-te.
O facto de ter razão não ajudava. Cal gostava de mulheres e era correspondido. Acabava as relações antes de se tornarem formais, mas com Emily não estava preparado para pôr fim à sua história.
– Apanhaste-me de surpresa – foi tudo o que admitiu.
Os grandes olhos castanhos de Emily mostravam dor.
– Lembras-te da última conversa que tivemos?
– Refresca-me a memória.
– Sei o que pensas sobre o compromisso.
– Nunca falámos disso! – protestou Cal.
Emily mostrou desdém.
– Todas as mulheres do hospital e, provavelmente, da área metropolitana de Las Vegas sabem que tu não fazes promessas.
– A medicina é uma profissão muito exigente.
– Não estou a falar de sair para jantar e de ir ao cinema no sábado à noite. A tua aversão às responsabilidades, ao compromisso e à lealdade é lendária. És tão profundo como uma bandeja.
– Isso é muito pouco amável.
– Mas é a verdade. Eu sabia-o da primeira vez que saí contigo. Não me importava. Eu também não queria nada estável. Dava-me tanto jeito a mim como a ti, talvez até mais.
– Mas do que falámos nessa conversa?
– Só te perguntei se algum dia quererias ter filhos. És pediatra e não era estranho assumir que quisesses ser pai. Lembras-te da tua resposta?
– Não em detalhe.
– Eu lembro-me – os olhos de Emily velaram-se ainda mais. – Fizeste um discurso de cinco minutos sobre o que não ia acontecer. Disseste que nada poderia prender-te sob nenhum pretexto e que, se eu quisesse entrar no comboio do compromisso, tu saías na próxima estação. Disseste-me que não querias compromissos e acrescentaste, com tom firme, que nada poderia fazer-te mudar de opinião.
Ah... Sim, agora recordava-o. O discurso era-lhe familiar, porque o pronunciara muitas vezes.
– Eu queria puxar o assunto da minha gravidez – continuou Emily. – O teu discurso de «antes morto do que comprometido» não ajudou a sentir-me segura.
– Podias ter-me ligado em qualquer altura depois disso, deixar-me uma mensagem...
Não seria a primeira vez que uma mulher tentava manipulá-lo com a gravidez.
Emily parecia pequena e tensa no banco grande à frente dele.
– No teu mundo, um mundo de homens, talvez funcione assim, mas não no meu. Deixaste muito claro o que pensavas e não ia carregar a minha filha com um pai que não a amava.
Parecia muito frio, visto assim.
– Não me deste oportunidade de reagir com todos os factos. Se soubesse que estavas grávida, podíamos ter falado disso...
– Tu falaste. Eu ouvi e percebi a mensagem. Portanto, já não quis ouvir mais.
– Até agora – recordou-lhe, olhando para os seios dela.
– Sim – Emily mexeu os ombros para aliviar a tensão. – Quando descobri o alto, pensei no pior e imaginei o que seria de Annie sem mim. Olha, Cal – pôs as mãos sobre a mesa, – o que pensamos um do outro é irrelevante. A única coisa que importa é o bem-estar de Annie.
– Foste ver o especialista? – perguntou Cal, recusando-se a falar daquela filha que ainda não acreditava que fosse dele.
– Ainda não. Tenho consulta na semana que vem com a minha médica de família, Rebecca Hamilton. Dizem que é melhor começar por aí.
Cal odiava ter de o admitir, mas essa fora outra das razões por que lhe ligara. Apesar do que Emily estava a tentar fazer, não gostava do facto de estar doente.
– O que queres de mim, Emily?
– Não quero nada.
Cal agarrou na chávena de café frio.
– Como sei que a menina é minha?
– Estou mais do que disposta a fazer um teste de ADN, se te sentires mais tranquilo.
Cal não acreditava que existisse um teste capaz de o deixar tranquilo desde que voltara a vê-la.
– Isso seria boa ideia. Vou encarregar-me disso.
– Muito bem – concordou Emily.
Se estivesse a tentar enganá-lo, não teria acedido tão depressa a fazer o teste. Isso sossegou algumas dúvidas, mas não todas. Cal não queria que voltassem a rir-se dele.
Era um adolescente da última vez que uma mulher quisera enganá-lo. Dissera-lhe que estava grávida e Cal acreditara e casara-se com ela. Os meses tinham passado e ela não engordara, embora se atirasse a ele à mínima oportunidade. Quando Cal descobrira que não havia nenhum bebé, soubera que estava a tentar ficar grávida. A mentira fora descoberta, mas também acreditara quando lhe dissera que o fizera pelos dois, para que pudessem estar juntos. Também levara a sério os votos que pronunciara sobre permanecer ao lado dela nos bons e nos maus momentos. E só conseguira maus. Ela tornara-se mais criativa nas manipulações enquanto o seu casamento padecia de uma morte lenta e dolorosa. Quando fechara aquele capítulo da sua vida, apagara a palavra «compromisso» do seu vocabulário.
Desde então, tivera muito cuidado, protegendo-se nas suas relações sexuais. Era quase uma obsessão e fora por isso que nunca lhe passara pela cabeça a ideia de ter um filho, mas isso não exonerava Emily de culpa. Tinha a obrigação de lhe contar que ia ter um filho. Passara demasiado tempo para agora acreditar que a menina era dele. Era apenas outra mulher a tentar manipulá-lo.
– Então, esperaremos para ver o que os testes dizem – declarou Cal.
– Não tenho nenhuma dúvida de que confirmarão o que estou a dizer-te. E lamento ter esperado tanto para o fazer, mas preciso de saber que terá um pai que cuidará dela, se se der o caso – Emily levantou-se. – Diz-me onde e quando tenho de a levar para os testes.
Virou-se para se ir embora e abriu caminho entre os bancos. O olhar de Cal deslizou inconscientemente para o balanço sensual das ancas dela. Sentiu um arrepio interior, uma dor que não sabia que estava presente.
– Emily...
Parou e virou-se para olhar para ele.
Então, Cal disse algo que não lhe passara pela cabeça de forma consciente.
– Quero ver a tua filha.