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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 1999 Helen Shelton

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Encontro às cegas, n.º 492 - abril 2019

Título original: A Surgeon for Susan

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1328-062-2

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

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Capítulo 1

 

 

 

 

 

 

– Um cirurgião de ortopedia? – consternada, Susan olhou para a sua irmã mais nova. – Annabel, só podes estar tolinha. Insististe em falar comigo, tiraste-me de uma reunião, interrompeste o meu plano de trabalho, só para me falares de um solitário cirurgião de ortopedia?

– Mede um metro e oitenta e cinco – prosseguiu a jovem com uma perseverança irritante. – E a reunião não tinha a menor importância. Tratava-se apenas de um delegado de propaganda médica, segundo me informou a tua secretária. Tem o cabelo escuro e os olhos verdes. É do signo Escorpião…

– Não me interessa o signo do homem – replicou Susan. – Não me faças uma coisa dessas, Annie. Tenho a certeza de que escolheste o homem errado. Sei que só pretendes ajudar-me, mas garanto-te que não vai resultar.

– O que é que tens contra os cirurgiões de ortopedia?

– Não são muito inteligentes. São homens de acção, porém, intelectualmente não têm nada no cérebro. Não é um preconceito. É um facto.

– Escorpião é o signo perfeito para ti – contrapôs Annabel, irredutível, embora a testa levemente franzida denunciasse a sua frustração, perante a falta de entusiasmo de Susan. – Pela primeira vez na tua vida, na tua aborrecida vida, ouve outra pessoa que não seja um dos teus preciosos pacientes. Estás a transformar-te numa moralista.

– Não sou uma moralista! – defendeu-se Susan, chateada ao ouvir as palavras da sua manipuladora irmã, habitualmente mais comedida.

Annabel continuou a ler o anúncio.

– Tem trinta e seis anos e casa própria.

– A minha vida não é aborrecida.

– É, sim. Monótona e aborrecida. Trabalhar, trabalhar e trabalhar. Já imaginaste quantas virgens de trinta e quatro anos vagueiam pelo mundo?

– Imagino que existam umas quantas – respondeu Susan, decepcionada com a opinião da irmã. – Independentemente disso, a minha vida não é aborrecida; aliás, costumo sair de vez em quando.

– Sim, para ires àquelas horríveis conferências com esse tal doutor Dullby Dingbat. Isso não conta. Já para não dizer que esse médico é um fóssil.

– Doutor Duncan Dilly – corrigiu-a Susan num tom ríspido. – É um homem muito amável e admiro-o bastante. É um psiquiatra brilhante e tem uma cultura invejável. No mundo da medicina, os cirurgiões de ortopedia são como os homens de Neanderthal. Lamento imenso, mas é assim. Carecem de inteligência, não sabem conversar nem são gentis. Esquece, Annabel, imploro-te.

– Susie, não podes passar o resto da tua vida na solidão.

– Não me oponho a conhecer alguém interessante – admitiu, ainda que contrariada. O olhar vitorioso da irmã fê-la antever que estava decidida a não desistir. – Está bem, tens razão quando afirmas que não convivo muito com as pessoas, que não tenho uma vida social muito activa. Também é verdade que às vezes me sinto um pouco sozinha – esse era um sentimento que a perseguia há já alguns dias, quando saía do trabalho a altas horas da noite e se arrastava para o seu apartamento vazio. A maior parte dos seus amigos já era casada e tinha filhos. – Está bem, vou pensar no assunto. Espero que seja uma pessoa com quem eu tenha algo em comum; uma pessoa com quem pelo menos possa manter uma conversa decente.

– Primeiro, deixa-me terminar de ler o artigo. Onde é que ia? Nunca foi casado…

– Homossexual.

– Não. Gosta de louras, morenas ou ruivas. Entre os seus passatempos preferidos salientam-se: a navegação à vela, o squash, o mergulho e o râguebi.

– Tendo em conta que os meus passatempos predilectos são: ler, bordar, ver televisão e fazer malha, vejo que temos muito em comum – observou Susan, irónica.

– Não sabes bordar, não vês televisão e a única coisa que fizeste de malha foi um quadrado cheio de buracos, há vinte e cinco anos atrás. Anima-te, Susan. Esforcei-me bastante por conseguir isto.

– Se chamas esforço ao facto de teres trazido um recorte do jornal de…

– Se olhares para a data, vais ver que se trata de um anúncio publicado há três semanas. Desde então, tenho andado muito ocupada. Acredites ou não, esta noite vais conhecer um homem maravilhoso. À saída do metro, na estação de Covent Garden. Procuro uma relação sincera com uma mulher meiga, encantadora e sensível, para fins matrimoniais. É fabuloso, não concordas? E não é nada feio – Annabel remexeu na sua volumosa carteira e, finalmente, encontrou uma fotografia. – Aqui o tens. O que é que achas?

Susan pegou automaticamente nela. Era uma daquelas fotografias instantâneas, ligeiramente desfocada, tirada na praia. Reparou, então, num homem de cabelo escuro e porte atlético, que se encontrava em cima de uma prancha de windsurf.

– É a primeira vez que vejo um cirurgião de ortopedia sem o eterno casaco azul com botões dourados – murmurou e foi obrigada a reconhecer que ele tinha uma excelente aparência física, ainda que não o tivesse comentado. – De qualquer maneira, não estou interessada – insistiu.

Em primeiro lugar, a sua limitada experiência com homens demonstrara-lhe que era imune à virilidade masculina; em segundo, provara-lhe que quando não existia nada em comum, via-se sempre obrigada a lutar por se livrar de um entusiasmado abraço depois de uma noite aborrecida; por último, mostrara-lhe que os homens atraentes tendiam a ser mais insistentes nas suas pretensões sexuais. Em resumo, preferia homens menos perfeitos.

Também não estava nem um pouco preocupada com o facto de continuar solteira. Adorava o seu trabalho e, à excepção de certos momentos de solidão, a psiquiatria preenchia-lhe a vida. No entanto, bem lá no fundo, não podia evitar pensar que o tempo estava a passar. E como albergava a esperança de vir a ser mãe, não duvidava de que ia ter de se esforçar bastante por ter uma vida social mais activa, se queria encontrar alguém especial.

Se por um lado esse seu desejo a impossibilitava de impedir que a irmã prosseguisse com os seus projectos, por outro, impulsionava-a a recusar encontros com homens claramente incompatíveis. Como aquele cirurgião, por exemplo.

Jamais aceitaria que Annabel a obrigasse a ir a um encontro, ainda que sentisse uma certa compaixão por um homem que se via compelido a pôr um anúncio na secção de corações solitários.

– Annabel, realmente não creio que…

– Muito atraente. Olha bem para este peito e para estes músculos. Vá lá, admite-o. Garanto-te que não me importaria nem um pouco de me enroscar neste peito por umas quantas horas, se não fosse tão feliz com o meu marido – retorquiu entusiasmada. – És tão selectiva, Susie. Selectiva e pudica. Deixas passar todas as oportunidades, uma atrás da outra. Há-de chegar o dia em que ninguém vai olhar para ti – acrescentou ao encarar com a expressão de repugnância da irmã.

– Por favor, telefona-lhe e desmarca o encontro.

– Não sei o número de telefone dele e também não consigo localizá-lo na lista telefónica, porque Adam, o nome com que assinou o anúncio, parece ser um pseudónimo. Esta noite vais ficar a saber o seu nome verdadeiro. Levará com ele um chapéu de chuva e o Evening Standard.

– Muito original! Como todos os homens de Londres, a essa hora do dia. Annabel, só podes estar louca! Não irei ao encontro. Irás tu no meu lugar e explicar-lhe-ás que se tratou de um engano e que…

– Susan, não me podes fazer uma coisa dessas – interrompeu-a, alarmada. – Não posso ir! Mike e eu temos uma reunião de pais, no colégio de Em. Para além disso, imagina como é que o desgraçado se vai sentir.

– Não costumam ser pessoas sensíveis – comentou, embora começasse a sentir-se culpada.

– Desde quando é que um homem que escreve algo tão maravilhoso como o que está aqui é insensível?

Susan foi obrigada a reconhecer que não eram palavras típicas de um cirurgião de ortopedia.

– Por favor, não – replicou num tom complacente, ao pensar que poderia ser um marginalizado entre o grupo de ortopedia; um homem que talvez tivesse de esconder os seus sentimentos diante dos seus colegas machistas, algo que caracterizava perfeitamente os médicos da sua especialidade. – Por favor, não me faças sentir culpada – pediu sem demonstrar grande firmeza.

– Só quero que o imagines à tua espera, durante uma ou duas horas, ou talvez até à meia-noite. Milhares de coisas podem passar-lhe pela cabeça enquanto luta contra o desespero e… – retorquiu Annabel, dramatizando a situação.

– Está bem, está bem! Irei ao encontro – Susan acabou por ceder.

– Tenho a certeza de que vais adorar! – exclamou Annabel, e abraçou-a, eufórica. – Esta noite vai ser fantástica para os dois. Vocês foram feitos um para o outro. Verás como tenho razão – acrescentou, e dirigiu-se rapidamente à porta do consultório da irmã.

– Será uma pena, porque não temos nada em comum – sussurrou Susan, preocupada. – Espera! Recordo-me de teres falado algo a respeito de pseudónimos. Qual é o meu?

Gatinha Sensual. E não faças essa cara! Com um anúncio como o dele, tive de procurar um pseudónimo que atraísse a sua atenção. Acredito que tenha recebido centenas de respostas. Pelos vistos, consegui o que pretendia, porque a carta dele revelava um grande interesse.

– Onde é que está a carta?

– Deixei-a em casa, mas dizia que adorava conhecer-te e que tinha gostado muito da tua fotografia.

– Que fotografia?

– Uma que te tirei numas férias, na praia. Bem, agora, vou-me embora. Amanhã quero que me contes tudo, com todos os pormenores. Adeus, minha querida – despediu-se, e encaminhou-se para o elevador.

 

 

– Vértebras cervicais, alienação normal, sem fractura – confirmava Adam, à medida que examinava uma a uma as diversas tomografias e radiografias do seu novo paciente. – Não existe qualquer fractura craniana. Observam-se fracturas nas costelas do lado direito, desde a nona à décima primeira. Drenagem peitoral com escassa massa líquida. Omoplata, ombro, as duas clavículas e o esterno normais. Fractura transversal do úmero direito com ligeiro deslocamento. Membros superiores e o resto da coluna normais. Ruptura completa do borde anterior e posterior da pélvis. Houve algum dano em termos orgânicos?

– A uretrografia e a cistografia revelam bexiga e uretra íntegras – respondeu o assistente, ao mesmo tempo que lhe mostrava os exames para que ele comprovasse os resultados. – Cateterização sem problemas. Não há evidência de danos abdominais ou neurológicos.

Ambos se aproximaram da cama de Tony Dundas e Adam começou a examiná-lo.

– O que é que aconteceu?

– Colisão de uma mota contra um camião – informou o assistente, enquanto Adam apalpava o abdómen do jovem que jazia inconsciente. – Foi lançado a vários metros de distância e caiu sobre as costelas do lado direito.

– Ausência de hemorragia intercraniana; drenagem peitoral, como podes observar; pequeno hematoma na parte direita do tórax. Obstrução sanguínea abdominal negativa – comunicou rapidamente Lawrence Noble, o médico anestesista que trabalhava na equipa com Adam, na unidade de traumatologia do hospital St. Martin´s, em Londres.

– Muito bem – assentiu Adam. – É todo nosso. Vamos estabilizar a pélvis e tratar das fracturas – disse, depois de examinar minuciosamente o paciente. – O que é que se passa, Chris?

Christopher McInnes, um jovem médico, adjunto e assistente de Adam, não hesitou em responder:

– O outro cirurgião está disponível. Não conseguimos comunicar-nos pessoalmente com a família, mas o pai dele enviou-nos a autorização por fax e a administração aceitou.

– Nesse caso, vamos em frente – afirmou Adam.

Eram três da tarde e Adam queria aproveitar a disponibilidade do seu colega, algo que raramente sucedia àquela hora do dia. Se iniciassem a operação de imediato, terminariam pouco depois das seis, hora a que os cirurgiões de plantão faziam um intervalo para praticarem intervenções de urgência.

– Adam, podemos falar em privado antes de te ires embora?

– Larry, já te disse que não estou interessado nesse assunto. Esquece.

Para além de colega, Lawrence Noble era seu cunhado.

– Acontece que ela vai estar à tua espera – protestou Lawrence. – A Bárbara organizou tudo. Marcou o encontro na estação de metro de Covent Garden. Às oito horas. Agora, não podes voltar atrás.

– Nunca concordei com tudo isto e nunca disse que queria conhecê-la. Pode até ser a mulher mais fabulosa do mundo, não quero saber, Larry. Estou demasiado ocupado.

– Adam, não me faças uma coisa dessas. A Bárbara não pára de falar no que vai acontecer esta noite. Se regresso a casa com a notícia de que a deixaste à espera, ela mata-me. A verdade é que «quem cala, consente», o que significa que concordaste. Há meses que sabes o que a tua irmã anda a engendrar e permitiste-lhe que prosseguisse com toda esta história.

– Não te vai matar. E a única razão que me impediu de detê-la, foi pensar que desse modo estaria quieta durante pelo menos cinco minutos. Com uma mulher como a tua, qualquer homem no seu perfeito juízo teria feito o mesmo. Jamais me passou pela cabeça que chegaria ao ponto de escolher uma pobre mulher…

– Vá lá, é médica.

– Que tipo de médica? – inquiriu, franzindo o sobrolho.

– Bem, é… psiquiatra.

– Larry…

– Está bem, está bem; porém, lembra-te de que um psiquiatra também é um médico. E garanto-te que ela…

Adam virou-se ao ouvir alguém tossir discretamente mesmo atrás de si. Era Margaret, a enfermeira chefe da unidade de traumatologia.

– Adam, lamento interromper – desculpou-se com um sorriso malicioso, que indicava que tinha ouvido pelo menos parte da conversa. – Podes assinar isto, por favor? Pessoalmente, julgo que o encontro às cegas com a psiquiatra é uma ideia fantástica – acrescentou, ao mesmo tempo que lhe entregava um relatório.

– Obrigado – agradeceu, olhando para o tecto com uma expressão de mártir, antes de assinar o documento. – Por simples curiosidade, Margaret, o que é que pensas a respeito de tudo isto?

– É muito egoísta. Fico doente quando vejo todas as minhas enfermeiras de queixo caído sempre que circulas por aí. Não garanto que todas soubessem comportar-se, caso te casasses, mas tenho a certeza de que isso iria contê-las. Na minha opinião, quanto mais cedo o fizeres, melhor.

Desejo uma relação sentimental divertida e apaixonante, sem perspectivas concretas, aberta ao que possa vir a suceder. Gatinha Sensual.

– É só um pseudónimo, Adam – interveio Lawrence. – É normal utilizá-lo nestas circunstâncias.

– Pareces perito no assunto.

– Não. Foi a Bárbara quem mo explicou. Sabe tudo acerca da redacção deste tipo de anúncios. O que escreveu por ti estava simplesmente fantástico.

– Mostra-mo.

– Não o tenho comigo.

– O que é que dizia?

– Continha apenas uma descrição básica. Estatura, cor do cabelo, idade, passatempos preferidos, enfim, o habitual.

– Isso é tudo?

– Virtualmente tudo. Obteve centenas de respostas. Contudo, esta foi a melhor e, Gatinha Sensual, é sem dúvida alguma a mais original de todas. Para além maravilhosa, é médica. Por isso, não vos vai faltar tema de conversa.

– É psiquiatra – lembrou-lhe Adam.

– Médica, independentemente da especialidade. De qualquer forma, tendo em conta a sorte que tens, algo me diz que não irão falar demasiado.

Adam franziu o sobrolho.

– Larry, esta não é…

– Às oito horas. Na estação de metro de Covent Garden. Chapéu de chuva preto. Evening Standard debaixo do braço. Vai estar à tua espera. Tens de me prometer que amanhã me contas todos os pormenores. Ah! Não te esqueças de que amanhã de manhã temos uma operação. Queres que te acorde? – perguntou, descendo apressadamente as escadas.

– Não será necessário – retorquiu o cunhado, impaciente.

Adam ainda não tinha encontrado uma mulher capaz de distraí-lo do seu trabalho e embora esta fosse muito atraente, não via razão alguma para acreditar que desta vez as coisas iam ser diferentes.