cub_sab1590.jpg

5765.png

 

 

Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

© 2012 Annie West

© 2015 Harlequin Ibérica, S.A.

Remorsos, n.º 1590 - Fevereiro 2015

Título original: Undone by His Touch

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

I.S.B.N.: 978-84-687-6417-7

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Prólogo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Epílogo

Volta

Prólogo

 

– Não podes salvar-me! – o grito ecoou nos ouvidos de Declan, enquanto voltava a olhar para Adrian, que estava pendurado vários metros mais abaixo, no vazio, preso pela mesma corda que ele. – Vai partir-se!

Estavam suspensos a várias centenas de metros de altura, naquele lugar solitário. Estava a levantar-se vento e os nervos do irmão estavam no limite. Adrian, em pânico, desprendera um dos ganchos que os mantinham ancorados à parede.

– Aguenta – Declan ofegou. O coração acelerara, como consequência do último esforço que fizera para o içar.

Esticando o pescoço, olhou para cima, para o apoio de onde tinham caído. Uma chuva de cascalho atingiu-lhe o rosto. A garganta ardia, cada vez que respirava. Arrependia-se de ter feito aquela viagem com o irmão. Esperara que servisse para os unir, para fazer com que Adrian se abrisse enquanto escalavam. No entanto, naquele momento, era a sobrevivência de ambos que estava em jogo.

– Aguenta, Ade! Vai correr tudo bem.

– Bem? – Adrian elevou o tom de voz. – Não me mintas, Declan.

– Quase consegui, da última vez. À terceira é de vez. Vais ver.

Cerrando os dentes, agarrou na corda e puxou-a. Conteve um grito quando a corda lhe magoou as mãos já em carne viva. O pescoço e os ombros doíam-lhe, enquanto suportava o peso dos dois. Era como se a coluna vertebral pudesse partir-se com a tensão.

– Nunca conseguirás. É impossível. E… Sabes? Também não seria assim tão mau – minutos depois, Adrian voltou a falar, num tom que mal se ouvia por cima dos batimentos cardíacos de Declan. – Uma queda será um fim rápido, pelo menos.

– Não… Não vais cair.

– Já pensei nisso. Uma guinada rápida do volante, para a frente de um camião em contramão e… Acabou!

As palavras quase foram abafadas pelos batimentos frenéticos do coração de Declan e a dor nas mãos. O suor toldava-lhe o olhar.

– Não há grande razão para viver.

A voz de Adrian era tão sumida que Declan não sabia se imaginara tudo aquilo. A dor seria capaz de o fazer alucinar?

– Perdi-a. Ela quer um homem rico e triunfante, como tu, e não um perdedor como eu. Abandonou-me!

– O quê?

Tinha de parar, antes de deslocar os braços. O mundo parecia estar reduzido à corda que puxava. Um arrepio de angústia percorreu-o, ao ouvir o tom do irmão, mas estava demasiado cansado para responder. O vento fazia-os balançar. Sentiu o sabor a sangue nos lábios. Mais dois metros…

– Não consigo continuar. Tentei, mas ela é a mulher da minha vida e traiu-me. Isto será o melhor.

– O melhor? – apesar do suor que banhava o corpo de Declan, queimado pelo sol, sentiu um arrepio gelado. – Ade?

Esticando os músculos intumescidos do pescoço, conseguiu olhar para baixo. Uns olhos cinzentos, familiares, encontraram-se com os dele. Dessa vez, não mostravam pânico, mas uma calma estranha que lhe rasgou o coração.

– Assim, um de nós sobreviverá. Não posso continuar sem ela.

Declan susteve a respiração, horrorizado, ao ver que Adrian começara a cortar a corda que os unia.

– Adrian! Não!

– Adeus, Declan!

De repente, o peso que puxava desapareceu. Não houve nenhum grito. Teve a sensação de que decorria uma eternidade até ouvir um barulho apagado de ramos partidos, ao fundo, e perder o irmão de vista.

Capítulo 1

 

Chloe cheirou o monte de toalhas suaves que segurava, enquanto abria a porta da zona da lavandaria e se dirigia para a casa da piscina. Baixou a cabeça e inalou o cheiro a lavanda e a sol. Quando estava bom tempo, costumava usar o estendal, em vez da máquina de secar. Concentrar-se em detalhes tão pequenos e retomar a sua rotina ajudava-a a superar aquela primeira manhã difícil, de regresso a Carinya.

Recusava-se a deixar-se aterrorizar pelas lembranças. O trabalho era demasiado importante e precisava de ter segurança económica, mais do que nunca. Além disso, já não tinha nada a recear. Fora por isso que ignorara a sensação de angústia que a assaltara, quando entrara no quarto da governanta, ou seja, o seu, e recordara a última manhã que estivera lá. E também quando começara a trabalhar e imaginara uma presença, uma cabeça escura a observá-la, mergulhada nas sombras, como acontecera tantas vezes. Mas tudo aquilo pertencia ao passado. Ele fora-se embora, para sempre.

Ao dobrar a esquina da casa, abrandou. Conseguia ouvir alguém, na piscina. Ao ver uma cabeça a emergir da água a cada braçada, o coração acelerou. Não conseguia acreditar naquilo que estava a ver. «Mas, ele está morto!», pensou. Era impossível! Consternada, viu-o a executar uma volta perfeita e a continuar a nadar. Executava a braçada extenuante de mariposa, com a maior facilidade do mundo, enquanto o seu corpo sulcava a água. Chloe apoiou-se na parede, sentindo um nó na garganta, tentando assimilar o que estava a ver.

«Mas, ele está morto… Morto.» As palavras ecoavam no seu cérebro como um mantra. Estava a viver um pesadelo, presidido pelo homem que tanto chegara a recear. Outra volta mas, dessa vez, mudou para estilo livre, acelerando como se tivesse de bater um recorde. Só então é que os olhos estupefactos de Chloe se sobrepuseram à lembrança e detetaram algumas anomalias. Aquele homem parecia ser mais velho. Nadava de uma forma diferente, como se fosse impulsionado por uma força invisível. Era como uma máquina perfeita, cada braçada era um exemplo de fluidez e economia de movimentos.

Nem sequer naquele momento, quando executou outra volta e começou a nadar novamente, abrandou o ritmo. «Ousado, decidido», foram as palavras que vieram à mente de Chloe. O homem de que se recordava fora muitas coisas, mas não decidido. Pelo menos, que tivesse reparado. O nadador chegou ao outro lado da piscina e saiu rapidamente da água. A luz do sol dourou a tez brilhante e bronzeada, desde os músculos poderosos dos braços, até à curva das nádegas. Sentiu falta de ar, enquanto o seu cérebro atordoado registava a plena nudez, ao mesmo tempo que lhe garantia que não podia ser ele. Porque a forma da cabeça era diferente. A estatura. A largura. E aquela virilidade impressionante.

Virou-se naquele momento e ela desviou o olhar, mas não antes de descobrir a cicatriz que lhe percorria a coxa. O alívio deixara-a indisposta. A prudência voltou com um rubor de vergonha, quando percebeu que ficara a observá-lo fixamente. Apressando-se a afastar-se da parede, encaminhou-se com energia para a casa da piscina.

– Quem está aí? – perguntou ele, num tom profundo, sem se virar. Pegou na toalha que estava numa espreguiçadeira e atou-a à cintura, com a indiferença de um homem perfeitamente confortável com a sua nudez.

Renitente, Chloe dirigiu-se para a pérgula coberta de hera, onde ele continuava à espera, enquanto punha os óculos de sol. Não era precisamente aquela a maneira que teria escolhido para conhecer o patrão. Supostamente, as governantas tinham de ser discretas e não violar a intimidade do patrão. A imagem daquele corpo espantoso voltou a aparecer diante dos seus olhos, ao mesmo tempo que experimentava um calor pouco habitual. Parou, ganhando tempo para identificar aquela sensação que há anos não experimentava. Quando o fez, a surpresa deixou-a sem fala.

– Estou à espera.

Chloe deu um passo em frente. Não era o momento de analisar o facto de ter acabado de sentir uma faísca de excitação, pela primeira vez, em seis anos. Ao ver o patrão nu.

– Sou a sua governanta, Chloe Daniels – esperou que ele se virasse. Quando finalmente o fez, Chloe segurou o monte de toalhas com uma mão e estendeu-lhe a outra. Tentou esquecer a maneira como o observara, embevecida, como uma adolescente sedenta de sexo.

Parou à frente dela, coberto unicamente com a toalha e os óculos de sol, exsudando autoridade. Chloe teve de levantar a cabeça para olhar para o rosto dele. Naquele momento, como estava tão perto, percebeu que Declan Carstairs era mais velho, mais forte, mais intimidante que o homem que conhecera e com quem o confundira ao princípio. Contudo, a cor do cabelo e a elegância do corpo eram as mesmas, um traço de família.

Tinha a sombra da barba no queixo, o que lhe dava um certo ar de pirata, mais do que de magnata do mundo dos negócios. Imaginou-o a bordo de um veleiro com mastros altos e uma mulher ao seu lado. Talvez tivesse sido a cicatriz que acabara de descobrir no seu rosto, que conjurara aquela imagem. Como ainda não fora branqueada pelo tempo, atravessava-lhe a face para se curvar para um dos olhos. Tremeu, quando pensou na outra cicatriz que lhe percorria a coxa.

– Não nos conhecemos – indicou, no tom profissional e eficiente de governanta, que aperfeiçoara ao longo dos anos. – Estive…

– Fora – ficou a olhar para ela, sem sorrir, carrancudo.

Chloe não podia sentir-se mais trôpega e incomodada, ainda com a mão estendida para ele. Quando foi evidente que não iria apertá-la, deixou cair o braço, dececionada. Talvez a arrogância fosse outro traço de família.

– Uma emergência de família, não foi? – perguntou, surpreendendo-a.

Não esperava que estivesse tão bem informado, sobretudo, tendo em conta que nunca se tinham visto. Fora a assistente pessoal que a contratara, explicando que o patrão costumava ausentar-se durante vários meses. Carinya era o refúgio da família, nas espetaculares Montanhas Azuis, há gerações, mas ele vivia a leste de Sidney, quando não estava a viajar.

– É verdade, senhor Carstairs. Um assunto de família.

Não se detivera para pensar em nada, na manhã em que abandonara aquela casa. Simplesmente, fizera as malas e apanhara o primeiro comboio. Só o fizera depois, quando, por um estranho acaso do destino, enfrentara não apenas uma crise, mas duas. Pelo menos, uma delas já não existia.

– Mas agora poderemos contar com a sua presença, permanentemente? – e arqueou uma sobrancelha por cima dos óculos de marca.

– Sim, claro. Cheguei há algumas horas. Estarei ao seu dispor, se precisar de mim – Chloe obrigou-se a sorrir, perante a expressão severa.

Se esperara um gesto de simpatia, voltou a ter uma desilusão. A atitude séria devia tê-la deixado nervosa. Contudo, Chloe estava habituada a resistir e a demonstrar o que era capaz de fazer. Continuou a observá-lo, tentando decifrar a expressão dele. A maioria das pessoas costumava dar pistas não-verbais dos seus pensamentos, mas esse não era o caso de Declan Carstairs. Talvez tivesse sido por isso que soubera investir tão bem a fortuna que herdara. No entanto, havia mais alguma coisa. Era desaprovação o que via no rosto dele? Aborrecimento? Empalideceu, ao recordar a maneira como o observara, fixando o olhar naquele corpo nu. Tê-la-ia surpreendido a observá-lo? Um rubor subiu-lhe pelo pescoço e pelas faces.

– Lamento por o ter interrompido. Não sabia que estava na piscina – «nem que estava nu», acrescentou para si mesma. – O senhor Sarkesian deixou uma mensagem, a dizer que passariam a manhã a trabalhar no escritório e que depois me daria instruções. Nunca foi minha intenção…

– David teve de se ausentar, por causa de um assunto inesperado – interrompeu, impaciente. – Mais alguma coisa?

– Não. Ia levar estas toalhas para a casa da piscina. Se desejar alguma coisa…

Viu que ele abanava a cabeça. E esforçou-se para não ficar a olhar fixamente para as gotas minúsculas de água que deslizavam pela musculatura sólida do peito dele. Estava a fazê-lo, outra vez! Não costumava ficar a olhar, embevecida, para os homens atraentes. No entanto, a visão do corpo nu do patrão causara-lhe sensações que esquecera há muito tempo.

– E então? O que espera, menina Daniels? – a sobrancelha preta voltou a arquear-se. – Não quero retê-la mais.

– Claro, senhor Carstairs – tentando sobrepor-se ao desconforto, virou-se para se ir embora. Seguiu em frente, com passo tranquilo, projetando uma calma que estava longe de sentir.

Porque continuava atordoada, de espanto. Primeiro, fora o horror de pensar que o homem que protagonizara os seus pesadelos voltara. Depois, o choque profundo de conhecer Declan Carstairs. Apesar da cicatriz, aquele homem tinha um físico impressionante. E ficara horrorizada ao descobrir a sua própria reação. Tinham passado anos, desde a última vez que se excitara a nível sexual. Tinham-na acusado de frigidez, de ser uma espécie de princesa de gelo.

E agora, sentia atração pelo patrão? Impossível! Nos seus vinte e sete anos de vida, só existira Mark, o único homem capaz de a fazer sentir desejo. Era impensável que Declan Carstairs, rico, implacável e desaprovador, pudesse ressuscitar aquelas sensações. Cerrando os dentes, concentrou-se em tirar as toalhas usadas da casa da piscina.

 

 

Já se dirigia para a casa principal, quando o som de vidro a partir-se fez com que se virasse para a pérgula. Viu Declan Carstairs de pé, paralisado, com um braço estendido sobre a mesa. O chão estava coberto de vidros, do copo que acabara de se partir. Foi a imobilidade estranha que lhe chamou a atenção e não o copo partido, tão perigosamente, perto da piscina.

– Não faz mal, senhor Carstairs, não se incomode. Vou buscar a pá e a vassoura – Chloe apressou-se a entrar na sala da máquina de lavar, pousou as toalhas e pegou naquilo que fora buscar.

Ao voltar, estranhamente, percebeu que o patrão não se mexera. Como se estivesse à espera, para se certificar de que fazia bem o seu trabalho. Trabalhara para homens ricos, alguns exigentes e outros tão distraídos que nem sequer tinham dado pela sua presença. Mas nenhum deles questionara a sua capacidade para fazer uma tarefa tão simples. Baixou-se à frente dele, para apanhar os vidros.

– Será apenas um instante – no entanto, os seus movimentos habitualmente rápidos pareceram tornar-se lentos. Tentou não olhar para aqueles pés fortes e robustos, plantados no ladrilho, com as pernas bem afastadas. Era ridículo que os pés nus de um homem lhe parecessem ser tão sensuais.

– Obrigado, menina Daniels.

Chloe reprimiu uma gargalhada. Tanta formalidade, quando tinha a mente ocupada com imagens inquietantes daquele corpo nu. Ainda bem que ele não conseguia ler os seus pensamentos.

– Acho que está quase… – cerrando os dentes, concentrou-se em localizar os pedaços de vidro que se tinham afastado mais. – Não! Cuidado!

Demasiado tarde, viu que pousara o calcanhar em cima de um vidro, ao virar-se. Ouviu-o a praguejar, enquanto o ladrilho se tingia de vermelho.

– Espere, há outro – Chloe apressou-se a afastar o último vidro. – Já está. Já pode sentar-se na cadeira.

Continuava a erguer-se à frente dela, como um deus de bronze. O calcanhar continuava a sangrar. Finalmente, disse:

– Talvez possa ajudar-me, menina Daniels.

Franzindo o sobrolho, Chloe levantou-se, pousou a vassoura e a pá, e aproximou-se dele. O que quereria que fizesse? De certeza que teria força para percorrer a curta distância que o afastava da cadeira.

– Quer apoiar-se em mim?

Algo parecido com fúria toldou o rosto dele.

– Não é para tanto – declarou, com os dentes cerrados. – Dê-me a mão.

Consternada, obedeceu. Segurou na mão dele, absorvendo o calor e a força dos dedos calejados pelo trabalho. Registou também uma série de cicatrizes na palma da mão. Um arrepio subiu-lhe pelo braço e pelo ombro, até a deixar com pele de galinha. A tensão tornou-se insuportável, enquanto esperava que ele falasse.

Olhava para a boca dele e observou, fascinada, como os lábios sensuais se contraíam numa careta.

– Terá de se sentar, para que eu possa tirar o vidro. Não doerá muito.

A gargalhada rouca e vibrante fez com que Chloe erguesse o olhar até aos óculos escuros, impenetráveis.

– A dor não me preocupa.

– Se não é a dor – Chloe franziu o sobrolho, – então, o que…?

Declan suspirou lentamente, enquanto os dedos ficavam tensos sobre os dela. Quando voltou a falar, havia resignação e uma fúria latente nas suas palavras.

– Faça apenas o favor de me guiar até à cadeira. Pode ser?

– Guiá-lo…?

– Sim, bolas! Não percebeu que está a falar com um homem cego?