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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2012 Susan Stephens

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Uma vida licenciosa, n.º 49 - Janeiro 2016

Título original: The Shameless Life of Ruiz Acosta

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-7722-1

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S. L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Prólogo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Se gostou deste livro…

Prólogo

 

Rodrigo Acosta esticou as pernas enquanto falava com o irmão Nacho, que lhe ligava da Argentina. Enquanto olhava através da janela elegante e grande da sua casa de Londres, apercebeu-se de que gostava tanto ou mais daquela cidade como das pampas, as vastas extensões de terreno selvagem. O contraste era tremendo e os desafios diferentes, mas igualmente estimulantes.

E as mulheres?

Pálidas, sempre com pressa e com tanta roupa que era quase impossível imaginar-se a despi-las para fazer amor…

– Se vou estar em casa para o jogo de polo anual? – repetiu, voltando a concentrar-se na pergunta do irmão mais velho. – Não o perderia por nada do mundo. Certifica-te de que me arranjas um bom cavalo, um que possa enfrentar o monstro de Nero, e jogarei ao teu lado, Nacho…

– E a empresa? – interrompeu o irmão.

– Estamos muito bem. Já acabei de fazer a reorganização. Só falta nomear um ou dois membros para ter todo o pessoal. De agora em diante, viverei entre a Argentina e Londres, mas…

– Mas nunca esquecerás a família que tens do outro lado do mundo, Rodrigo – interrompeu Nacho. – Tu és a cola que mantém todos unidos.

– A cola pode ceder – indicou.

Nacho não gostou que colocasse em causa a sua autoridade.

– Tens notícias de Lucía?

– O que aconteceu a Lucía? Não, não sei nada – respondeu Rodrigo, ficando sério. – Há algum problema?

– A nossa irmã voltou a desaparecer, mudou o número de telefone…

– Lucía nunca foi fácil – recordou Rodrigo, pensando que não era de estranhar, tendo quatro irmãos mais velhos sempre a vigiá-la. – Não te preocupes, passarei por casa dela, para ver se voltou ou se deixou pistas sobre onde poderá estar.

Nacho pareceu ficar satisfeito por Rodrigo tomar conta do último problema da família, porque o seu tom de voz mudou radicalmente.

– Já encontraste uma namorada?

Rodrigo riu-se.

– Não, mas um cão encontrou-me – indicou, acariciando o aludido, que se metera entre as suas pernas. – Aproveitando o facto de a porta de casa estar aberta, porque estavam a entregar-me uns móveis, este maravilhoso cão rafeiro entrou e sentiu-se confortável à frente da lareira. Não foi, Bouncer?

Do outro lado da linha, ouviu-se uma blasfémia que Rodrigo preferiu ignorar.

– Deste-lhe nome e tudo?

– Claro, Bouncer já faz parte da família – declarou Rodrigo, sem parar de acariciar o animal.

– Que típico de ti – replicou Nacho, retomando o tom de voz de irmão mais velho. – Sempre tiveste pena de cães abandonados. Chegaste a ir buscar alguns que só estavam a passear, que tinham dono. Desfaz-te desse cão rafeiro, pelo amor de Deus! – exigiu.

– Deixa-me em paz! – reclamou Rodrigo, pois já não eram crianças e Nacho não tinha o direito de exigir nada.

Além disso, o irmão já devia saber que era um grande amante dos animais e que não estava disposto a deixar um cão na rua.

– Vemo-nos no jogo de polo – concluiu Nacho. – E não tragas o cão rafeiro!

Nacho tomara conta dos irmãos quando os pais tinham morrido e, às vezes, esquecia-se de que já eram adultos e que Rodrigo, que agora vivia em Londres e não na pampa, era independente e tinha uma boa vida.

Bouncer sentiu a sua irritação e gemeu, portanto, acariciou-o para o acalmar.

– Devia ser mais condescendente com Nacho? – perguntou Rodrigo, quando o cão olhou para ele com aqueles olhos expressivos, pedindo para irem passear. – Sim, já vamos sair – acrescentou, levantando-se.

O irmão geria uma pousada na Argentina, tão grande como um país, por isso, supunha que tinha o direito de ter dias maus.

Por outro lado, um cão tão grande como Bouncer tinha o direito de ter várias horas de exercício por dia. Rodrigo olhou-se ao espelho e decidiu que também tinha esse direito. Não passara uma boa noite. Nenhuma das mulheres que conhecera em Londres o atraía, pois eram muito ossudas, usavam muita maquilhagem e demasiada tinta no cabelo. Para ser completamente sincero, estava farto.

Talvez Nacho tivesse razão e devesse voltar para a Argentina, para procurar uma sofisticada sereia de olhos negros, uma mulher sul-americana, apaixonada, que tivesse o mesmo fogo que ele na cama, que fosse uma boa companheira na vida.

O irmão Nacho também precisava de encontrar uma mulher assim. Para ver se deixava de se comportar como um guerreiro, vinte e quatro horas por dia.

Rodrigo fechou a porta de casa, sem pensar que algo parecido estava à sua espera ao virar da esquina…

Capítulo 1

 

Sempre tive um diário. Alguns dirão que sou uma escritora compulsiva, mas há muitas pessoas que escrevem o que pensam, porque não têm ninguém com quem falar. Hoje, é o primeiro dia da minha nova vida em Londres. O meu comboio está a entrar na estação, portanto, tenho de ser breve. Quero que fique bem claro, para o caso de alguém encontrar o meu diário dentro de mil anos, que o princípio por que se rege esta nova vida tem apenas duas regras:

Não confiar em ninguém senão em mim própria.

Nada de homens… Pelo menos, até estar estabelecida como jornalista e deter o controlo!

 

A neve entrava pelo colarinho do casaco e um homem mais velho decidira que ela precisava de ajuda, portanto, aproximara-se para lhe perguntar se procurava um autocarro.

– Não, mas obrigada por perguntar – agradeceu Holly. – Acabei de chegar – explicou, de queixo erguido, dentes cerrados e um grande sorriso nos lábios. – Estou à espera de uma amiga – acrescentou, para que o bom samaritano ficasse tranquilo.

Era quase verdade. A verdade era que tinha de ligar a uma amiga.

O idoso desejou-lhe boa sorte e afastou-se, o que fez com que se sentisse duplamente perdida. Pensou que só precisava de tempo para se habituar à mudança, pois sair de uma cidade pequena e ir para Londres, com tanto barulho, tanto trânsito e tanta gente, não era fácil. Além disso, tinha o casaco encharcado, muito frio e o cabelo ruivo estava molhado, colado às costas.

Como era possível que tudo corresse tão mal?

Planeara tudo meticulosamente, antes de aceitar o trabalho na revista Rock, antes de decidir ir para Londres. A sua melhor amiga, dos tempos de escola, dissera-lhe que podia ficar em sua casa, uma moradia com jardim, até encontrar alojamento.

Então, porque é que uma desconhecida lhe abrira a porta?

Holly limpou as gotas de chuva da cara e tentou voltar a ligar à amiga Lucía.

– Lucía? – perguntou, afastando-se da calçada para que um carro não a encharcasse. – Lucía, consegues ouvir-me? – gritou, para se fazer ouvir por cima dos assobios e do som dos motores.

– Holly! – exclamou a amiga. – És tu?

– Lucía, onde estás?

– Em St. Barts – indicou. – Não ouves o mar? Isto é uma maravilha, Holly. Ias adorar porque…

– Isso é nas Caraíbas, não é? – interrompeu Holly, tremendo de frio. Lucía provinha de uma família argentina, muito rica. Portanto, tudo era possível. – Há algumas horas de diferença. Acordei-te?

– Não, calma, ainda não me deitei – replicou Lucía.

– Não recebeste a minha mensagem?

– Que mensagem?

– Enviei-te uma mensagem, a aceitar o teu convite para ficar contigo esta semana, até encontrar um apartamento.

– Já desligo, já desligo… – disse Lucía, tapando o telemóvel, rindo-se. – Porque não apanhas um avião e vens para cá?

Porque não tinha dinheiro? Porque não tinha biquínis? Porque não tinha vontade de ter aquela vida?

Holly mordeu a língua, para não explicar a Lucía que, embora tivessem andado na mesma escola, ela tivera uma bolsa de estudo completa, enquanto a amiga oferecera uma nova piscina olímpica e um picadeiro coberto.

Sim, certamente, a diretora de St. Bede’s School era uma boa mulher de negócios.

– Onde estás, Holly? – perguntou a amiga, enquanto ela ouvia o ruído dos copos de vidro, do outro lado da linha.

– Estou à porta da tua casa – explicou. – «Espero-te em minha casa, entre doze a vinte de novembro» – recordou Holly, lendo o texto que a amiga lhe enviara, sem mencionar o «tenho muita vontade de te ver», o «:D» ou os dez pontos de exclamação que completavam a mensagem.

– Eu disse isso?

– Sim, mas não faz mal – mentiu Holly.

– Sim, sim, tens razão – recordou-se Lucía. – Disse que podias vir esta semana e podias. Mas não estou em Londres e arrendei a minha parte da casa. Ai, meu Deus! Tinha-me esquecido por completo. Foram muito desagradáveis contigo?

– Bom, a verdade é que…

– Podes ir para um hotel?

– Sim, claro, claro – afirmou Holly. – Lamento muito por ter interrompido as tuas férias, Luce…

– Não, espera.

– O que foi?

– O apartamento!

– O apartamento?

– A minha família tem um apartamento em Londres, que está vazio! Não há lá ninguém, neste momento.

– E onde é? – perguntou Holly.

– Nessa mesma morada, no mesmo edifício – explicou Lucía, muito contente. – A chave está no compartimento que há ao lado da porta. Dá-me dez minutos, pois tenho de ligar para saber se está vazio e para me darem o código da entrada.

– Tens a certeza?

– Tanta certeza como a luz do sol que há aqui. Há uma cafetaria, em frente – replicou, contente por ter solucionado o problema. – Bebe um café e espera que te ligue.

Holly ficou a olhar para o telemóvel. Só um membro da poderosa família Acosta podia ter um apartamento vazio, em Londres. Holly guardou o telemóvel e procurou a cafetaria de que a amiga falara. Era pequena e tinha os vidros molhados, mas parecia ser acolhedora e cara. Sim, era um lugar sofisticado, decorado a preto, com vidro e bronze, o tipo de lugar que o namorado frequentava quando não estava a trabalhar, segundo lhe dissera.

Enquanto arrastava a mala pela calçada, Holly recordou-se do ex-namorado. Descobrira que não tinha de esperar até aos quarenta anos para o namorado desaparecer com uma rapariga mais jovem e mais bonita. Podia ter acontecido quando era muito mais jovem, mas não ia permitir que um erro marcasse o resto da sua vida.

Para esquecer aquele homem ambicioso que lhe roubara todo o seu dinheiro, ia recomeçar. Nesse momento, o seu objetivo era chegar à cafetaria para beber alguma coisa quente e secar-se, enquanto esperava que Lucía lhe ligasse.

Holly olhou para a esquerda e para a direita antes de atravessar, mas ao chegar ao outro lado da rua a mala prendeu-se na berma do passeio, no preciso momento em que uma carrinha passava à sua frente. Ficou completamente encharcada. Ainda não recuperara do susto quando apareceu um cão preto, enorme, que se aproximou com a visível intenção de a lamber.

Atrás do cão vinha o dono, um homem muito bonito, que se empenhou em ajudá-la.

– Vamos ver – replicou, afastando o cão e agarrando na mala.

– Solte-me! – exclamou Holly, surpreendida, enquanto tentava distanciar-se dele.

Não foi fácil, porque aquele tipo era incrivelmente bonito e muito alto, o que fez com que se sentisse ainda mais pequena, encharcada e incomodada.

– Perdão – replicou, virando-se para acalmar o cão.

– Não consegue mantê-lo controlado? – perguntou ela. – Talvez lidasse melhor com um cão mais pequeno.

O estranho pareceu não se aperceber do comentário desagradável. De facto, limitou-se a sorrir, o que o tornou ainda mais atraente.

– Bouncer é um cão que apanhei na rua – explicou. – Estou a educá-lo. Espero que possa perdoar-lhe.

Tinha uma voz deliciosa. De repente, Holly apercebeu-se de que passara muito tempo a olhar para ele nos olhos mas, em vez de se ir embora, imediatamente, fez algo inesperado.

– Se me convidar para tomar um café, pensarei nisso.

– Muito bem – acedeu o desconhecido.

Enlouquecera por completo? Acabara de esquecer a regra número dois?

Talvez porque, para além de ser incrivelmente bonito, aquele homem olhava para ela de uma maneira curiosa, porque não olhava para baixo, como acontecia com os outros, apenas observava o seu rosto.

Era razão suficiente para se arriscar?

– Então, vamos – encorajou. – Parece estar gelada.

E estava.

Não estava habituada a ter homens tão bonitos a reparar nela e achou uma pena que aquilo acontecesse quando estava encharcada.

– Um café vai fazer-me bem – concordou.

– Um bom café, quente e forte. É disso que precisa – afirmou o desconhecido. – Mas, antes de entrar, quero saber se vai perdoar o meu amigo de quatro patas.

Como podia negar? Holly recordou que o ex-namorado não podia aproximar-se de cães, porque lhe mordiam sempre. E isso fê-la sorrir.

– Perdoado – anunciou.

O dono sorriu, contente, e mostrou ao cão um prato que alguém pusera debaixo do toldo da cafetaria.

– A verdade é que lhe sujou a roupa – observou.

– Sim – admitiu Holly, embora a roupa que usava fosse de má qualidade.

– O que acha se lhe pagar a lavandaria?

– Não, não é preciso. Está tudo bem – replicou. – É lama. Sai na máquina de lavar roupa…

– De certeza? Não me importo de pagar a lavandaria.

– De certeza – insistiu Holly, sorrindo e virando-se para o cão. – Olá, Bouncer – acrescentou, acariciando-o entre as orelhas.

O cão aceitou esse gesto como sendo um sinal de mimos iminentes, portanto, deitou-se de costas, de barriga para cima.

– Tem jeito para lidar com os animais – observou o desconhecido.

– Desde que não tentem lamber-me de cima a baixo – replicou Holly.

– Vamos entrar? – convidou, abrindo a porta da cafetaria.

Usava calças de ganga, botas e um casaco, mas parecia ser o tipo de homem que podia virar o mundo de qualquer mulher de pernas para o ar. Holly estava a recuperar de uma relação sentimental desastrosa, mas pensou que não havia problema, se bebesse um café com um desconhecido.

O desconhecido em questão era tão alto, que se sentia anã ao seu lado. Mas era educado. Ao sentir o cheiro delicado do café, Holly sentiu que as suas defesas desapareciam e que todo o corpo relaxava. Pensou que não devia relaxar muito, mas achou que não ia voltar a vê-lo.

O desconhecido tinha pele bronzeada, parecia ser um ator famoso, ao passo que ela estava pálida e não era nada interessante. Mas parecia que tinham algo em comum, porque se sentia deslocada em Londres e aquela cidade era tão indicada para ele como uma praia para um urso polar.

Depois de entrarem, o desconhecido pôs-se atrás do balcão, pegou numa toalha e deu-a a Holly.

– Limpe a lama – sugeriu.

– Não se vão importar? – perguntou Holly.

– Penso que se importarão mais, se não se limpar antes de se sentar – observou ele, sorrindo.

Holly ficou a olhar para ele, enquanto devolvia a toalha a uma empregada. E pensou que homens tão bonitos podiam fazer tudo o que quisessem. Ninguém protestava. Não pôde evitar ficar a olhar para ele também, enquanto tirava o casaco. E parecia não ser a única interessada em apreciar aquele corpo.

Sob o casaco apareceu uma camisa branca, impoluta, que o desconhecido arregaçara, deixando à vista uns braços bem tonificados.

Holly pensou que o dia melhorara. Claro que isso foi até as empregadas começarem a seduzi-lo e sentir uma punhalada de algo inesperado, um aviso, porque era parecido com o seu ex-namorado, que também era bonito e tinha um certo carisma, não tanto, nem tão natural como o daquele homem, obviamente. Holly sabia isso pois, quando arranhara um pouco a superfície, vira que, por baixo, a única coisa que havia era pura frieza.

– Vou pedir o café – comentou o desconhecido, distraindo-a dos seus pensamentos. – Encarregue-se de arranjar mesa – acrescentou, pondo-lhe a mão no ombro.

Holly sentiu imediatamente um tremor e não conseguiu escondê-lo. A julgar pela forma como a observava, devia-lhe ter acontecido o mesmo.

– Penso que será melhor limpar a lama da parte de trás, antes de se sentar – murmurou, discretamente.

O facto de ter reparado no seu traseiro era preocupante. Holly virou-se para olhar e gemeu, incomodada.

– A casa de banho é ali, ao fundo – informou uma das empregadas.

– Pode deixar a mala comigo.

Holly ficou a olhar para ele e questionou-se sobre o que devia fazer. Tinha duas opções. Deixar a mala com um desconhecido ou arrastá-la pela cafetaria.

– Pode confiar em mim – assegurou o dono do cão, lendo-lhe os pensamentos.

«Todos os descarados dizem isso», pensou Holly.

– No meu caso, é verdade – acrescentou ele, como se tivesse voltado a ler os seus pensamentos.

Portanto, deixou a mala com ele.

Atravessou a cafetaria, tentando ignorar os olhares divertidos dos outros clientes. Ao sentir que corava diante daquele escrutínio, apercebeu-se de que, durante o breve tempo que permanecera junto do desconhecido se sentira bem. A verdade era que não lhe apetecia nada sentar-se naquela cafetaria tão bonita em que, provavelmente, o café custava o dobro do que em qualquer outro lugar. Mas estava em processo de renovação e isso queria dizer que não ia voltar a fugir. O que ia fazer? Inventar uma desculpa patética e fugir de um homem tão bonito?

Portanto, depois de se limpar, voltou para a sala e encontrou-o a ler o jornal, com a mala ao lado.

– Já fiz o pedido – anunciou, deixando o jornal de lado.

– Café com leite e torradas com tomate e queijo fundido… Que maravilha – disse Holly.

– Eu ia comer e pensei que talvez também tivesse fome.