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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

© 2009 Allison Lee Davidson. Todos os direitos reservados.

CASAMENTO INESPERADO, N.º 1263 - Janeiro 2012

Título original: A Weaver Wedding

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em portugués em 2011

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

® Harlequin, logotipo Harlequin e Bianca são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

I.S.B.N.: 978-84-9010-651-8

Editor responsável: Luis Pugni

ePub: Publidisa

Prólogo

– Quer que traga outra margarita?

Tara Browning levantou o olhar para os olhos compassivos da empregada e forçou um sorriso, tentando disfarçar o seu aborrecimento por o seu irmão não ter aparecido.

– Claro.

– Vou trazê-la já – a empregada dirigiu-se para o balcão e desapareceu entre os muitos clientes que abarrotavam aquela zona do bar.

Tara suspirou e olhou para a porta. Sloan continuava sem aparecer.

Não podia fingir que não estava desiludida. A mensagem que o seu irmão gémeo lhe deixara no telefone era a primeira que recebia em três anos. E tinham passado cinco desde a última vez que o vira pessoalmente. Devia ter imaginado que não ia aparecer. Nem sequer naquele dia, o dia em que ambos faziam trinta anos.

Suspirou e olhou involuntariamente para um homem que a observava do balcão do bar. Tara desviou imediatamente o olhar. Não queria seduzir ninguém.

Sentar-se no balcão de um bar era uma coisa que não se permitia, nem mesmo em Weaver, o lugar em que vivia e trabalhava e, é claro, não ia fazê-lo em Braden, que ficava a quase cinquenta quilómetros de distância. Estava ali por Sloan McCray. Ponto final.

– Importa-se se levar esta cadeira? – perguntou-lhe o rapaz que estava na mesa do lado.

Tara encolheu os ombros. Àquela altura, já não esperava que o seu irmão aparecesse.

O rapaz levantou-se da cadeira em que estava sentada para ir buscar a da mesa de Tara.

– Obrigado, senhora.

«Senhora». Feliz aniversário, Tara.

O homem do balcão continuava a olhar para ela, portanto Tara virou-se enquanto aceitava a margarita que a empregada acabara de trazer. Na verdade, não sabia porque se incomodara em pedir outra bebida quando não gostava de álcool. Também não sabia porque continuava naquele bar quando era dolorosamente evidente que o seu irmão não ia aparecer, independentemente da mensagem.

Levantou-se do banco, cambaleando ligeiramente. Não ia chamar um táxi para voltar para Weaver. Mesmo no caso de ter a sorte de o encontrar, ver-se-ia obrigada a voltar no dia seguinte de manhã para ir buscar o seu carro.

De modo que teria de passar a noite no hotel que havia do outro lado da estrada.

Se tivesse pedido um refrigerante de limão, teria podido voltar naquela mesma noite para Weaver, o lugar onde, supostamente, era o seu lar. Mas nem ela própria ignorava a ironia da sua situação. Em Weaver também não encontrara o seu lugar no mundo. Aquela era a história triste da sua vida.

– Já vais?

Tara parou quando um homem lhe bloqueou o caminho. Rapidamente, apercebeu-se de que não era o mesmo que estivera a observá-la do balcão. Levantou o olhar para ele, fazendo um esforço para o focar. Era pelo menos quinze centímetros mais alto do que ela e, mesmo na penumbra do bar, os seus olhos brilhavam como o ouro velho.

– Axel? Axel Clay?

– Portanto, lembras-te de mim – esboçou um ligeiro sorriso. – Comove-me.

Era impossível não se lembrar dele. A família Clay era uma das mais importantes de Weaver. Os homens da família eram todos idênticos, altos e quase ridiculamente atraentes e as mulheres eram tão belas e distintas como as flores silvestres na Primavera. Qualquer habitante de Weaver teria tido de viver debaixo de uma pedra para não conhecer os Clay.

– O que fazes por aqui?

– Vim beber um copo, como todos – respondeu, sorrindo e levantando o seu copo.

– Refiro-me a estares em Braden.

Estava atordoada e Axel cheirava maravilhosamente bem. No meio de todos os que enchiam o bar, era como uma rajada de ar limpo e fresco.

– Há mais de um ano que não passas por Weaver – corou imediatamente. – Pelo menos, foi o que ouvi na loja.

Axel agarrou no cotovelo de Tara e afastou-a para que deixasse passar a empregada.

– Estive fora do país.

Sim, também ouvira dizer isso. Ouvira falar das suas viagens, do seu talento para a criação de cavalos e do facto de se ter transformado num solteiro tão cobiçado como inalcançável.

Axel voltou a sorrir e Tara começou a sentir que a sua cabeça dava voltas. Era isso que acontecia por ter a vida de uma freira, repreendeu-se. Bebia alguma coisa, via um homem atraente e de repente dava por si a tentar reprimir uma forte onda de desejo.

– E como está a correr tudo na Classic Charms?

Tara humedeceu os lábios, desejando não ter deixado a margarita na mesa. Pelo menos, teria servido para fazer alguma coisa com as mãos.

– Surpreende-me que te lembres do nome da loja – passara muito poucas vezes por lá e, normalmente, acompanhado pela sua mãe.

– Bom – por um instante, fixou o olhar nos seus lábios, – tu não és a única que tem memória. Lembro-me de muitas coisas…

Tara nunca tivera tanta sede.

– O negócio está a correr bem. Em breve, terei de contratar alguém para me ajudar.

– Continuas a ter aquela cabina de telefone no meio da loja?

– Eh, sim…

Era uma cabina telefónica vermelha que usava como expositor para a roupa interior um pouco mais atrevida.

– Já te disse que me lembro de muitas coisas –Axel bebeu o resto da sua bebida. – E o que estás a fazer em Braden?

– Supostamente, ia encontrar-me com o meu irmão, mas parece que não pôde vir.

Axel passou-lhe o braço pelos ombros e Tara ficou petrificada, até se aperceber de que estava a afastá-la para deixar passar a empregada.

– Ele perde e eu ganho. Vamos sentar-nos.

Por muito que tentasse evitá-lo, a tentação era quase insuportável.

– Acho que não há nenhuma mesa livre – já tinham ocupado a que ela acabara de deixar.

– Então, vamos dançar.

Antes de conseguir protestar, agarrou-a pela mão e conduziu-a entre as pessoas até uma pista de dança minúscula.

Cravar os pés no chão não funcionou. Viu-se apanhada pelo terramoto de Axel.

– Não sei dançar – avisou, por cima do som da música.

Axel fê-la apoiar a mão no seu ombro direito e agarrou-a pela cintura.

– Todas as mulheres bonitas sabem dançar.

Tara nunca se considerara uma mulher bonita, mas quer fosse pelas suas palavras ou pela mão que sentia na cintura, sentiu-se de repente a arder da cabeça aos pés.

A música vibrava à sua volta enquanto o cantor se lamentava pelos desejos insatisfeitos e ela sentia cada um dos dedos de Axel a atravessarem a sua blusa vermelha. Talvez fosse imaginação dela, mas tinha a sensação de que aqueles dedos se flectiam subtilmente contra ela, como se fossem as garras de um

gato enorme de pêlo dourado a preparar-se para atacar a sua presa.

Tara vivia há cinco anos em Weaver, mas não tivera nenhuma relação sentimental com ninguém de lá. Na verdade, também não as tivera antes. Não voltara a sair com ninguém desde que o seu casamento acabara.

– Tu… tinhas combinado com alguém?

– Também me deixaram plantado – sussurrou-lhe Axel, ao ouvido.

– Mas quem te deixaria plantado? – perguntou Tara, sem pensar e corou até à raiz do cabelo.

– Neste momento, custa-me recordá-lo, porque não esperava nada de especial da noite. E mesmo assim – disse, enquanto se apertava ligeiramente contra ela, – olha como estamos.

Tara voltou a sentir que a cabeça lhe dava voltas, mas a sensação não foi desagradável. Axel deslizou o polegar pela palma da sua mão e um fogo líquido começou a correr pelas suas veias. Estava tão paralisada como se lhe tivesse dado um beijo na boca.

– Hoje é o meu aniversário – disse, estupidamente.

Axel fixou o olhar no seu rosto:

– Apagaste as velas e pediste um desejo?

Sim, pedira um desejo: voltar a ver o único familiar que tinha. E tendo em conta que não tinha maneira de entrar em contacto com Sloan e que fora ele que lhe deixara aquela mensagem, pensara que era uma coisa que o seu irmão também queria. Mas era evidente que se enganara.

– Não tive nem bolo nem velas – respondeu.

Axel voltou a deslizar o polegar pela palma da sua mão.

– Isso não está bem. Na minha família nunca falta o bolo num aniversário.

Tara não se surpreendeu. Não havia uma só pessoa que vivesse em Weaver e não soubesse como aquele clã era unido. Aquela família era a antítese da sua.

– Quando se está sozinho, o bolo e as velas parecem desnecessários – explicou-lhe, franziu o sobrolho.

– Bom, mas esta noite já não estás sozinha – replicou Axel, com os olhos semicerrados.

Já não estava a acariciá-la com o polegar. Naquele momento, tinha o dedo no meio da sua mão, contra a sua palma e Tara sentia-o como se uma corrente eléctrica a atravessasse directamente dali até ao coração.

Axel virou ligeiramente a cabeça, como se quisesse observar as suas mãos unidas.

– A mim parece-me que agora somos dois.

O seu coração batia com uma força ensurdecedora. Tara sentia-se como se todos os seus terminais nervosos estivessem prestes a rebentar.

– Está bem – as suas palavras foram pouco mais do que um suspiro, mas Axel curvou os lábios num sorriso lento e satisfeito.

Entrelaçou os dedos com os seus e, antes de se aperceber do que estavam a fazer, Tara sentiu o ar frio de uma noite de Outubro contra o seu rosto e deu por si à frente da porta aberta do local. Lembrou-se então de que se esquecera do casaco, mas não se importou, pois, ainda sem se terem afastado da porta, Axel fê-la virar-se entre os seus braços, apertou-a contra ele e cobriu-lhe os lábios com a boca.

No interior de Tara rebentou todo o calor de uma tarde de Verão.

Axel pousou a mão no seu pescoço e foi deslizando lentamente até ao seu queixo. Depois, levantou a cabeça e fixou o olhar nos seus olhos.

– Deixemos os desejos de lado, o que queres como presente de aniversário, Tara Browning?

Tara humedeceu os lábios, saboreando o gosto que Axel deixara neles.

– Quero-te a ti – declarou. Que descaramento! O rosto ardia-lhe. – Lamento, podes culpar as margaritas.

– Gostaria de ter também alguma coisa a ver com isso – acariciou-lhe as costas e apertou-a de tal maneira contra ele que nem o ar frio de Wyoming conseguiu interpor-se entre eles.

Tara respirou fundo. Toda ela se sentia tão suave, tão mole… enquanto ele… Ele era exactamente o contrário.

Axel tocou-lhe no queixo com os lábios e continuou a deslizá-los até à sua orelha.

– Ter-me é a parte mais fácil. Mas antes – esboçou um sorriso travesso, – teremos de celebrar o teu aniversário como é devido.

Se não fosse porque Axel estava a abraçá-la, Tara teria voltado a cambalear.

– Celebrar?

– Pelo menos, não podem faltar o bolo e as velas – tirou o casaco com um movimento rápido e pôs-lho pelos ombros.

Tara sentiu o peso do couro e a intensidade da fragrância de Axel à sua volta. Teve de fazer um esforço sobre-humano para não acabar transformada num charco aos seus pés enquanto segurava o casaco com uma mão. Axel conduziu-a pelo estacionamento até à sua carrinha.

– Se conseguirmos encontrar um bolo a estas horas, sou capaz de comer um chapéu – disse Tara, tentando dominar a emoção que corria pelas suas veias.

– Há coisas muito mais saborosas.

Axel abriu-lhe a porta, agarrou Tara pela cintura e levantou-a, deslizando-a ao longo do seu corpo.

– Desde que tinha quinze anos, não tinha voltado a sentir a tentação de fazer amor com uma mulher num parque estacionamento.

Tara engoliu em seco, chocada com o eco húmido e ardente que as suas palavras tinham nela.

– Eu… Não costumo fazer este tipo de coisas.

– Referes-te a celebrar o teu aniversário? – sussurrou Axel, contra o seu pescoço.

– Refiro-me a convidar um homem para o meu quarto. Estava a pensar em ficar a dormir no hotel que há do outro lado da estrada.

Tara não sabia se eram Axel ou as margaritas que a faziam tão audaz, mas a verdade era que não se importava. Afinal de contas, eram duas pessoas adultas.

– Óptimo – respondeu Axel, deslizando os lábios sobre os dela com um beijo que acelerou o coração de Tara novamente. – Já temos um lugar para onde ir com o nosso bolo – sentou-a no banco da carrinha, – e também onde o comer.

Tara sentiu um aperto no coração no instante em que Axel fechou a porta. Seguiu-o com o olhar enquanto ele dava a volta à parte dianteira da carrinha e, no momento em que os seus olhos se encontraram, o tempo pareceu parar… até que Axel continuou a andar, abriu a porta e sentou-se atrás do volante.

– Pronta?

– Sim – respondeu Tara, num tom abafado.

Meu Deus, em que confusão se metera?

Mas Axel olhou para ela de esguelha, sorriu e apertou-lhe a mão, apagando todas as suas preocupações, dissolvendo todos os seus receios. Nesse momento, compreendeu que estava exactamente onde queria estar: com Axel.

Capítulo 1

Havia corações por todo o lado. Se alguém tivesse entrado naquele momento no ginásio da escola a perguntar-se o que estava a celebrar-se, definitivamente, os corações teriam resolvido todas as suas dúvidas.

– Quanto valem estes fios?

Tara sorriu para a adolescente acabara de se aproximar da sua banca. Embora fosse dia treze de Fevereiro, estavam a celebrar o dia de São Valentim. Os organizadores tinham decidido que, para os habitantes de Weaver, era preferível organizar a feira a um

sábado.

– Podes levá-lo em troca de uma lata de comida para a campanha de recolha de alimentos – o resto do dinheiro que ganhasse era destinado ao projecto de ampliação da escola.

– Prometa-me que não os venderá, está bem? Já venho.

– Prometo – Tara observou a rapariga a afastar-se a toda a velocidade por um ginásio cheio de bancas em que podia encontrar-se tudo, desde beijos até biscoitos.

Todos os comércios de Weaver tinham alguma coisa interessante para oferecer na feira. Até Tara, apesar de celebrar o amor ser a última coisa que queria fazer.

Permanecia sentada num banco atrás da sua mesa. Mais duas horas e poderia levar novamente as suas coisas para a Classic Charms, sentindo-se satisfeita por ter participado no último exercício destinado a enaltecer o espírito da comunidade.

Não tinha nenhum motivo para ficar depois no ginásio. A feira acabaria com um jantar e um baile, mas o facto de ter comprado a entrada para ambas as coisas não a obrigava a ficar.

Porque a única coisa que lhe apetecia fazer naquela noite era deitar-se na cama. Sozinha.

– Boa tarde, Tara! – Hope Clay, uma das organizadoras da festa e membro da direcção da escola, parou à frente da sua banca. – Parece que o negócio correu bem – apontou para a mesa, quase vazia. – É a primeira vez que me aproximo da tua banca. Queria comprar alguma coisa para as minhas sobrinhas.

Tara esboçou um sorriso. Já vira as suas sobrinhas por ali.

– Leandra entrou com Lucas ao colo assim que abriram a porta do ginásio.

Hope desatou a rir-se. Era uma mulher que não aparentava os cinquenta anos que tinha.

– Embora só tenha dois anos, essa criança tem o sangue dos Clay nas veias. Tristan e eu ficámos com ele e com Hannah há algumas semanas. Quando Leandra e Evan vieram buscá-los, estávamos cansados – abanou a cabeça sem parar de sorrir. – Mas não posso dizer nada de Lucas que não tenha de ser dito do resto dos bebés da família.

Hope reparou então num dos braceletes do expositor de vidro.

– É lindo. É uma ametista?

Tara tirou-o para lho mostrar.

– Sim, na verdade, Sarah – explicou, referindo-se a outra das sobrinhas de Clay, – comprou um para Megan há uma hora.

– Pergunto-me se será normal que uma velha dama como eu tenha o mesmo gosto que a sua sobrinha.

– Não é uma velha! – protestou Tara, com sinceridade. – E tendo em conta que os braceletes foram desenhados por mim, eu gostaria de pensar que isso significa que ambas têm um gosto excelente.

– Muito bem dito – Tristan, o marido de Hope, parou naquele momento ao lado da sua esposa e pousou a mão no seu pescoço com um gesto de carinho que falava de anos de amor profundo.

Hope virou-se para o seu marido, sorridente.

– Achava que ias passar toda a tarde em reuniões. Correu tudo bem?

– Inesperadamente bem – Tristan virou-se então para Tara com um sorriso. – Bom, Tara, quanto vai custar-me o gosto excelente da minha esposa desta vez?

Tara disse-lhe o preço do bracelete e ele tirou a carteira e o dinheiro. Quando Tara começou a passar-lhe um recibo, rejeitou-o com um gesto. Na verdade, Tara não se surpreendeu, tendo em conta que a sua empresa de jogos de computador, CESID, tinha financiado grande parte do projecto de expansão da escola. Em geral, os Clay eram muito generosos quando se tratava de apoiar a comunidade. Embora houvesse outros Clay que eram peritos em fugir.

Afastou rapidamente aquele pensamento da sua mente e acabou de embrulhar o bracelete.

– Aqui o tem. Espero que goste.

– Aqui está a lata – a adolescente regressou quase com falta de ar e estendeu-lhe uma enorme lata e um monte de moedas. – Não vendeu os brincos, pois não?

Tara tirou os brincos e deu-lhos.

– Tinha-te prometido que tos guardaria.

– Sabia que a feira seria uma boa ideia – disse Hope, enquanto pegava na lata e a deixava no balde que Tara tinha ao lado da banca. – Ver-te-ei mais tarde no baile – e afastou-se de braço dado com o seu marido.

Tara teve de reprimir a pontada de inveja que sentiu ao ver o casal a afastar-se e tentou concentrar-se na sua jovem cliente.

– Mas sabes que, para usares esses brincos, precisas de ter as orelhas furadas.

– Sim, furei as orelhas no mês passado – olhou para os seus brincos novos, emocionada. – Assim que puder tirar os que me puseram, estes serão os meus primeiros brincos a sério. Finalmente – revirou os olhos. – Pensava que o meu pai nunca ia deixar-me usar brincos.

Tara identificava-se plenamente com ela. Apesar das suas ausências frequentes, o seu pai educara-a com mão de ferro.

– Os pais são assim – embrulhou os brincos em papel de seda e guardou-os numa caixinha. – Aqui os tens.

– Obrigada.

A rapariga afastou-se, segurando a caixinha como se fosse um tesouro.

Tara sentou-se novamente no banco e olhou para o relógio. Mais uma hora e poderia começar a arrumar as coisas.

Infelizmente, a hora pareceu-lhe eterna, porque cada vez havia menos clientes.

Tinha a garrafa de água quase vazia, a bexiga cheia e a única coisa digna de observação era a fila que havia no posto de beijos de Courtney Clay.

Ao fim de um momento, Tara virou-se, levou a mão à boca para disfarçar um bocejo e procurou por baixo da mesa as caixas em que trouxera o material para a banca naquela manhã. Ainda não passara uma hora, mas já estava bastante farta.

Pôs a primeira caixa em cima do banco e começou a guardar a roupa que não vendera. Tirava-a dos cabides e dobrava-a com muito cuidado. Quanto mais cuidado tivesse, menos trabalho teria quando voltasse a pô-la na loja.

Encheu a primeira caixa e pô-la no chão. Depois, baixou-se para procurar a segunda.

– Tens alguém enterrado debaixo da mesa? – perguntou alguém, num tom grave, profundo e divertido.

E dolorosamente familiar.

O seu coração acelerou enquanto se endireitava.

Desviou o olhar de Axel e tirou outra caixa, recordando-se que devia evitar os seus olhos. Fora precisamente ao olhar para os seus olhos que os seus problemas tinham começado.

– O que estás a fazer aqui?

Não foi um cumprimento muito hospitaleiro e desejou ter sido capaz de disfarçar. Teria preferido que parecesse que não dava nenhuma importância ao seu aparecimento inesperado.

– Temos de falar.

– Depois de quatro meses de silêncio? Receio que não.

Maldita, aquilo também não parecia muito despreocupado. Agarrou no resto da roupa e guardou-a na caixa às pressas. Queria sair dali o quanto antes.

– Tara…

Mas Tara já se baixara para procurar uma terceira caixa. E aproveitou que estava escondida por baixo da mesa para suspirar.

Era apenas um homem como qualquer outro, dissera-se milhões de vezes desde que aquela noite de paixão que tinham passado em Braden se transformara num fim-de-semana. Tinham passado mais de quarenta e oito horas fechados num quarto minúsculo. E, durante essas quarenta e oito horas, começara a pensar estupidamente em coisas que não tinha o direito de pensar. Começara a pensar em coisas impossíveis.

Mas o desaparecimento brusco de Axel, que não estava na cama quando ela acordara na última manhã, travara todas as suas ilusões.

A única coisa que deixara atrás dele fora um bilhete em que lhe dizia que lhe telefonaria. Rabiscara a mensagem na caixa do bolo de chocolate que conseguira encontrar na primeira noite, depois de percorrerem três lojas diferentes. Um bolo que tinham partilhado durante aqueles dois dias de todas as maneiras imagináveis.

Mas Axel não só desaparecera da sua cama, como também, depois daquilo, não voltara a aparecer em Weaver. Nem no dia seguinte, nem na semana seguinte, nem no mês seguinte…

Os pensamentos que tinham partilhado, as gargalhadas, a paixão, nada disso parecia ter a menor importância para ele.

Mas ela já era uma mulher adulta. De modo que tinha de ser capaz de assumir as consequências.

Agarrou na caixa, tirou-a e endireitou os ombros enquanto se levantava.

Infelizmente, Axel continuava apoiado contra um dos expositores da banca e os seus ombros pareciam mais largos do que nunca com aquela camisola de gola alta que tinha.

Da última vez que Tara vira aqueles ombros, estavam nus e brilhantes devido ao suor enquanto Axel e ela faziam amor como se fossem incapazes de parar.

Tara apagou rapidamente aquela lembrança da sua mente e olhou para o expositor.

– Importas-te?

Axel recuou ligeiramente. Ignorando que tinha o seu peito a alguns centímetros de distância, Tara abriu o expositor e tirou uma das bandejas.

– Posso explicar-te o que aconteceu durante estes quatro meses – desculpou-se Axel.

– Não preciso de nenhuma explicação – garantiu Tara. – O que aconteceu é passado – finalmente, fora capaz de responder de forma natural e despreocupada. – Quando voltaste?

– Esta manhã. Queria telefonar-te.

Demasiado pouco e demasiado tarde. Com quatro meses de atraso, na verdade.

– Não tem nenhuma importância – disse, no mes mo tom de ligeireza.

Era uma mulher adulta. Tinham iniciado uma aventura de uma noite que acabara por se transformar num fim-de-semana. A única coisa que, naquele momento, importava era o facto de se sentir incomodada com aqueles quatro meses de silêncio.

Mentirosa.

Ignorando o sussurro insistente da sua consciência, esvaziou os conteúdos da bandeja numa caixa sem nenhum cuidado. Organizaria tudo quando regressasse à loja.

– Surgiu-me uma coisa importante – insistiu Axel.

Tara cometeu o erro de olhar para ele, porque conseguiu ver a careta daquele rosto tão injustamente atraente.

– Tenho consciência do que parece que acabei de dizer.

– Não importa o que parece ou deixa de parecer. Tudo isso aconteceu há meses. Não é para tanto. Mal… – esteve prestes a engasgar-se, – mal me lembro.

Axel curvou ligeiramente a comissura dos lábios.

– Sabes que tens cinco sardas no nariz? Ou será que só aparecem quando mentes?

Tara pôs a bandeja vazia no expositor e tirou a próxima.

– Bom, agradeço-te por me teres dado uma explicação, mas, como podes ver, estou ocupada.

– Acho que não expliquei nada.

– Nesse caso, não é preciso perderes tempo. Ambos sabemos o que aconteceu.

Tinham passado um fim-de-semana juntos e ela estivera prestes a perder o coração. Ele desaparecera assim que decidira que chegara o momento de o fazer.

Axel tirou-lhe a segunda bandeja antes de ela conseguir esvaziar o conteúdo na caixa.

– Tara…

Tara não ia começar a puxar a bandeja. Mas também não tinha vontade de continuar uma conversa sobre o que acontecera entre eles à frente de tanta gente.

De modo que soltou a bandeja, tirou a última e esvaziou-a na caixa.

Axel praguejou.

– Tara…