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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2002 Harlequin Books S.A. Todos os direitos reservados.

ATRAVÉS DAS SOMBRAS, N.º 28 - Abril 2013

Título original: The Secret Baby Bond

Publicada originalmente por Silhouette® Books

 

© 2002 Harlequin Books S.A. Todos os direitos reservados.

UM ARDENTE AMANHECER, N.º 28 - Abril 2013

Título original: Cinderella’s Convenient Husband

Publicada originalmente por Silhouette® Books

Publicados em português em 2004.

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

® Harlequin y logotipo Harlequin são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-2944-2

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

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Na cidade de Chicago

 

Setembro. Acrescentem o nome de Tara Connelly Paige à lista dos Connelly com problemas recentes. Parece que a jovem tem recebido chamadas telefónicas estranhas e que alguém a tem estado a seguir. Estes incidentes foram suficientes para que o seu pai, Grant Connelly, tenha aumentado as medidas de segurança de toda a família.

Mas muito mais estranha é a «ressurreição» do «falecido» marido de Tara, Michael Paige. De acordo com as nossas fontes, após ter sido dado como morto durante dois longos anos, Michael abriu calmamente a porta da mansão familiar dos Connelly como se regressasse de um dia de trabalho normal.

Embora parecesse uma história digna de uma telenovela, pelos vistos, Michael não viajava no comboio que chocou no Equador, mas foi vítima de uma cilada que o deixou em estado de amnésia. Há duas semanas recuperou a memória e acaba de chegar a Chicago. Realmente, a realidade supera a ficção.

Não é preciso adivinhar como reagiu Grant Connelly perante o regresso do seu genro perdido, o «rapaz rebelde» que uma vez levou a menina dos seus olhos. Não é nenhum segredo que o patriarca dos Connelly tinha planos para Tara, que não incluíam Michael.

Para mais informação, permaneçam atentos ao que acontece...

Prólogo

 

Durante dois anos, Michael Paige tinha sido um homem morto. E, para alguns, continuava a ser um homem morto. Mas, não só estava vivo, como por fim se lembrava de todas as coisas que tinha esquecido.

Lembrava-se do que tinha tido.

Lembrava-se do que tinha perdido.

E queria voltar a tê-lo.

À distância, escondido por trás das lentes de uns óculos escuros, observou Tara, a esposa que tinha perdido antes de o mundo ter decidido que estava morto. Observava-a enquanto o bater do seu coração lhe recordava que estava vivo.

Sentado num banco do parque, observava-a enquanto o sol de Setembro brilhava puro sobre os ulmeiros e o aroma das rosas tardias de Verão inundava a brisa. E lembrou-se dos seus gestos, da maneira como o seu cabelo preto escorregava como seda por entre os seus dedos, a forma como os seus olhos violeta se tornavam lilases quando faziam amor. Há dois anos atrás. Toda uma vida.

Ela sorria, com uma expressão de amor no rosto, amor pela criança que começava a dar os seus primeiros passos ao seu lado e que olhava fixamente para a sua mãe com os seus olhos cinzentos sorridentes.

Os mesmos olhos de Michael.

Formou-se-lhe um nó na garganta que lhe custou muito a engolir.

Tinha um filho.

Tinha um filho que se chamava Brandon, e que tinha visto pela primeira vez duas semanas antes. Michael meteu a mão ao bolso e pegou num manuseado recorte de jornal. A fotografia de Tara num jornal sensacionalista tinha-lhe chamado a atenção num supermercado de Quito, no Equador, e uma réstia de memória tinha-se apoderado dele nesse instante, apanhando-o de surpresa. Tal como a dramática notícia da sua própria morte.

Sentiu uma súbita dor do lado direito da cabeça e passou os dedos pela cicatriz. Uma dor ainda mais forte crescia lentamente no seu peito e tornou-se tão profunda que teve vontade de correr para o rapaz e abraçá-lo, para sentir aquele corpinho saudável e robusto contra o seu próprio corpo. Para olhar para os seus olhos de prata e ver neles o reflexo de si mesmo. Para confirmar que aquele incrível milagre que Tara e ele tinham gerado não era apenas o produto da sua imaginação. E para confirmar, sem possibilidade de engano que estava vivo de verdade.

Mas o homem que durante os dois últimos anos tinha sido Miguel Santiago não podia fazer aquilo. Ainda não. Por isso, ficou onde estava e aceitou que não era ainda o momento certo. As coisas não se faziam assim. Não podia aproximar-se de um filho, um filho que não conhecia e dizer à sua mulher: «Não estou morto. Só estive perdido durante um tempo, e tive muitas saudades tuas».

Por isso, permaneceu sentado, incapaz de se mexer quando o seu filho caía ao chão de costas e o homem que estava sentado ao lado de Tara se levantava para o levantar do chão.

Depois, afastaram-se os três juntos: Tara, o seu filho, e o homem que ocuparia o seu lugar.

Michael viu-os desaparecer antes de se pôr de pé e começar a caminhar.

Prometeu a si mesmo que da próxima vez que caminhasse, o faria para sair das sombras. Caminharia em direcção aos vivos, e não para se afastar.

Queria recuperar a sua vida.

Queria recuperar a sua esposa.

Não queria continuar morto.

Capítulo Um

 

Tara Connelly Paige estava sentada com as pernas cruzadas em cima da carpete rosa pálido que cobria o chão do escritório da mansão familiar. Estava a contemplar o fogo que ajudava a amenizar o frio invulgar daquele serão de princípios de Setembro.

Ao seu lado, aninhado sob uma colcha azul e branca que tinha sido tecida pelas amorosas mãos da sua bisavó, Lilly, dormia o seu filho, com a paz de um bebé de catorze meses ignorante do turbilhão de sensações que a sua mãe atravessava.

– É um pouco tarde para repensar as coisas, Tara – disse o seu pai com delicadeza desde o sofá que estava atrás dela.

Tara levantou a vista e deparou-se com a preocupação reflectida nos olhos de Grant Connelly. Naquela altura, já não a devia surpreender o facto de o seu pai ser capaz de lhe ler o pensamento. Parecia que, desde que tinha voltado a viver em casa dos seus pais, após a morte de Michael, dois anos antes, o seu pai tinha aprendido a ler-lhe a mente com a mesma facilidade com que lia as cotações dos mercados. Aquela era outra das razões pelas quais devia ir viver sozinha. Ou viver com John.

Aquela hipótese causava-lhe uma sensação de rejeição. Rejeição e culpa.

– Sei que foi uma decisão difícil, querida, mas John é uma boa pessoa – continuou o seu pai. – E fizeste bem em deixar que Seth inicie todas as tramitações legais para declarar Michael oficialmente morto.

Michael. Morto.

Tara exalou um profundo suspiro, e tentou, como sempre fazia, afastar da sua mente a esperança de que pudesse continuar vivo depois de todo aquele tempo. A sua cabeça dizia-lhe que não era possível, tal como a sua família se empenhava em relembrar-lhe, com delicada mas inflexível insistência. Até Seth se tinha juntado finalmente ao coro.

Que Deus abençoasse o seu irmão Seth, o advogado. Estava a tratar de toda a papelada que a ela lhe tinha custado dois anos de coragem para pôr em marcha. Cuidadosamente, com eficácia e descrição, estava a ocupar-se de tudo. Era um homem no qual se podia confiar. Tal como o seu pai.

– O rapaz precisa de um pai, Tara – continuou a dizer Grant. – E John quer ser um pai para ele. E quer ser teu marido. É um bom homem.

Sim, John era um bom homem. Um pouco empertigado, na opinião de Seth, mas bom. Bom para Brandon e bom para ela. Estava disposto a oferecer-lhe segurança e, inclusivamente, a manter o extravagante modo de vida a que Tara estava habituada. E era também a oportunidade de sair de casa dos seus pais. Já tinha abusado da sua generosidade por demasiado tempo.

John cumpria com todos os requisitos menos com um. Ela não o amava. Não da maneira como tinha amado Michael.

O fogo crepitou. Tara desviou o olhar da chama azulada e dirigiu-o à sua mão esquerda, na qual descansava um diamante que John lhe tinha comprado há três semanas atrás. A luz das chamas resplandecia sobre a jóia, e ela pensou na simples aliança de ouro que Michael lhe tinha oferecido, e lembrou-se do amor, das esperanças e dos sonhos que lhe tinha oferecido com ela.

O amor, no entanto, não tinha resolvido os problemas que tinham acumulado durante os cinco turbulentos anos que tinham passado juntos. Por isso, o amor não lhe parecia um factor essencial na sua relação com John. Ela gostava dele, pelo menos tanto como ele gostava dela. E, afinal, aquilo parecia-lhe uma razão suficiente para aceitar casar-se com ele.

– Quando é que vais marcar a data do casamento? – insistiu o seu pai, erguendo o copo de whisky com gelo que estava a saborear.

Tara deixou escapar um suspiro. Tal como o seu pai, John também a tinha estado a pressionar para que marcasse uma data. Ela tinha tentado evitar a questão desde que a notícia saíra em todos os jornais do país. O anúncio público do seu noivado há duas semanas atrás tinha-lhe parecido como uma traição pública.

Tara levou uma mão à testa, incapaz de esquecer a dor de cabeça. Não estava preparada para o alarido que tinha sido gerado pelos meios de comunicação após o anúncio do seu noivado. As revistas tinham publicado fotografias dela e de John juntos, e de Brandon. Mas o pior de tudo tinha sido que tinham voltado a publicar as fotografias do acidente ferroviário no Equador que tinha custado a vida a Michael. Reviver as circunstâncias do desaparecimento de Michael tinha-se tornado um pesadelo e, por essa razão, tinha sido incapaz de fixar uma data para o seu casamento com John.

– Ainda é cedo para fazer planos, tendo em conta que...

– Tendo em conta que ainda não esqueceste Michael – interrompeu o seu pai, fitando-a com o sobrolho franzido.

– Já o tinha esquecido antes da sua morte – afirmou com convicção, tentando convencer ambos. – Mas, mesmo assim, penso muito nele. Na realidade, penso cada vez mais em Michael – confessou enquanto se recostava sobre o sofá. – Às vezes... às vezes vejo alguém no meio da multidão que me lembra tanto Michael que fico paralisada durante um instante, convencida de que se trata dele.

– E essas malditas chamadas telefónicas não ajudam nada – murmurou o seu pai com raiva.

Tara pensou nas chamadas que tinha recebido durante as duas últimas semanas, aquelas nas quais não se ouvia mais do que silêncio do outro lado da linha. Aquelas que a tinham assustado tanto que tinha acudido a casa do seu irmão Drew. Não o encontrou a ele, mas a sua noiva, Kristina, tinha-lhe dado o número de telefone dos detectives Tom Reynolds e Lucas Starwind. Mas depois não lhes tinha telefonado, porque estavam ocupados a tempo inteiro com os problemas que a família atravessava desde o passado mês de Dezembro.

Tudo parecia ter origem nos assassinatos ainda não desvendados do seu avô, o rei Thomas Rosemere de Altária, e do seu tio, o príncipe Marc; e a tentativa de assassinato do seu irmão Daniel, que tinha ocupado o lugar de Thomas como rei, por ser o primogénito de Emma Rosemere Connelly.

Não havia dúvida que o Departamento de Polícia de Chicago e os investigadores contratados pelo seu pai tinham trabalho suficiente.

– Os telefonemas não têm assim tanta importância – afirmou Tara, tentando tranquilizar o seu pai. – No entanto...na semana passada, quando saía de uma loja, senti... senti como se Michael ali estivesse, a observar-me, à minha espera.

– Toda esta história do assassinato do teu avô e do atentado contra Daniel está a pôr-te nervosa – afirmou o seu pai com delicadeza.

– Não, não se trata disso – disse Tara com firmeza enquanto esfregava os braços. – Nunca me senti ameaçada nesse sentido. É outra coisa. Ultimamente, não consigo deixar de pensar em Michael. É... é como se ainda aqui estivesse, pai.

– Isso é porque nunca houve uma despedida – respondeu o seu pai com um suspiro.

Não. Nunca houve despedida. Em vez disso, houve só um acidente de comboio na selva do Equador, noites intermináveis sem saber nada, a dor e o vazio da espera, o desespero da incerteza, a necessidade de saber alguma coisa, ainda que fosse o pior.

A selva era densa e selvagem, e as escarpas sobre as quais teve lugar o acidente, inacessíveis. O cadáver de Michael não foi o único que não se conseguiu recuperar. E Tara também não se conseguiu recuperar da mágoa de saber que as últimas palavras que lhe disse eram as últimas que ele desejava ouvir.

Ainda se lembrava de cada momento daquela manhã como se tivesse sido ontem. Regressou mentalmente àquele dia no aeroporto, aquele dia horrível. Tinha gravado na mente o impacto e a mágoa do rosto de Michael, e ainda ouvia as suas palavras.

– Não precisas de me acompanhar à porta de embarque – afirmou Michael enquanto fechava a porta do carro e punha a mala ao ombro.

Estavam no parque de estacionamento do aeroporto, rodeados por passageiros apressados que se dirigiam à terminal. Estava muito frio, frio por fora e frio por dentro. Tara subiu o gola alta da camisola de lã encarnada, enquanto via como caíam os primeiros flocos de neve, como uma promessa do duro Inverno de Chicago que estava prestes a começar.

Os olhos de Michael reflectiam preocupação enquanto a observava. Ele sabia que alguma coisa não estava bem. Finalmente sabia, depois de meses de silêncios e meias verdades. Finalmente compreendia. Finalmente. Tarde demais.

– Falamos depois – prometeu, agarrando-lhe nos ombros para a obrigar a olhá-lo nos olhos. – Sabes que tenho que fazer esta viagem. Preciso disto para progredir na carreira. Falamos quando eu regressar.

– É tarde demais, Michael. Tarde demais para falar – respondeu ela com um tom frio como o vento gelado do lago. Há muito tempo que é tarde demais.

– Não foi isso que me pareceu ontem à noite – sussurrou ele, atraindo-a para si.

Na noite anterior, quando tinham feito amor.

Contra toda a lógica, quando não conseguiam comunicar através de palavras, nunca tinham perdido a sua facilidade para comunicar na cama. Ali de pé, os dois, a sentir o calor das mãos de Michael a atravessar o seu casaco de lã e ver a paixão nos seus olhos, Tara teve consciência de que o sexo era a única coisa que os mantinha juntos desde há algum tempo.

– Michael... isto é muito difícil para mim... – começou ela a dizer, reunindo a coragem necessária para falar, mas não para o olhar nos olhos. – Quero... quero o divórcio.

Durante um instante, ele permaneceu completamente imóvel, como se tivesse ficado congelado. Depois começou a largá-la, muito lentamente, até deixar cair os braços ao longo do corpo.

– Não estás a falar a sério – arriscou ele, após um momento em que ambos sentiram o peso daquelas palavras. – Olha para mim – ordenou, respirando com dificuldade. – Mereço que me olhes nos olhos enquanto me dizes que queres destruir a minha vida.

– É a vida de ambos que se está a destruir, e eu sou a única responsável – afirmou Tara, levantando a cabeça, magoada. – Isto não é de hoje, Michael. Tenho muita pena, mas quero o divórcio – repetiu, olhando pela última vez para o seu reflexo naqueles olhos cinzentos cheios de mágoa.

E, dito aquilo, Tara voltou-se e dirigiu-se como um autómato para o carro, abriu a porta e sentou-se em frente ao volante. Não se apercebeu de ter posto o cinto de segurança, nem de ter ligado o motor. Mas quando olhou pelo espelho retrovisor, apercebeu-se de que ele a observava. O vento fazia esvoaçar o seu cabelo negro à volta do seu rosto. Tinha as faces rosadas do frio e os olhos nublados de tristeza.

Enquanto não parou o carro em frente do estacionamento de sua casa, Tara não se apercebeu de que estava a chorar. De que não conseguia parar de chorar.

Pestanejou várias vezes para afastar de si aquela recordação que dois anos depois, ainda permanecia tão viva como o lago Michigan. Levantou a vista para as amplas janelas da casa dos seus pais e teve vontade de voltar a chorar.

Continuava a ter boas recordações dos primeiros tempos da sua vida com Michael: a paixão, as esperanças, os sonhos, o entusiasmo que os tinha feito fugir no dia do baile de fim de curso, simplesmente porque estavam apaixonados. Estavam apaixonados, mas ele era o rapaz rebelde que andava por maus caminhos e ela a jovenzinha cujos cautelosos pais queriam encerrar num exclusivo internato feminino para a afastar dele. Afastá-la de Michael, que não era suficientemente bom para ela, e que nunca seria, segundo o padrão dos Connelly.

– John não vai esperar por ti para sempre, Tara.

A voz do seu pai chegou para interromper os seus pensamentos do passado.

– Eu sei – afirmou ela, pousando a mão sobre Brandon, necessitada como estava de sentir algo verdadeiro no meio de tanta irrealidade.

– Senhor Connelly, lamento interromper – disse uma voz, abrindo a porta do escritório depois de bater.

Ruby, vestida com o seu uniforme preto de criada, esperava junto ao umbral. Apertava com tanta força a maçaneta da porta que os seus dedos se tinham tornado brancos, quase tão brancos como a palidez do seu rosto.

Grant apercebeu-se ao mesmo tempo que Tara de que algo não estava bem.

– O que é que se passa, Ruby? – perguntou o patriarca dos Connelly com o sobrolho franzido.

– Senhor Connelly... – repetiu a empregada, lutando com todas as suas forças para manter a calma. – Veio... veio um senhor que deseja... que deseja ver a menina Tara.

– Agora? – grunhiu Grant, vendo no seu relógio que já passavam das nove da noite. – Quem é que tem o descaramento de aparecer em minha casa a estas horas?

O coração de Tara começou a bater depressa com impaciência. Sentia um nó na garganta enquanto se punha de pé de um salto.

Ruby empalideceu ainda mais, ainda que parecesse impossível, e dirigiu a Tara um olhar de aviso enquanto abria a porta de carvalho do escritório, que segurava até então.

Um homem penetrou na divisão. Era uma sombra no umbral. Um fantasma do passado.

– Meu Deus... – murmurou Grant com incredulidade enquanto contemplava a atlética figura de Michael Paige junto à porta.

Tara sacudiu a cabeça, cheia de desconfiança, mas querendo acreditar com todas as forças do seu corpo. Levou os dedos aos lábios, enquanto as lágrimas lhe escorriam pelas faces ao fitar os olhos cinzentos daquele homem.

– Michael...

O seu pai pôs-se de pé e, colocando-se atrás dela, pousou-lhe as mãos sobre os ombros com delicadeza. Mas Tara só tinha olhos para Michael. O sangue subiu-lhe à cabeça e o coração batia-lhe com força dentro do peito, de maneira que ela o sentia até na garganta. Sentia que lhe fraquejavam as pernas.

Através da neblina aquosa que as lágrimas formavam, Tara observava fixamente o seu marido. Ele deu um passo em frente e pegou-lhe nas mãos. Ela soltou um grito ao sentir o contacto familiar dos seus dedos e baixou a vista para contemplar as suas mãos unidas. As suas tremiam.

– Tara...

Ela levantou a cabeça ao ouvir o som da sua voz, e olhou-o nos olhos enquanto ele dirigia ao seu sogro uma súplica com o olhar. A muito custo, Grant apertou os ombros da sua filha uma vez mais antes de a soltar.

Michael abraçou-a então, com toda a sua alma.

Tara deixou-se cair nos seus braços. Estava ali, meu Deus, estava vivo. Forte, cálido e real. E cheirava a Michael. Mergulhou a cara no seu pescoço, precisava de mais garantias de que era ele.

Michael acariciou-lhe as costas com terna urgência, demonstrando assim que ele também tinha necessidade de se certificar de que era realidade. O coração batia-lhe com força contra o seu peito enquanto sussurrava o seu nome contra o seu cabelo.

Tara afastou-se para olhá-lo novamente, para se certificar uma vez mais de que aquele homem era Michael.

O homem que tinha amado.

O homem que tinha pedido aos tribunais que declarassem morto.

O homem do qual tinha pensado divorciar-se.

Capítulo Dois

 

Michael escondeu o rosto no cabelo de Tara, perdendo-se no seu aroma a seda e a mel. Parecia que tinha decorrido uma eternidade desde que sentira a suave pressão dos seus seios contra o seu tronco, as suas ancas em contacto com o seu corpo. Parecia que se tinham passado milhares de anos.

Michael tinha visto todas as emoções reflectidas nos olhos de Tara: desconfiança e negação, esperança e amor, quando se tinha deixado cair nos seus braços. Não lhe importava o facto de que talvez tudo tivesse sido uma reacção involuntária: a única coisa em que conseguia pensar era que, por fim, a tinha entre os seus braços.

– Michael... filho.

Ouviu Grant pronunciar o seu nome por segunda vez antes de levantar de má vontade a cabeça e voltar a olhar para Tara. Passou-lhe o polegar pela face enquanto lhe sorria, antes de dirigir toda a sua atenção ao seu pai.

Grant parecia impressionado, pelo menos tanto como Tara e Ruby.

Filho. Grant nunca o tinha chamado assim durante os cinco anos que tinha estado casado com Tara. Michael desconfiava que a palavra lhe tinha escapado, o que era um indicador de como a sua presença tinha desarmado por completo o grande Grant Connelly.

– Olá, Grant.

– Michael... mas, como...? – começou a dizer Grant, levantando a mão em gesto de total confusão.

– Eu sei – interrompeu Michael, voltando-se para Tara. – Sei que devem ter imensas perguntas.

Não conseguia deixar de olhar para ela. Queria perder-se para sempre nos seus olhos violetas. Queria levá-la para algum sítio escondido e fazer amor com ela, dizer-lhe todas as coisas que desejava dizer-lhe desde que tinha recuperado a memória, há duas semanas atrás. Mas tinha perdido tantas coisas...

Michael agarrou com mais força a mão de Tara. Precisava de a tocar e que ela o tocasse a ele. Então baixou a vista para a criança que dormia no chão.

O seu filho.

Engoliu em seco para tentar desfazer-se do cúmulo de emoções que o consumiam, tão complexas que era incapaz de lhes dar nome. Mas não queria deixar-se arrastar por elas. Pelo menos ali, em frente de Grant Connelly.

– Posso? – perguntou num fio de voz.

– Claro – respondeu Tara num trémulo sussurro, após uma pausa. – Com certeza.

Michael agachou-se e tomou entre as suas mãos o vulto que se ocultava dentro da colcha e apertou-o contra o seu peito. O menino exalou um suspiro de satisfação e deixou cair a cabeça contra o seu torso, sem sentir nenhum receio perante aquele estranho que era o seu pai.

Suave. Era muito suave, terno e vulnerável. Cheirava a bebé e a pó de talco. O calor daquele corpinho pequeno provocou em Michael sentimentos que nunca achou possível albergar.

– Tinha ouvido dizer que ter um filho muda as pessoas – sussurrou, sem se aperceber de que estava a falar em voz alta.

Algo tinha mudado definitivamente dentro dele no dia em que viu a fotografia do seu filho no jornal. Foi um choque tão grande que lhe devolveu a memória de um golpe. Naquele momento compreendeu que a única coisa que queria no mundo era recuperar a sua vida.

– Desculpa – murmurou, lutando contra as suas próprias emoções. – Não estava preparado para isto.

O amor que sentia por aquela criança era tão profundo que o sentia percorrer o interior do seu corpo ao ritmo do seu coração. Michael tentou conter-se, mas perdeu a batalha. Mergulhou a cara na doçura do pescoço de Brandon e deixou-se levar por uma sensação de perda tão profunda que não conseguiu reprimir as lágrimas.

Quando Emma Connelly entrou no escritório como uma tempestade, contendo a respiração, Michael não deu por isso. Só se apercebeu que Ruby, a velha e querida Ruby, limpava os olhos com um lenço de papel.

– Michael.

O tom de voz de Tara era amável e suave.

– Gostarias... gostarias de o levar ao seu quarto e deitá-lo na cama? – perguntou, colocando-lhe a mão no ombro num gesto compassivo.

Ela tinha compreendido. Tinha compreendido que precisava de tempo e de um pouco de intimidade para se recuperar.

Michael fechou os olhos com força e assentiu com a cabeça. Sem dizer uma palavra, voltou-se e seguiu-a para fora do escritório.

Grant fitou-o com os seus olhos de granito quando passou à sua frente. Emma agarrou-lhe suavemente no braço. Ruby sorriu.

Tinha regressado. Estava em casa. E nada, nem Grant Connelly, nem um divórcio, nem um homem chamado John Parker ia impedir que lutasse pela sua mulher e se convertesse num pai para o seu filho.

 

 

Meia hora mais tarde, Michael estava de regresso ao escritório. Não se tinha recuperado totalmente mas, pelo menos, estava decidido a responder a todas as perguntas de Grant Connelly.

Todos os olhos estavam fixos nele, que permanecia de pé junto à lareira com um cálice de conhaque que Ruby lhe tinha preparado sem que ele o tivesse pedido.

– Desculpem. Sei que é um choque eu ter aparecido desta maneira – começou a dizer, olhando Grant nos olhos. – Imaginei muitos cenários para este momento, e tentei pensar em qual seria o mais fácil para vocês. Finalmente decidi que a única coisa que podia fazer era apresentar-me aqui esta noite. Calculo que isto deva ser muito doloroso para todos vocês – afirmou, olhando-os um a um. – Para todos.

– Isto não é duro, Michael – afirmou Emma, que estava sentada no sofá com a mão de Tara sobre o seu regaço. – O que foi duro foi perder-te.

O brilho de sinceridade que Michael viu nos olhos azuis de Emma fê-lo sorrir. A mãe de Tara nem sempre tinha estado do seu lado, mas quando compreendeu que Michael amava Tara, tinha feito tudo o possível para apaziguar a raiva e o ressentimento de Grant. E agora faria o mesmo. Embora estivesse de costas, Michael podia sentir a ira do seu sogro. Tal como esperava.

– Estive no Equador, Michael – disse o pai de Tara, voltando-se bruscamente para ele. – E também Daniel, Justin, Rafe, Seth... todos os que puderam ir. Procurámo-te durante dias e regressámos a casa convencidos de que ninguém podia ter sobrevivido ao acidente.

– Eu também acho que dificilmente alguém conseguiria sobreviver – disse ele, desviando o olhar do seu cálice de conhaque para os olhos de Grant. – Mas eu não estava naquele comboio.

Aquela foi a primeira bomba que soltou. Michael observou os rostos que tinha à sua volta durante os longos instantes que eles levaram a digerir aquela impressionante informação.

– O que é que queres dizer? Não estavas lá? Mas essa era a razão pela qual tinhas ido ao Equador – insistiu Grant quando foi capaz de recuperar a voz. – Tinhas ido inspeccionar uma floresta de madeira exótica, se bem me lembro... uma nova fonte de material para designs exclusivos.

– É verdade – assentiu Michael. – Essa era a razão pela qual a empresa me tinha enviado.

Michael olhou para Tara. Quando tinham ido até ao quarto de Brandon, após o abraço inicial, ela tinha-se mantido distante e silenciosa. E agora observava-o com uma mistura de estranheza e precaução que o teriam incomodado se não compreendesse o golpe que significava tudo aquilo para ela.

Era óbvio que precisava de tempo para definir os seus sentimentos. De momento, já lhe bastava enfrentar o facto de que ele estava vivo. Michael achava que também não estaria ainda preparada para ouvir o relato do seu desaparecimento, por isso esforçou-se por suavizá-lo o máximo possível.

– Tinha uma noite livre ao chegar a Quito, por isso, para matar o tempo, decidi ir dar uma volta pela cidade – começou a dizer, olhando para Tara. – Mas não foi muito boa ideia sair sozinho. Em poucas palavras, o que aconteceu foi que me atacaram.

Tara fechou os olhos e Michael ficou feliz por não ter contado que estava tão furioso com as palavras que ela tinha proferido no aeroporto que se tinha embebedado completamente. Não tinha ido ver monumentos, mas sim a encharcar-se de álcool e a sentir pena de si mesmo, convertendo-se num alvo fácil para os seus atacantes.

– Oh, querido! – lamentou Emma com lágrimas nos olhos. – Feriram-te, não foi? Feriram-te gravemente...

– Não é fácil para mim falar disto – respondeu Michael, desviando momentaneamente o olhar. – Deram-me uma sova valente e roubaram-me tudo, incluindo os meus documentos. Tenho recordações pouco nítidas, mas acho que me levaram para fora da cidade e me deixaram na selva, dando-me como morto.

– Mas não estavas morto – interrompeu Grant.

– Não, não estava – continuou Michael, tomando um gole do seu conhaque. – Sei que isto é difícil de assimilar, tal como o resto da história. Tentarei resumi-la. Um homem chamado Vicente Santiago encontrou-me abandonado no outro lado da montanha. Ele e a sua esposa, Maria, deram-me de comer e curaram as minhas feridas.

– E estiveste todo este tempo a recuperar-te? – voltou Grant a interromper.

– Não. Passaram-se aproximadamente seis meses até que me recuperei fisicamente.

– Seis meses? Isso foi há um ano e meio. Porque é que não voltaste quando te sentias melhor? – perguntou Grant com raiva mal dissimulada. – Porque é que não tentaste pelo menos contactar connosco? Tara estava fora de si de preocupação.

– Grant, se tivesse podido pôr-me em contacto convosco tê-lo-ia feito – assegurou Michael, olhando para cada um dos presentes. – Mas não sabia que estavam preocupados. Não sabia nada de nada. Levei algumas pancadas na cabeça durante o ataque – continuou, após tocar a cicatriz que tinha na testa, num gesto inconsciente. – Quando recuperei os sentidos, não sabia como tinha chegado até ali, não sabia de onde vinha. Nem sequer sabia como me chamava.

– Amnésia – murmurou Ruby. – Que Deus nos valha.

– Exacto, amnésia – repetiu Michael. – Embora pensemos que é algo que só acontece nos filmes, a mim aconteceu-me. Como vos estava a dizer, passei seis meses a recuperar e a aprender espanhol – acrescentou com um leve sorriso. – Os Santiago falavam muito pouco de inglês. O facto de essa ser a minha língua era a única pista para a minha identidade. Achava que era americano, mas não sabia nada mais. Fiquei com os Santiago, ajudando-os com o seu negócio de madeira.

– Quando... quando é que te começaste a lembrar? – perguntou Tara, franzindo o sobrolho, enquanto soltava a mão de Emma e colocava ambas as mãos sobre o regaço.

– Há duas semanas – afirmou Michael. – Tu ajudaste-me a recordar.

O rosto de Tara empalideceu.

– Foste tu – continuou ele a explicar. – Sabes que os Connelly são como os Kennedy ou os Trump, a aristocracia americana aos olhos do mundo. Todo o que fazem sai nas revistas, mesmo nas internacionais. Um dia, num supermercado de Quito, deparei-me com uma dessas revistas. A tua cara...

Michael interrompeu-se por uns segundos para respirar fundo.

– A tua cara e a de Brandon estavam na capa, junto ao anúncio do teu noivado com John Parker. Também havia uma fotografia minha, com o relato da minha morte.

– Meu Deus – sussurrou Emma, pondo-se de pé. – Deve ter sido horrível para ti.

– Sim e não. Ao princípio senti-me terrivelmente assustado. O cúmulo de recordações que aquelas imagens despertaram em mim foi aterrador. Tudo veio de repente, e foi tão intenso que desmaiei – recordou Michael com um sorriso nostálgico. – Ao acordar, estava deitado no chão, rodeado das compras que tinha deixado cair quando sucumbi. E comecei a lembrar-me. De tudo.

Michael observou Tara fixamente e soube, pela sua expressão, que estava a pensar na sua última conversa. Ficou ainda mais pálida, embora parecesse impossível.

– Foram dois longos anos – destacou Grant com cara de circunstância. – Não podes imaginar como ficamos contente por estares vivo.

– Mas...? – perguntou Michael, oferecendo-lhe a oportunidade de continuar.

– Mas passaram-se dois anos, Michael, dois anos! – enfatizou Grant com os dedos da mão. – Não soubemos nada de ti durante esse tempo, absolutamente nada – afirmou, antes de fazer uma pausa. – A vida seguiu o seu curso e Tara também.

Michael observou-a enquanto o seu pai falava. Apesar do que afirmava Grant, ela não parecia ter ido a lado nenhum. Pelo menos ainda. E se dependesse dele, a única direcção que Tara tomaria seria em direcção a ele.

Tinha regressado. E estava disposto a lutar, pela sua mulher e pelo seu filho. Pelo seu casamento. Mas não era uma batalha que pensasse empreender naquela mesma noite, e muito menos tendo que enfrentar a Grant Connelly.

– Com o devido respeito, senhor – começou a dizer, olhando para o pai de Tara. – Não me parece que a sua filha tenha tomado qualquer decisão. E, quando o faça, será um assunto entre ela e eu.

 

 

Era meia-noite, a hora reservada para os amantes. A luz da lua dançava sobre as paredes decoradas com desenhos de damasco gravados em marfim. Os finos lençóis de linho rolaram até aos pés da cama no quarto do segundo andar onde dormia Tara Connelly Paige.

A seda pura da sua camisa de noite enrodilhou-se nas suas ancas. Um delicado véu de transpiração cobria-lhe o pescoço e a testa. Os dedos da mão direita enredavam-se entre as colunas de ferro forjado da cabeceira da cama enquanto ela gemia. A mão esquerda deslizava sobre o seu peito numa inconsciente carícia. Sonhava com Michael, com os seus olhos cinzentos como o fumo, carregados de desejo, os seus amplos ombros a tapar a luz da lua, os seus braços poderosos a agarrá-la enquanto se colocava em cima dela.

Tara pronunciou o seu nome, arqueou as costas e deixou-se levar pelo prazer selvagem que ele lhe dava e que ela lhe pedia. As suas ancas encaixavam nas dele e os seus corpos fundiram-se num só quando ele lhe pediu que fosse com ele àquele lugar cheio de sensações no qual a paixão prometia voltar a fazer dela uma mulher completa, uma mulher real, o que não tinha sido desde que ele a tinha deixado.

– Michael... – gemeu.

E, no seu sonho, Tara deslizou a mão sobre o seu peito, pelo seu ventre até alcançar aquele lugar íntimo que morria por ele, que suspirava por ele.

– Michael...

Sentou-se na cama de repente, sobressaltada com os seus próprios gritos. Respirando com dificuldade, olhou à sua volta.

Aquele não era o apartamento onde tinha vivido com Michael. Era o seu quarto em casa dos seus pais, onde ela dormia há dois anos. Sozinha.

Um sonho. Tinha sido apenas um sonho.

Tara apoiou as costas à cabeceira da cama e deixou cair a testa sobre os joelhos, tentando recuperar o fôlego.

Michael não era um sonho. Estava vivo. Tinha-o visto nessa noite, tinha falado com ele, tinha-o tocado. Naquele momento desejava-o tanto que doía.

Tinha saudades de estar deitada na cama com ele. Tinha saudades do seu tamanho, da sua força, do calor da sua boca, das carícias das suas mãos.

Mas já não tinha que ter saudades.

Tara levantou a vista ao tecto, tremia de vontade de lhe telefonar, de lhe pedir que fosse ter com ela, de fazerem amor.

Seria fácil.

E seria um erro.

Então, começou a chorar. Eram lágrimas de alívio por ele estar vivo. E lágrimas de tristeza que não tinha deixado sair desde aquele dia, há dois anos atrás, quando chegaram as notícias da sua suposta morte. Lágrimas pelo que tinham tido e pelo que tinham perdido.

Michael estava vivo, e ela estava muito feliz por isso. Mas o que ele pretendia não ia acontecer. Tinha deixado claro que estava decidido a retomar a relação onde a tinham deixado, mas ela não podia voltar a viver com ele. Não podia voltar a passar pelo calvário de amá-lo outra vez. Amar Michael era demasiado doloroso.

Tara fechou os olhos e deixou-se cair sobre um lado da cama. Por razões que só ela podia compreender, ia avançar com o divórcio. Tinha que fazê-lo, porque ela sabia algo que mais ninguém sabia: Que era uma farsante. Uma fraude.

A imagem que a imprensa e até a sua própria família tinha dela como de uma mulher independente, forte e segura de si mesma era uma mentira. Uma completa mentira.

A verdadeira Tara Connelly era uma cobarde. Não era suficientemente forte para viver as suas emoções com todas as consequências. A única coisa que sabia fazer era seguir os seus instintos primários, que lhe diziam que se mantivesse alerta e vivesse com as mínimas implicações emocionais possíveis. O que significava que não era capaz de sobreviver a outra tentativa de amar Michael Paige.

Deitada na escuridão, lutando contra o desejo e a necessidade, teve vergonha de admitir que a verdadeira Tara Connelly tinha até medo de tentar.