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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2005 Laura Wright

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Mais Forte que a Vingança, n.º 692 - Agosto 2014

Título original: Her Royal Bed.

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2006

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5420-8

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Capítulo Treze

Capítulo Catorze

Epílogo

Volta

Capítulo Um

 

Jane Hefner fez um sorriso espontâneo ao entrar no hall da vivenda Rolley, sobre cujo chão de mármore soavam os seus saltos. Um mês antes, o grande complexo texano dos Turnbolt tê-la-ia feito caminhar hesitante. Mas isso fora um mês antes, quando Jane ainda era uma rapariga normal, sem nada de especial, que vivia num modesto duplex, numa rua tranquila de uma vila ainda mais tranquila na costa da Califórnia. Quando ainda trabalhava como cozinheira num pequeno e selecto restaurante a troco de um salário mínimo que, com um pouco de sorte, lhe permitiria um dia abrir o seu próprio restaurante ao pé da praia.

Um mês antes, quando ainda era simplesmente Jane Hefner, e não Jane Hefner Al-Nayhal, a princesa há muito tempo desaparecida de um pequeno mas riquíssimo país chamado Emand.

Com apenas um mês de treino em protocolo e boas maneiras, Jane abriu alas entre a multidão que, reunida no salão revestido de painéis de mogno dos Turnbolt, comia entradas e bebia o que a sua mãe costumava chamar de «bebidas fortes».

A quinta Rolley era um lugar muito bonito: um enorme casarão construído em estilo colonial, erigido sobre um promontório a mais de trezentos metros de altura, sobressaindo entre os mil e seiscentos hectares de terreno virgem da propriedade. Situada a apenas meia hora de Paradise, Texas, a quinta com a sua inabalável serenidade, a sua beleza agreste e a sua fauna autóctone, parecia estar a anos luz da grande cidade. Jane sabia, pelos seus irmãos, que os proprietários, Mary Beth e Hal Turnbolt, tinham comprado a quinta há cinco anos atrás e tinham transformado rapidamente aquele tranquilo lugar num moderno complexo de lazer, com três casas para hóspedes, um lago, um miradouro, uma cavalariça para exposições, um auditório coberto e um heliporto.

Jane descobriu um sítio relativamente tranquilo, junto à lareira de tijoleira, e sentou-se. O suave calor vindo da lareira aquecia as suas costas despidas pelo pronunciado decote do vestido de seda verde esmeralda. Ainda bem que estava sozinha. Mesmo que fosse por pouco tempo. Adorava os irmãos que descobrira recentemente e a sua cunhada Rita, mas durante as últimas quatro semanas só conseguira escapar às conversas e obrigações reais quando se ia deitar: e mesmo deitada, os seus sonhos eram tão cansativos como a sua vida quotidiana.

– Gambas?

Jane levantou o olhar para o simpático empregado e sorriu ao lembrar-se por que estava naquela festa dos Turnbolt: tinha ido ali com o objectivo de provar a comida texano-mexicana e de observar como era o serviço numa festa da alta sociedade de Dallas. Tinha de contratar pessoal e definir uma ementa. Faltavam apenas três semanas para a festa de «bem-vinda ao mundo» da pequena Daya Al-Nayhal e estava decidida a deixar o Sakir e a Rita boquiabertos.

Tirou uma gamba e olhou para o pequeno recipiente com molho que estava na bandeja.

– O que é isto?

– Hum – o jovem mordeu o lábio e o seu olhar vagueou entre Jane e o molho. – É de coentros. É um molho cremoso, acho eu.

«Acho?»

Jane fez uma careta. Se aquele rapaz trabalhasse na sua cozinha, levaria um grande raspanete. Mas ela já não tinha uma cozinha sua.

– Quer provar? – a pergunta denotava alguma preocupação, como se ele não tivesse provado o molho e não tivesse a certeza da frescura dos ingredientes.

– Obrigada – disse Jane, colocando no prato meia dúzia de gambas.

O molho era divinal, cremoso e com um toque de especiarias, e realçava o sabor das gambas. Jane abanou a cabeça, enquanto observava o empregado fardado que se afastava e se dirigia depois, com a bandeja prateada, a um casal mais velho. Sentia pena do cozinheiro cujo molho delicioso iria passar despercebido devido à negligência de um empregado que não só se esquecia de o oferecer aos convidados como também parecia desconfiar dos ingredientes de que nem sequer sabia o nome.

Jane terminou de comer uma gamba e questionou-se sobre se a selecção do pessoal de catering para a festa iria ser mais difícil do que estaria à espera. A avaliar pelo que tinha visto na semana anterior, talvez devesse começar a ficar preocupada. Três festas em sete dias e só um empregado lhe tinha causado boa impressão. Não havia dúvidas: tinha que concentrar todo o seu tempo e energia nessa selecção sem se distrair com coisas menores. E o problema é que, nos últimos tempo, distraia-se com muita facilidade. Estava feliz por se ter oferecido para organizar o banquete daquela comemoração familiar, mas isso não lhe provocava o orgulho e a determinação que sentia quando era chefe.

Ficou desanimada quando o ruído à sua volta começou a baixar até se converter numa espécie de barulho amortecido. Levantou o olhar e viu uma mulher com cerca de setenta anos, com os olhos escuros e o nariz muito comprido e bicudo, em cima do pódio improvisado atrás do qual estavam penduradas duas pinturas abstractas de valor incalculável. Era a anfitriã, Mary Beth Turnbolt. A mulher olhou para as pessoas à sua frente como se tivesse uma irreprimível vontade de clicar num botão que silenciasse a sala. Mas acabou por o conseguir ao levantar as mãos e apertando os seus finos lábios.

– Senhoras e senhores – começou por dizer, com uma voz áspera, mas surpreendentemente cordial, – quero agradecer-vos por estarem aqui esta noite. É muito bom ver que tantos amigos apoiam esta causa. Como a maioria já deve saber, o Jesse, o filho de Beatrice, a nossa governanta, sofre de síndroma de Down, e o Hal e eu estamos tão interessados como os seus pais em promover a investigação e o tratamento desta doença.

Jane viu que Mary Beth se voltava e sorria para uma mulher loura, de bochechas redondas e coradas como maçãs, que estava sentada num sofá. Junto dela, estava sentado um homem que lhe apertava a mão com força e que só podia ser o seu marido.

Jane sentiu-se emocionada ao aperceber-se da importância daquela festa.

– Esta noite temos um convidado especial – continuou Mary Beth, atraindo de novo o olhar de Jane para a tribuna. – Ele raras vezes está presente neste tipo de eventos, ainda que todos o tentemos persuadir do contrário.

Seguiu-se um coro de suaves sorrisos femininos e Jane franziu a testa, confundida.

Mary Beth fez um sorriso rasgado.

– Por favor, demos as boas-vindas a um dos meus mais queridos amigos que é também o homem que treinou os nossos nove cavalos, Bobby Callahan.

Jane seguiu o olhar dos convidados à medida que todos se voltavam para a porta. Não demorou muito tempo a perceber a razão daqueles risinhos e cochichos. De repente, esqueceu-se das três gambas que ainda lhe restavam e cravou o seu olhar no homem que atravessava a multidão e subia à tribuna. Tinha pouco mais de trinta anos, media pelo menos um metro e noventa, era musculado e trazia um fraque que mal lhe servia.

O coração de Jane começou a palpitar e o suave calor nas suas costas, de repente, pareceu-lhe um incêndio florestal.

Observou-o enquanto subia para a tribuna e ajustava o microfone à sua altura.

– Antes de mais, quero agradecer à Mary Beth e ao Hal por esta festa em favor das crianças com síndroma de Down e do rancho KC. E quero agradecer-lhes por me terem convidado e permitirem-me que me dirija a todos vocês. Sobretudo, sabendo quão falador posso ser – fez uma pausa e esboçou um sorriso arrogante. Jane levantou-se e, apesar das pernas lhe tremerem, aproximou-se da tribuna. – O meu pai costumava dizer – prosseguiu Bobby Callahan com um forte sotaque texano, – que se uma coisa não parece merecer um esforço então é porque não o merece mesmo. Estas palavras ficaram-me gravadas e levaram a que me concentrasse nas coisas importantes da vida – inspirou profundamente, continuando depois a falar com uma voz poderosa. – Muitos dos senhores sabem que a minha irmã Kimmy morreu faz hoje um mês. Ela foi a inspiradora do rancho KC e a pessoa mais importante da minha vida. Tenho saudades dela a cada minuto que passa. Mas é a memória dela que me dá forças para me levantar cada manhã. Sim, Kimmy tinha síndrome de Down, mas nunca deixou que isso a impedisse do que quer que fosse. Era muito dura e muito autoritária. Mas era a minha melhor amiga e a minha inspiração – a sua voz voltou a ser contida e o seu sorriso desvaneceu-se. Olhou à sua volta e cumprimentou com uma inclinação de cabeça algumas pessoas antes de começar de novo a falar. – Alguns dos senhores conhecem o rancho KC, os serviços de creche que oferecemos para crianças pequenas, os cursos de equitação assistida depois da escola e os acampamentos de Verão para crianças com problemas de desenvolvimento, com deficiências auditivas, visuais, de aprendizagem ou físicas. Alguns dos senhores foram muito generosos durante todos estes anos e outros talvez o venham a ser a partir desta noite.

Um sorriso colectivo estendeu-se por todo o salão ainda que com alguma contenção. Bobby Callahan era um sedutor nato: atraía a atenção dos homens com o seu humor e a sua conversa fluente e a das mulheres com a lealdade e o amor que demonstrava pela sua falecida irmã.

– Acho, e tenho a certeza que o meu pai pensaria o mesmo, que o rancho KC merece o esforço. Espero que os senhores também o achem. Que tenham uma noite feliz.

O salão explodiu num aplauso e Jane reparou que algumas mulheres secavam os olhos, tentando impedir que o que o rímel de 50 dólares borrasse. Mas Jane não manteve o olhar fixo na multidão por muito tempo. Colocou-se na ponta dos pés e tentou ver onde Bobby Callahan se tinha metido.

O seu discurso não lhe saía da cabeça. Aquelas palavras ficaram gravadas na ferida aberta da sua alma, uma ferida que nunca sarara desde o momento em que a sua mãe lhe disse, muito anos antes, que ia ficar cega. Era estranho. Muita gente tinha tentado falar com Jane sobre a sua mãe, sobre os seus sentimentos e os seus medos. Mas Jane tinha sempre abafado as suas emoções. Nunca tinha nem tempo nem força para remexer no fundo do seu coração. Naquela noite, porém, por algum estranho motivo, Bobby Callahan tinha reanimado todas aquelas emoções há tanto tempo escondidas.

Com a pulsação acelerada, Jane viu que Bobby estava a apertar a mão a algumas pessoas junto da varanda e que, depois, pegou em duas cervejas e saiu do salão. Esperou para ver se alguém o seguia e, ao ver que não, foi atrás dele.

– Costeletas regadas com Porto? – uma rapariga com pouco mais de vinte anos, com um belíssimo bronzeado e uns olhos verdes grandes, um pouco mais claros que os de Jane, estendeu-lhe a bandeja. – Acompanham maravilhosamente com o merlot seco.

Jane abanou a cabeça, distraída.

– Não, obrigada.

A empregada era perfeita, tanto na aparência como na atitude e profissionalismo. Se não estivesse com a cabeça noutro assunto, ter-lhe-ia pedido o nome e o número de telefone para a sua festa. Apesar de ter prometido a si mesma que se ia concentrar nesse assunto, esquecera-se da decisão depois de Bobby Callahan ter subido à tribuna.

Normalmente, não se interessava tanto por um homem. Costumava encarar os homens como uma questão para o futuro, como possíveis maridos, como futuros pais dos três filhos que um dia haveria de ter. Não era hábito abandonar uma festa para ir atrás de um cowboy alto, moreno e altruísta. Mas, nessa noite, foi empurrada para fora do salão por uma força desconhecida que não quis identificar.

Dez minutos depois, após uma busca discreta, encontrou Bobby. Num piso acima, ao fundo de um longo corredor, numa ampla varanda que dava para os terrenos em frente à casa. Uma brisa suave, um pouco fresca demais para princípio de Outono, soprava por entre as árvores que se viam dali e fez com que Jane colocasse os braços em volta do corpo para se aquecer.

O homem cujas palavras lhe tinham parecido tão sentidas estava agora ali de costas para ela, apoiado no parapeito, desfrutando do silêncio da paisagem, enquanto bebia uma cerveja. Como uma espia, Jane entrou na varanda e colocou-se atrás de uma enorme planta. Como não sabia o que fazer, limitou-se a olhar para Bobby, durante cinco minutos, enquanto ele bebia duas cervejas com o olhar fixo na escuridão.

O seu pé direito ficou dormente e os joelhos começaram a doer-lhe por estar ali agachada. Por fim, perguntou-se que raio estava ali a fazer. O que era feito do seu bom senso e do seu sentido prático?

Olhou para trás. Se alguém a visse naquela figura, seria gozada no Paradise, no Texas e nos estados circundantes para além de envergonhar o seu irmão e a sua cunhada.

O que tinha de fazer era levantar-se, sair silenciosamente de trás do vaso e voltar ao salão. Se estava assim tão desesperada para conhecer Bobby Callahan, havia pelo menos umas cinco maneiras mais sensatas de o fazer.

– O meu pai costumava dizer – disse uma voz profunda e viril: – nunca te aproximes de um touro pela frente, nem de um cavalo por trás – voltou-se e olhou para o vaso como se pudesse ver através dele. – Nem de um louco seja por que direcção for. Qual das três coisas é que te pareço? – Jane ficou gelada e sem coragem, enquanto uma folha lhe fazia cócegas nas costas. – Se tens alguma coisa para dizer, sugiro que saias de trás dessa moita e que o digas.

O suor começou a correr pelo pescoço de Jane e pelo corpo abaixo. Que devia fazer agora? Fugir apavorada? Fingir que não estava ali? E se ele se aproximasse da planta, afastasse as folhas e a apanhasse ali sentada?

Fechou os olhos, respirou fundo e tentou acalmar o batimento cardíaco. Mas a técnica não funcionou e obrigou-se a levantar-se. Envergonhada até à medula, afastou-se da planta. Abanou a cabeça e conseguiu dizer com uma voz dócil:

– Lamento.

Depois descobriu que Bobby Callahan tinha o dom de avaliar as pessoas só com o olhar.

– Quem é a senhora?

– Jane – respondeu ela, ao mesmo tempo que sacudia o pó do vestido.

Ele levantou uma sobrancelha.

– Apenas Jane?

– Não é mais fácil assim? – disse ela, com ironia. – Para os dois?

– Talvez, mas eu não gosto de estar em desvantagem quando estou a falar com alguém – ele sorriu, ao ver a sua expressão confundida. – Sabe como me chamo? O meu nome e apelido?

– Sim.

– Está bem, então – cruzou os fortes braços sobre o peito. – Diga-o de uma vez.

– Jane Hefner.

Um resmungo mal-humorado soltou-se da garganta de Bobby.

– Hefner?

Ela confirmou com a cabeça.

– Não tenha ilusões. Não tenho nada a ver com o dono da revista das coelhinhas.

Ele desatou a rir: um riso suave e baixo que reverberou na pele de Jane.

– Costumam perguntar-lhe isso, é?

– Nem imagina quantas vezes.

Durante o mês anterior, tinha passado uma ou duas vezes pela cabeça de Jane mudar o apelido para Al-Nayhal, mas há muito tempo que se chamava Hefner. E, no fim de contas, era o apelido da sua mãe.

– E, diga-me uma coisa, Jane Hefner, tem por hábito andar a espiar as pessoas?

– Não – afirmou ela, muito séria. Ele, no entanto, não pareceu muito convencido.

– Não estou lá muito convencido – disse.

– É verdade. Esta é a primeira vez – aquelas palavras voaram da sua boca mas Jane gostaria de as ter podido retirar porque Bobby arqueou as sobrancelhas numa expressão sugestiva e o seu sorriso alargou-se.

– A primeira vez, então? E que tal estive?

Ela deixou escapar um resmungo.

– Esta situação está-se a tornar mais humilhante a cada segundo que passa.

– Quer isso dizer que não o voltará a fazer?

– Sem dúvida que não.

– Abandona a espionagem?

Ela assentiu com a cabeça.

– Acho que é o melhor. É óbvio que não sei enfrentar as consequências.

– E quais são essas consequências? Um confronto verbal ou, talvez, um suave interrogatório?

– Suave? – perguntou ela, com um tom de humor na voz.

– Ora, então – disse Bobby, cujos olhos lançavam um perigoso fogo azulado. – Uma pessoa tem o direito... não, uma pessoa tem a obrigação... de averiguar por que está a ser espiado. Mesmo que esteja a ser espiado por uma belíssima mulher.

Era insuportavelmente atraente e tinha um ar rude, experimentado e melancólico. Jane ficou ali parada, olhando-o com ousadia, enquanto se questionava sobre o que sentiria ao tocar-lhe, ao passar os dedos pelo seu rosto, por aquele queixo firme e por aquela cicatriz no lábio superior. Questionava-se se seria rude com uma mulher na cama ou lento e minucioso. Questionava-se se ele teria permitido que alguém o consolasse enquanto chorava a morte da irmã.

Aqueles pensamentos tão estranhos inquietavam-na, faziam com que o seu coração lhe martelasse o peito e que o seu ventre se tornasse quente e húmido, como se tivesse bebido uma chávena de mel.

– Então, queria alguma coisa? – perguntou ele, tirando-a dos seus pensamentos ao mesmo tempo que um leve sorriso brincava nos seus lábios.

– Não – apressou-se ela a responder, depois recuou e abanou a cabeça. – Bom, não é bem assim – como é que o iria dizer? – Estava... interessada no senhor.

– Estava?

– Ou estou – respondeu ela, sem pensar duas vezes.

– Ah, sim? – Bobby sorriu languidamente e encostou-se contra o parapeito da varanda.

– O que disse esta noite... – começou Jane a dizer, enquanto se aproximava cautelosamente dele. – O que disse... sobre a sua irmã e sobre os seus sentimentos para com ela... comoveu-me.

A expressão de Bobby mudou repentinamente. Um sorriso fácil e arrogante deu lugar a uma linha fina e escura.

– Portanto, não sou eu por quem realmente se interessa. Veio à minha procura por pena.

– Não – respondeu ela logo de seguida, surpreendida por ele a ter interpretado mal até àquele ponto e questionou-se sobre as razões por que prosseguia aquela conversa.

Ele bebeu um golo de cerveja e depois murmurou com aspereza:

– O cão abandonado, não é?

– Não é apenas isso.

– Querida, já tive essa experiência e não me interessa a compaixão de ninguém.